Guerra sem culpa? Estudo mostra quando matar não afeta a saúde mental de soldados
Veteranos de guerra do Líbano e do Afeganistão relataram experiências durante e após a guerra
Internacional|Do R7

Uma pesquisa conduzida na Noruega com mais de 14.600 veteranos de guerra revelou que matar em combate não resulta, necessariamente, em impactos negativos à saúde mental dos soldados. A conclusão desafia a premissa, até então predominante, de que tirar uma vida representa um trauma inevitável para o combatente.
O levantamento foi realizado pelo Instituto de Psiquiatria Militar das Forças Armadas Norueguesas em parceria com a Universidade Norueguesa de Ciência e Tecnologia (NTNU).
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Liderado pelo psicólogo clínico Andreas Espetvedt Nordstrand, o estudo avaliou soldados noruegueses que atuaram em missões no Líbano e no Afeganistão.
Foram analisados 10.605 veteranos do Líbano e 4.053 do Afeganistão. Em ambos os grupos, apenas uma minoria declarou ter matado durante o serviço militar. Os pesquisadores cruzaram essas informações com indicadores clínicos como transtorno de estresse pós-traumático (TEPT), depressão, insônia, ansiedade, consumo de álcool e qualidade de vida.
Nos dados relativos ao Líbano, matar em combate esteve associado a maior incidência de problemas de saúde mental, maior uso de álcool e percepção negativa sobre a própria qualidade de vida. Entre os veteranos do Afeganistão, porém, essa associação foi menos relatada.
O estudo atribui essa diferença ao tipo de missão desempenhada pelos dois grupos. Soldados no Líbano atuaram majoritariamente em operações de manutenção da paz, com foco na estabilização da região e limitação do uso da força. Já os militares destacados para o Afeganistão participaram de ações regulares de combate, com expectativa clara de confrontos armados.
Os pesquisadores sustentam que o impacto psicológico de matar depende do contexto da missão, da preparação prévia do soldado e das normas estabelecidas pela unidade militar. Quando essas ações ocorrem dentro das diretrizes do grupo e da missão, a chance de danos emocionais é significativamente reduzida.
O levantamento também indica que fatores como exposição a outras situações traumáticas, risco de vida e testemunho de violência foram semelhantes nos dois grupos. Ainda assim, os veteranos do Afeganistão reportaram menos efeitos negativos, o que, segundo os autores, pode estar relacionado a um treinamento mais voltado à preparação para o combate e ao entendimento de que o uso letal da força era uma possibilidade concreta da missão.
Os resultados foram checados por diferentes estatísticos e levaram cinco anos para serem publicados. A equipe envolveu profissionais da saúde mental, antropologia e veteranos de guerra. Entre os coautores está Ronny Kristoffersen, ex-combatente ferido em ação no Afeganistão.
Os autores alertam para a importância de se considerar as regras de engajamento, os objetivos da missão e a clareza das normas internas ao enviar militares para operações armadas. Segundo Nordstrand, essas condições moldam a forma como os soldados interpretam seus atos em combate e se sentem ou não autorizados a executá-los.
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