Como um pequeno caracol pode ser a chave para curar doenças oculares em humanos
Estudo com caracóis-maçã-dourados revela capacidade de regeneração ocular e semelhanças genéticas com pessoas
Internacional|Do R7
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Um pequeno caracol de água doce, conhecido como aruá ou caracol-maçã-dourado (Pomacea canaliculata), pode ser a nova esperança para desvendar tratamentos para doenças oculares em humanos.
Originário da América do Sul, esse molusco, que se tornou uma praga em regiões agrícolas pelo mundo, surpreendeu cientistas com sua capacidade de regenerar olhos completos em poucos meses.
Um estudo publicado na revista Nature Communications na última quarta-feira (6) revela que os olhos desses caracóis têm semelhanças anatômicas e genéticas com os olhos humanos, o que pode revolucionar a pesquisa em oftalmologia.
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Diferentemente dos olhos humanos, que são frágeis e não se regeneram após lesões, os olhos dos aruás são verdadeiras “câmeras de alta resolução” com uma habilidade impressionante: voltam a crescer após serem amputados.
Em experimentos, pesquisadores observaram que, em menos de um mês, o caracol regenera um olho funcional, que se integra completamente ao cérebro em cerca de três meses, restaurando a visão.
“Fizemos um trabalho extenso para mostrar que vários genes envolvidos no desenvolvimento ocular humano também estão presentes no caramujo. Após a regeneração, o novo olho é praticamente idêntico ao original, tanto na estrutura quanto na expressão genética”, disse a bióloga Alice Accorsi, da Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos.
Gene em comum
A chave para essa descoberta está no gene PAX6, essencial para a formação dos olhos tanto em humanos quanto em caracóis. Usando uma técnica de edição genética, os cientistas desativaram esse gene em aruás, resultando em caracóis sem visão.
Sem o PAX6, os moluscos não desenvolveram olhos e apresentaram dificuldades para se mover ou encontrar comida, ficando imóveis no fundo do tanque. Curiosamente, quando alimentados à mão com alface, eles cresceram normalmente, sugerindo que o gene também pode influenciar o desenvolvimento do cérebro.
Por que isso é importante?
A semelhança entre os olhos dos caracóis e dos humanos, aliada à capacidade de regeneração, torna esses moluscos um modelo promissor para estudos sobre o desenvolvimento ocular.
“Os caracóis possuem estruturas como córnea, lente, retina e células fotossensíveis, assim como nós. Entender como eles regeneram seus olhos pode nos ajudar a descobrir como reparar lesões ou tratar doenças como a degeneração macular”, disse Accorsi.
Embora as descobertas não tragam curas imediatas, elas abrem caminhos para compreender os “interruptores moleculares” que controlam a regeneração.
“É como decifrar a partitura musical da regeneração. Precisamos entender quais genes são ativados e como, para talvez um dia ‘ligar’ esses mesmos mecanismos em humanos”, disse Alejandro Sánchez Alvarado, biólogo do Instituto Stowers de Pesquisa Médica, onde parte do estudo foi conduzido.
Modelo de laboratório revolucionário
Accorsi, que começou a estudar os caracóis enquanto fazia pós-graduação na Itália, ficou fascinada pela resiliência do aruá, uma espécie invasora capaz de prosperar em diversos ambientes. “Você podia comprá-los em lojas de aquários como limpadores de tanques”, lembra ela.
Essa adaptabilidade, somada à capacidade de regeneração, levou a pesquisadora a transformá-los em um organismo-modelo para estudos genéticos, algo que, segundo Sánchez Alvarado, é um feito comparável a “pousar na Lua”.
Os próximos passos da pesquisa incluem investigar se o PAX6 também atua na regeneração ocular e identificar outros genes envolvidos. Além disso, os cientistas querem desenvolver testes para confirmar se os caracóis regenerados conseguem processar imagens como faziam antes.
“Ainda não temos provas de que eles enxergam imagens, mas eles têm todos os componentes para isso. Estamos trabalhando para comprovar”, disse Accorsi.
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