Em tribunal, Harry diz ter sofrido com tabloides e critica ligação entre mídia e governo britânico
Príncipe e outras celebridades movem processo contra publicações do Reino Unido por suposta espionagem ilegal
Internacional|Do R7
O príncipe Harry se tornou, nesta terça-feira (6), o primeiro membro da realeza britânica a testemunhar em um tribunal em um século, ao explicar o "sofrimento" causado por centenas de artigos em um jornal sensacionalista, o qual acusa de ter coletado informações sobre ele de forma ilegal.
O filho caçula de Charles 3º começou a dar o testemunho ante a Alta Corte de Londres, onde acontece, desde 10 de maio, processo contra o MGN (Mirror Group Newspapers).
Harry, dois atores de televisão e a ex-esposa de um comediante acusam este grupo, editor do jornal Mirror e da revista Sunday People, entre inúmeras publicações, de obter detalhes sobre suas vidas entre 1996 e 2011 por meio de métodos ilegais, incluindo invasão de celulares.
“Mais de milhares, talvez milhões de artigos foram escritos sobre mim desde que eu tinha 11 anos”, lembrou, apesar de, neste caso, o juiz analisar apenas 33 deles.
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O príncipe também denunciou "a invasão da imprensa durante a maior parte da minha vida até o dia de hoje".
“Cada um desses artigos me causou sofrimento”, declarou, citando informações que, às vezes, remontam a mais de 20 anos e que ele admitiu não recordar com precisão.
"Quando criança, cada um desses artigos era uma distração enquanto crescia", insistiu ele, relembrando que informações sobre questões tão delicadas como a reação ao divórcio dos pais, o então príncipe Charles e a agora falecida princesa Diana, "estavam em todos os palácios."
"Outras pessoas, amigos, colegas de escola liam as matérias e seu comportamento mudava", disse ele com voz tímida e hesitante.
Ele contou, ainda, que isso deixou-o "paranoico" em suas relações, desconfiando de qualquer pessoa que pudesse fornecer informações sobre ele, e levou-o a reduzir seu círculo de amizades.
Embora achasse "difícil acreditar como (o jornal) teria conseguido (algumas informações) de outra forma", para além de "hackear" suas mensagens telefônicas, ele não conseguiu fornecer provas sobre essas acusações.
Da reação ao divórcio dos pais, aos problemas de saúde e ao consumo de drogas, foi questionado um a um sobre os 33 artigos pelo advogado do MGN, Andrew Green. Harry teve de reconhecer que muitas dessas informações também foram publicadas por outros jornais e que não podia atribuí-las diretamente à invasão do celular.
Relações tensas
Para ele, a reputação do Reino Unido foi prejudicada pelos laços entre a mídia e o governo.
“Nosso país é julgado globalmente pelo estado da nossa imprensa e do nosso governo, e acho que ambos estão no nível mais baixo”, afirmou.
“A democracia fracassa quando a imprensa não escrutina, nem exige responsabilidades do governo e, em vez disso, escolhe ir para a cama com eles para garantir o status quo”, acrescentou.
O duque de Sussex não voltava ao país desde a cerimônia de coroação do pai, em 6 de maio, à qual compareceu sem a esposa, a atriz americana Meghan Markle. Partiu logo após o evento, retornando para os EUA, onde o casal mora desde 2020.
A declaração nesta terça-feira é a primeira de um membro da realeza britânica desde Edward 7º, que testemunhou em um julgamento por difamação em 1891, antes de assumir o trono.
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No início do processo, em maio, o MGN reconheceu "alguns indícios" da coleta ilegal de informações sobre Harry em uma única ocasião, pediu desculpas e garantiu, à época, que "essa conduta não se repetirá".
O advogado do grupo de mídia, Andrew Green, negou, no entanto, que as mensagens de correio de voz tenham sido interceptadas e argumentou que algumas ações foram movidas tarde demais, décadas depois dos supostos eventos.
Harry já apareceu de surpresa em um tribunal de Londres em março, em outro processo por violação de privacidade movido por várias celebridades – como o cantor Elton John – contra o grupo Associated Newspapers Ltd, editor do jornal Daily Mail. Mas ele não falou no julgamento, apenas apresentou um testemunho por escrito.
O príncipe, quinto na linha de sucessão ao trono, e sua esposa mantêm relações muito tensas com a imprensa.
Há algumas semanas, ambos relataram que sofreram uma perseguição de carro "quase catastrófica" por parte de paparazzi nas ruas de Nova York. As autoridades locais minimizaram o episódio, que lembrou o acidente de trânsito de 1997, em Paris, que matou a mãe de Harry, a princesa Diana, enquanto era perseguido por fotógrafos.
O príncipe acusou recentemente outros membros da monarquia britânica de conluio com a imprensa.
Em documentos apresentados aos tribunais em abril, afirmou que a família real havia chegado a um "acordo secreto" com um editor para evitar que qualquer um dos membros tivesse que depor. Isso o impediu, alegou Harry, de entrar com uma ação enquanto fazia parte da realeza.
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