Governo do Turcomenistão manda banir o coronavírus. Do vocabulário
Pessoas que usam máscaras ou falam da doença na rua podem até ser presas, segundo relatos vindos do país, um dos mais repressivos do mundo
Internacional|Fábio Fleury, do R7
O governo do Turcomenistão tomou uma medida controversa, que vai na contramão de tudo o que está sendo feito no mundo para combater a pandemia de covid-19. Mandou banir a palavra "coronavírus" do vocabulário do turcomano, o idioma local.
Segundo a ONG Repórteres Sem Fronteiras, relatos de um site independente, que é banido dentro do país, o Turkmenistan Chronicle, indicam que a palavra foi retirada de materiais que são distribuídos pelas autoridades de saúde locais para fazer alertas à população.
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A mídia estatal também está proibida de usar o termo em suas reportagens, segundo a RSF. Segundo a entidade, a medida é uma atitude "perigosa para a população" e pode colocar em risco o combate à pandemia em território turcomeno.
De acordo com relatos publicados pela RSF, no país pessoas usando máscara de proteção ou falando sobre o coronavírus na rua, em pontos de ônibus ou na porta de lojas podem ser presas por policiais à paisana. O Turcomenistão tem uma grande fronteira com o Irã, um dos países mais afetados pela doença na região.
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"As autoridades turcomenas estão agindo conforme sua reputação ao adotar esse métood extremo para erradicar todas as informações sobre o coronavírus", disse Jeanne Cavelier, diretora da RSF para o Leste Europeu e Ásia Central.
"Essa vácuo de informação não apenas coloca os cidadãos do Turcomenistão em perigo mas também reforça o autoritarismo do presidente Gurbanguly Berdymukhammedov. Pedimos que as comunidade internacional reaja e o faça responder pelas violações sistemáticas de direitos humanos", pediu ela.
Com o fluxo de informações completamente controlado pelo governo, ainda não há nenhum caso confirmado de covid-19 em território turcomeno, mas não é possível afirmar que a doença não tenha atingido ninguém. A única medida do governo, em 13 de março, foi ordenar que espaços públicos fossem fumigados com um tipo de remédio tradicional chamado "harmala" para proteção.
Também de acordo com a RSF, a embaixada do Turcomenistão em Moscou fechou no último dia 17 e ninguém atende ao telefone. Com isso, dezenas de cidadãos turcomenos não sabem se conseguirão voltar ao país e tampouco conseguem permanecer na Rússia. que está sob uma quarentena restritiva. Muitos estão no aeroporto da capital russa, sem ter para onde ir.
Regime autoritário
O Turcomenistão é o país com menor liberdade de imprensa no ranking mundial da RSF e um dos regimes mais fechados do mundo. O governo controla toda a imprensa local e persegue quem tenta mandar notícias clandestinamente para fora. A internet é extremamente restrita e só pode ser acessada com permissão governamental, em locais controlados.
Gurbanguly Berdymukhammedov é apenas o segundo presidente do país desde que ele se tornou independente com o fim da antiga União Soviética, em 1991. Ele governa o Turcomenistão desde 2017.