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Europa enfrenta resistência da população para combater a Covid

Movimentos antivacina, retomada das atividades sociais e chegada do inverno colocam autoridades na parede contra o coronavírus

Internacional|Lucas Ferreira, do R7

Itália registrou protestos contra passaporte sanitário imposto pelo governo
Itália registrou protestos contra passaporte sanitário imposto pelo governo

A Europa voltou a ser o epicentro da pandemia do novo coronavírus com o aumento do número de casos de Covid-19 em diferentes países espalhados por todo continente. Da Rússia à França, nações tomam medidas para frear a disseminação do vírus entre as populações.

Os governos nacionais correm contra o tempo para diminuir a curva de contaminação antes da chegada do inverno, no final de dezembro. Com o frio e as festas de fim de ano em locais fechados, o cenário para as autoridades europeias parece sombrio.

Além das reuniões sociais em ambientes sem tanta circulação de ar, o professor do Instituto de Medicina Social da Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro) Mario Dal Poz alerta para o movimento antivacina — popularmente chamado de antivax — na Europa.

“O movimento antivax existe na Europa há algum tempo associado, ou não, aos movimentos contra ações do Estado. Isto é, ele tem um aspecto político em relação ao Estado ter controle ou não sobre a ação das pessoas”, conta Dal Poz em entrevista ao R7.


Apesar da Europa ter sido o primeiro continente a vacinar em massa contra o novo coronavírus, alguns países, como a Croácia, Polônia, República Tcheca e Ucrânia têm população com ciclo vacinal completo inferior aos 60,4% do Brasil — reconhecido mundialmente pela sua eficácia em campanhas de imunização nacional.

“A vacinação cria uma barreira, mas que não é intransponível. Nenhuma vacina, nem mesmo as mais eficazes, protegem 100%. Neste caso [o aumento do número de casos] é uma associação do coletivo e do individual.”


Outro fator determinante para o número de casos é a queda da proteção da vacina a partir do momento em que ela é aplicada. Alemanha, Espanha, França e Itália estão acelerando a distribuição da terceira dose para a população com o objetivo de aumentar o nível de proteção antes da temporada de festas de dezembro.

Novas variantes

Nova variante identificada na África do Sul causa medo à Europa
Nova variante identificada na África do Sul causa medo à Europa

A disseminação em massa do vírus entre a população europeia, além de elevar o número de casos e óbitos, pode trazer um terceiro fator negativo: as novas variantes. Mais transmissíveis ou mortais, as mutações do vírus podem até driblar o poder imunológico das vacinas produzidas até este momento.


“A vacinação lenta cria as condições do aparecimento de variantes. Isto é Darwin puro! Sobrevivem aqueles que são mais fortes. Então, a variante que consegue ultrapassar a vacinação, vai sobreviver. Sendo assim, quanto menos variantes permitimos aparecer, maior a chance de que a pandemia desapareça”, explica Dal Poz.

A variante B.1.1.529, denominada nesta sexta-feira (26) pela OMS (Organização Mundial de Saúde) como "Omicron", foi detectada incialmente na África do Sul e traz indícios de que pode driblar parte dos imunizantes produzidos até então para o combate à Covid-19. Mais contagiosa que a delta, a mutação está nos holofotes dos cientistas.

“Essa variante pode não só ter uma capacidade de transmissão aumentada, mas também ser capaz de contornar partes do nosso sistema imunológico”, disse o pesquisador Richard Lessells em entrevista à agência AFP.

Na tentativa de conter a transmissão desta nova variante, o Reino Unido fechou as fronteiras com países do continente africano que podem ter a B.1.1.529 se espalhando pela população. A União Europeia também estuda medidas restritivas contra viajantes do sul da África.

“O aumento da mobilidade global tornou todos os países mais vulneráveis. [...] As pessoas se movem pelas estradas, andam de avião, e essa mobilidade cria as condições de circulação do vírus também. As pessoas se deslocam mais rapidamente tornando mais difícil contornar [o vírus].”

Medidas restritivas na Europa

Austríacos protestam contra vacinação obrigatória no país
Austríacos protestam contra vacinação obrigatória no país

A OMS estima que a Europa possa chegar aos 500 mil mortos até março de 2022 caso não consiga frear a escalada do coronavírus no continente. A previsão preocupante da organização fez com que os países retomassem medidas restritivas rígidas.

A Alemanha, por exemplo, exigirá passaportes sanitários para que as pessoas andem em transportes públicos, enquanto a Áustria aplicará a partir de fevereiro de 2022 multas de até R$ 25 mil para os não vacinados que vivem no país.

Esse movimento das autoridades europeias é visto por parte da população como uma interferência governamental além do aceitável, gerando protestos em diversos países da Europa contra estes passaportes sanitários. Para Dal Poz, o isolamento social é uma das medidas restritivas vitais para conter o vírus e exige a cooperação da população.

“A dificuldade da Europa nesse momento é permanecer nas ruas. Nós aqui no Brasil não temos o inverno rigoroso, então a nossa vida é externa. A Europa não, a vida é dentro de casas, instituições.

Vacinação na Rússia

Rússia apresenta taxa de imunização abaixo dos 40%
Rússia apresenta taxa de imunização abaixo dos 40%

Parceira econômica do Brasil no Brics, a Rússia tem um dos menores índices de imunização do continente, com apenas 38,1% da população possuindo o ciclo vacinal completo. Os números contradizem as ações da nação na pandemia, que além de desenvolver uma vacina própria — Sputnik V —, ainda foi pioneira na aplicação das doses contra Covid-19, em dezembro de 2020.

Para Dal Poz, este pode ser um indicador que mostra a ineficácia da Rússia na produção de vacinas em massa, além da falha na distribuição dos imunizantes e na capacidade de convencer os habitantes do país da validade da Sputnik V.

“Eu não creio que lá tenha um movimento antivax, parece ser mesmo a dificuldade tecnológica — no caso a dúvida sobre a eficácia da vacina — e a capacidade de produção do imunizante e disseminação, já que eles não estão comprando de ninguém.”

A dúvida sobre a eficácia da Sputnik V está na cabeça dos russos, que passaram a fazer viagens para outros países em busca de outros imunizantes contra a Covid-19. O imunizante russo do instituto Gamaleya continua em fase de aprovação pela OMS.

O que o Brasil pode aprender com o surto na Europa?

Brasileiros aderiram à campanha de vacinação contra Covid e viram casos e mortes caírem
Brasileiros aderiram à campanha de vacinação contra Covid e viram casos e mortes caírem

A familiaridade do brasileiro com campanhas de vacinação em massa fez com que a população aderisse assiduamente ao processo de imunização contra a Covid-19. O impacto disso foi a queda do número de mortes e casos diários nos últimos meses.

Entretanto, Dal Poz destaca que o povo brasileiro precisa aprender com os europeus e não normalizar o alto número de mortes e casos diários que o país continua a registrar.

“Começou a subir o número de casos na Europa e a população não aceita. A sociedade, como um todo, não aceita esse número de óbitos. Há cobranças e os governos acabam agindo sobre isso.”

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O professor da Uerj também destaca que uma boa coordenação política para enfrentar esta crise sanitária, além da cooperação da população, são os pontos chaves para que o Brasil não enfrente um problema parecido ao atual cenário europeu.

“A gente tem hoje fake news, desinformação, desmobilização. [...] Precisamos aprender que o controle dos espaços coletivos é central no processo [para superar a pandemia]”, conclui Dal Poz.

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