Hungria recorda Holocausto, mas comunidade judaica desconfia
Relações entre governo e organizações judaicas estão mais tensas do que nunca no país
Internacional|Do R7
A Hungria iniciou nesta quarta-feira as cerimônias em recordação aos 70 anos do Holocausto ocorrido sob a ocupação nazista, em uma atmosfera de profunda desconfiança entre o governo e organizações judaicas.
Cerimônias foram realizadas em todo o país em memória dos 600.000 judeus húngaros assassinados, incluindo 150.000 mortos antes mesmo da invasão alemã em 1944.
Em Pécs (sul), perto da fronteira croata, o prefeito leu os nomes e idades de dezenas de estudantes do colégio Szechenyi que morreram na deportação, antes de revelar uma placa em sua memória e de plantar uma "árvore da vida" no pátio do estabelecimento.
Os alunos da instituição estavam visivelmente emocionados e uma menina chegou a desmaiar.
Eles iniciaram, em seguida, uma passeata de várias horas por todos os locais símbolos da tragédia nesta cidade de 150.000 habitantes: o gueto, a estação ferroviária, a antiga escola judaica e a sinagoga.
As crianças receberam, entre outras coisas, cópias dos diários daqueles que frequentaram a mesma escola antes de morrer.
Entre as manifestações, a sinagoga de Hodmezovasarhely (sul de Budapeste) apresentou uma exposição de fotografias e objetos pessoais que pertenceram a vítimas famosas do Holocausto húngaro, incluindo atletas.
Na capital Budapeste, o presidente húngaro Janos Ader acendeu uma vela e depositou uma flor no Danúbio, onde os milicianos fascistas húngaros do partido da Cruz Flechada fuzilaram judeus.
Uma exposição de obras dedicadas às vítimas do pintor György Kadar (1912-2002), sobrevivente do Holocausto, foi inaugurada no museu do Holocausto.
Os eventos ocorrem no momento em que as relações entre o governo e organizações judaicas estão mais tensas do que nunca.
A inauguração, prevista no centro de Budapeste, de um monumento "às vítimas da ocupação alemã" cristaliza a briga, deflagrada após a reeleição do primeiro-ministro conservador Viktor Orban em 6 de abril.
O memorial representa a Hungria na forma de um anjo atacado por uma águia, que seria a Alemanha. Sua inauguração está prevista para 31 de maio.
Segundo os críticos, ele isenta a Hungria de sua responsabilidade no massacre aos judeus húngaros.
Orban prometeu durante a campanha eleitoral dialogar com o Mazsihisz, a principal organização judaica da Hungria, antes de continuar com o projeto.
Mas as obras começaram apenas dois dias após as eleições legislativas. Centenas de pessoas ocuparam desde então o local.
Em protesto, o Mazsihisz decidiu boicotar as cerimônias oficiais. Seu diretor, Gusztav Zoltai, um sobrevivente do Holocausto de 79 anos, pediu demissão.
Mazsihisz também exige a renúncia de um historiador controverso nomeado pelo governo à frente de um instituto nacional de pesquisa histórica, e que descreveu a deportação de 18.000 judeus em 1941 como "procedimento administrativo para cidadãos estrangeiros".
De acordo com uma organizadora dos protestos contra o memorial, a roteirista Fruzsina Magyar, "a Hungria nunca encarou de frente sua responsabilidade pelo Holocausto".
"Este monumento é uma vergonha. Vamos evitar sua inauguração com os nossos corpos, se necessário", disse ela à AFP.
Uma lei que pune a negação do Holocausto foi adotada durante o primeiro mandato de Viktor Orban. Mas ele é acusado por seus críticos de ter flertado com as teses do partido de extrema-direita Jobbik, enquanto incidentes antissemitas têm aumentado nos últimos anos na Hungria.
A comunidade judaica na Hungria é uma das maiores na Europa, com cerca de 120.000 membros. É também, de acordo com uma pesquisa recente da União Europeia, a mais preocupada com o aumento no preconceito antissemita.
Monstros do nazismo sofreram pressão psicológica
Líder supremo do Irã põe em dúvida Holocausto e critica falta de liberdade sobre questão