Entenda impasse para exportação de grãos entre Rússia e Ucrânia
Governos de todo o mundo tentam criar canal seguro para que Kiev consiga escoar produção de cereais pelo mar Negro durante a guerra
Internacional|Lucas Ferreira, do R7, com informações da AFP
Desde o início da guerra entre Rússia e Ucrânia, a exportação de grãos esteve no centro das discussões internacionais sobre o impacto do conflito para o restante do planeta. Isso porque os países de Vladimir Putin e Volodmir Zelenski são os maiores exportadores de cereais em todo o mundo.
Além de causar o desabastecimento de mercados de diferentes continentes, como Europa e Ásia, a interrupção do envio de grãos ucranianos para a África impactou na produção de alimentos usados para combater a fome em países da região.
Putin foi amplamente atacado por líderes ocidentais com esse argumento, uma vez que as tropas russas no mar Negro controlavam os principais portos da Ucrânia e bloquearam a passagem dos cereais, o que lotou os silos do país.
Um acordo entre Rússia e Ucrânia foi celebrado em julho para permitir a passagem de navios com os grãos. Mediado pela Turquia, o acordo previu que as embarcações passaram então a ser fiscalizadas pelos países em guerra, além de por representantes da ONU, e liberadas em seguida para os destinos finais.
Entretanto, no último dia 29, a Rússia suspendeu o acordo após navios do país serem atacados na Crimeia, episódio que Moscou creditou à Ucrânia e ao Reino Unido. No meio desse imbróglio, está em jogo a segurança alimentar mundial e uma das poucas negociações bem-sucedidas entre os governos de Putin e Zelenski.
Apelo mundial
Na última semana, líderes mundiais ocidentais reforçaram, mais uma vez, a importância de a Rússia liberar o tráfego de grãos escoados pela Ucrânia.
Os Estados Unidos acusaram a Rússia de “transformar os alimentos em armas e de impactar diretamente as nações necessitadas”. Posteriormente, o presidente norte-americano, Joe Biden, disse que a decisão russa de bloquear a exportação de grãos era “ultrajante”, reforçando as aspas publicadas pelo próprio governo.
O ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, Dmytro Kuleba, afirmou que Moscou estava usando um “falso pretexto” para desmanchar o acordo. A ONU, por sua vez, ressaltou ser vital que “todas as partes se abstenham de qualquer ação que possa pôr em risco” um acordo que tem “impacto positivo” para o planeta.
Na última quarta-feira (2), a Rússia retornou ao acordo de grãos após receber “garantias por escrito da Ucrânia” sobre a desmilitarização do corredor seguro para o escoamento de cereais, segundo o Ministério da Defesa de Moscou.
“A Rússia considera que as garantias que recebeu até agora parecem suficientes e retoma a aplicação do acordo”, informou por meio de nota o governo russo.
Avanços em risco
Apesar de a Rússia voltar a permitir a exportação segura de grãos, o acordo vigente com a Ucrânia, Turquia e ONU expira no próximo dia 19. Moscou já anunciou publicamente que não sabe se irá estender o pacto, o que causaou temor mundial sobre o aumento do preço dos grãos, novamente.
“Antes de decidir se continuaremos, será necessário fazer uma avaliação”, explicou o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov. “O envolvimento da Turquia foi o principal fator de confiança. O trabalho de Ancara e seus militares, diplomatas e o papel pessoal do presidente [Recep Tayyip] Erdogan são muito apreciados".
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Os países do G7 pediram à Rússia, na última sexta-feira (4), que estenda o acordo sobre as exportações de grãos ucranianos, informou à agência AFP um diplomata norte-americano, que pediu para não ser identificado.
"Todos concordam com a necessidade de prolongar o acordo de grãos" que transitam pelo mar Negro, declarou o diplomata a repórteres, à margem de uma reunião dos ministros das Relações Exteriores das economias mais avançadas em Munster, na Alemanha.
Nos próximos dias, o assunto deve ser amplamente debatido nas mesas de negociação entre russos e ucranianos, além de pauta na reunião do G20, que acontecerá em Bali, na Indonésia, nos dias 15 e 16 de novembro.