França desiste de aumento de imposto sobre combustíveis
Orçamento do país perderá 4 bilhões de euros (R$ 17 bilhões) com decisão tomada após semanas de protestos dos 'coletes amarelos'
Internacional|Cristina Charão, com Reuters
O governo da França desistiu de vez do aumento dos impostos sobre combustíveis previsto para 2019. As novas taxas foram retiradas da previsão orçamentária para o ano que vem. As tarifas provocaram revolta entre os franceses, levou ao surgimento do movimento dos "coletes amarelos" e afetou diretamente a figura do presidente Emmanuel Macron.
Na terça-feira (4), o primeiro-ministro francês havia anunciado que o governo suspenderia a entrada em vigor do pacote de medidas ambientais, que incluía o aumento dos impostos sobre combustíveis, por seis meses.
"O governo está pronto para o diálogo e mostrando isso porque este aumento de impostos não estará no orçamento para 2019", disse o primeiro-ministro, Edouard Philippe, no Parlamento.
De acordo com o ministro do Orçamento, Gerald Darmanin, ao desistir da nova tarifa o governo está abrindo mão de cerca de 5 bilhões de euros (R$ 17 bilhões). Em entrevista à Rádio France International, Darmanin afirmou que não há como não reconhecer que a situação do país é grave.
Novos protestos
Repetindo um apelo feito por Macron na quarta-feira (5), o ministro pediu que os franceses "sejam razoáveis" durante os protestos que já estão marcados para o final de semana. O governo teme que os episódios de violência entre policiais e manifestantes registrados nos dia 1 de dezembro se repitam.
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Os distúrbios acontecem após a OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) apontar que a França se tornou o país com maior carga de impostos no mundo desenvolvido, ultrapassando inclusive a Dinamarca, conhecida por sua alta carga tributária.
No entanto, protestos de estudantes e greves planejadas de sindicatos de setores de energia e portos para a semana que vem não indicam a diminuição do atual clima de combatividade.
Imposto sobre fortunas
A concessão foi a última tentativa de superar a pior crise da presidência de Macron.
Seu governo havia indicado anteriormente que poderia também retomar um imposto sobre fortunas que Macron havia diminuído no ano passado para que cobrisse apenas ativos imobiliários, o que levou à críticas de que ele seria "o presidente dos ricos".
Um assessor de Macron negou que qualquer eventual revisão do imposto sobre fortunas represente um recuo de Macron, um ex-banqueiro de investimentos, acrescentando que o presidente continua comprometido com suas propostas de reformas.
O porta-voz do governo Benjamin Grivet disse que todas as medidas relacionadas a impostos precisam ser periodicamente avaliadas e, se fosse percebido que não funcionam, devem ser alteradas. Ele disse que o imposto sobre fortunas pode ser reavaliado na segunda metade de 2019.
"Se uma medida que tomamos, que está custando dinheiro público, não estiver funcionando, se não estiver indo bem, não somos estúpidos - nós mudaríamos de ideia", disse Griveaux à estação de rádio RTL.