Como será a cerimônia de posse do presidente dos EUA
Evento será diferente este ano, por conta da pandemia da covid-19 e chances de ataque extremista contra o democrata Joe Biden
Internacional|Giovanna Orlando, do R7
Nesta quarta-feira (20), o democrata Joe Biden será empossado presidente dos Estados Unidos, depois de uma eleição conturbada e tentativas do agora ex-presidente Donald Trump de se manter na Casa Branca.
As eleições começaram polêmicas, com votos antecipados e Trump se recusando a aceitar a derrota. Biden conseguiu feitos inéditos, como vencer em estados historicamente republicanos, como a Geórgia.
Apesar das crítica de Trump ao sistema eleitoral, Biden foi confirmado como 46º presidente dos EUA pelo Colégio Eleitoral e pelo Senado, mesmo depois que uma invasão ao Capitólio por parte de apoiadores de Trump que atrasou a cerimônia por horas. O ataque extremista deixou 5 mortos e há duas semanas, soldados da Guarda Nacional transbordam pela capital para impedir mais atos violentos.
É nesse clima de apreensão e medo de novos ataques e uma pandemia que infecta mais de 60 mil pessoas por dia no país que Biden assumirá o cargo de presidente do país mais rico e poderoso do mundo.
Por conta da covid-19, não haverá grandes aglomerações na frente do Capitólio como em anos anteriores. Durante a cerimônia de posse de Obama, de quem Biden foi vice, em 2009, cerca de 1,8 milhão de pessoas assistiram ao discurso do democrata. Neste ano, milhões de americanos terão que acompanhar a cerimônia pela internet ou pela televisão.
Mesmo com as restrições e os cuidados extra contra a pandemia e novos ataques, o evento vai acontecer normalmente e Biden já disse que não tem medo de uma cerimônia ao ar livre.
A cerimônia de posse nos EUA
A posse do presidente tem duas etapas: uma fora do Capitólio, onde acontece o discurso direcionado à nação, e outra diante dos congressistas, onde o novo presidente faz o juramento. Como em anos anteriores, toda a cerimônia é transmitida ao vivo.
Segundo o professor de Relações Internacionais da USP, Felipe Loureiro, os discursos presidenciais são extremamente importantes. “Eles apontam as diretrizes do governo, tem diversos discursos que foram históricos”, diz.
Neste ano, o discurso de Biden também pode entrar para a história, dado o contexto no qual o democrata se torna presidente. “Esse é um momento catastrófico para os Estados Unidos, com pandemia, crise econômica, ameaças à democracia”, analisa o professor.
Depois do discurso, o presidente cumprimenta o líder que está deixando o cargo. Neste ano, essa parte da cerimônia será adaptada, já que o presidente Donald Trump já antecipou que não vai comparecer à cerimônia de posse de Biden.
“Não ter um presidente participando da cerimônia de transferência de poder é um fato bastante impactante”, explica Loureiro. Apesar disso, a notícia da ausência de Trump não é surpreendente, “tendo em vista o que aconteceu e a maneira como ele não concordou com o resultado e veio conclamando uma revolução”.
Nos EUA, não existe uma lei que obriga os presidentes que deixam o cargo a participarem da cerimônia dos novos eleitos, mas é tradição. “Simboliza uma transição pacífica de poder entre governos. Todos os presidentes do século 20 e 21 participaram da posse dos sucessores, mesmo sendo grandes rivais. É importante destacar que eles são adversários políticos, mas não inimigos”, esclarece o professor.
Dentro do Capitólio, o presidente faz o juramento na frente dos congressistas. Nessa hora, ele promete respeitar a Constituição americana e proteger a democracia.
Uma parte simbólica da cerimônia é a visita do presidente e vice à Tumba do Soldado Desconhecido, no Cemitério Nacional em Arlington. Para acompanhar Biden e Kamala Harris, estarão os ex-presidentes Barack Obama, George W. Bush e Bill Clinton. Jimmy Carter, de 96 anos, anunciou que não vai participar da cerimônia, a primeira que ele vai perder desde 1977.
A tumba é importante porque “honra todos os americanos que lutaram pelos EUA para que eles continuassem um país livre”, explica o professor. O monumento é uma homenagem a todos os militares que morreram em algumas das guerras travadas pelo país e que não puderam ser enterrados no país natal.
Mesmo com a ausência do presidente, o vice Mike Pence anunciou que vai comparecer à cerimônia de posse de Biden. Depois de “4 anos bastante submisso a Trump”, o republicano tem se afastado das ideias e do discurso do presidente nas últimas semanas.
A ida de Pence à cerimônia “legitima a vitória democrata”, que foi tão questionada pelo presidente e por milhares de apoiadores de Trump, avalia o professor.