Dúvidas e contradições nas informações sobre o ataque a um shopping no Quênia
Internacional|Do R7
Javier Marín. Nairóbi, 24 set (EFE).- A informação das instituições públicas quenianas sobre o ataque terrorista a um shopping de Nairóbi provocou enormes dúvidas de credibilidade, pela contradição entre as diferentes fontes e do aparente descompasso com a realidade. O caso mais marcante certamente foi o da enorme coluna de fumaça preta que durante dois dias saiu do telhado do edifício. A versão oficial, dada em entrevista coletiva pelo ministro queniano do Interior, Joseph Ole Lenku, era de um incêndio provocado pelos terroristas para distrair os soldados e tentar escapar e que para isso tinham queimado "cobertores e colchões". O certo é que, segundos antes de a fumaça aparecer, todos os jornalistas instalados em um centro religioso vizinho ouviram três fortes explosões vindas do interior do edifício tomado pela milícia somali Al Shabab. Horas mais tarde, já de madrugada, um soldado dizia que as explosões foram causadas pelo suicídio de um dos atacantes e que partes do teto do shopping tinham afundado. A explosão e o incêndio aconteceram ao meio-dia local e, sete horas mais tarde, o Centro de Operação de Desastres (KNDOC) - organismo que coordena a resposta a catástrofes - garantiu que já havia sido extinto. Mas do centro de imprensa a coluna de fumaça era perfeitamente visível, mesmo à noite, e os bombeiros continuavam trabalhando. A própria coletiva despertou dúvidas. Nela, o ministro assegurou que o exército tinha o controle total da situação, mas só dominava o porão de um edifício de quatro andares e grandes dimensões, revelou depois. Também disse que a maioria dos reféns estava a salvo, mas não soube informar quantos nem o estado de saúde, circunstância até hoje desconhecida. Várias vezes o porta-voz reforçou na reunião, coberta por jornalistas de todo o planeta, pediu à imprensa que não dessem importância à informações não oficiais nem divulgassem rumores. Os únicos dados oficiais apresentados antes da coletiva foram informados pelo vice-presidente da Câmara de Comércio do Quênia e um sacerdote. A confusão, e principalmente as dúvidas, eram elevadas. As contradições continuaram a madrugada passada. O exército avançou posições e, segundo o Ministério do Interior, tomou o controle "total" do centro comercial. O KNDOC se apressou a anunciar no Twitter que o ataque tinha terminado, mas as Forças Armadas advertiram que ainda havia o que fazer e pediam paciência. Enquanto isso, no shopping, os disparos continuavam. Durante a tarde, o Centro de Desastres anunciava que a polícia queniana tinha assumido a operação e que os soldados voltavam aos quartéis. Ao mesmo tempo, mais disparos, uma nova explosão e soldados distribuídos por todo o edifício, pôde comprovar a Agência Efe. Entre tiros e explosões, a polícia do Quênia comunicava aos proprietários dos carros abandonados nas imediações do centro que podiam retornar por eles. Durante as 72 horas que durou o assalto, quase o único ponto de convergência entre as várias fontes oficiais foi o anúncio do fim do sequestro. Em um discurso televisionado à nação, o presidente do Quênia, Uhuru Kenyatta, fez este anúncio e informou que além dos cinco assaltantes mortos, 61 civis e seis soldados quenianos morreram e 62 pessoas continuam hospitalizadas.EFE jmc/cd