Índia e Paquistão têm onda de violência em região disputada pelos dois países
Em dez dias, cinco soldados foram mortos na Caxemira
Internacional|Do R7
A morte de outro soldado, o quinto em dez dias, na região da Caxemira, área disputada entre Índia e Paquistão, aumentou novamente a tensão entre os dois países nesta quarta-feira (16), o que pode ser considerado a maior onda de violência em uma década no local.
Três militares paquistaneses e dois indianos morreram desde 6 de janeiro, quando começou a atual espiral de violência na área, onde as duas potências nucleares participaram de duas guerras e vários conflitos menores e a paz é mantida por um precário cessar-fogo.
Segundo informou o comando militar do Paquistão, o último incidente foi registrado na noite de terça-feira (15) e causou a morte de um soldado do país, identificado como Naik Ashraf, morto após ser atingido por tiros de membros das Forças Armadas da Índia que dispararam "sem provocação prévia".
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De acordo com a informação oficial paquistanesa, o incidente ocorreu nos setores de Hot Spring e Jandrot, próximos à LoC (Linha de Controle), traçada em 2003 e que separa as áreas da Caxemira sob autoridade da Índia e do Paquistão.
Após esse incidente, os diretores de operações militares de ambos os países concordaram em diminuir a tensão e cumprir com o cessar-fogo, segundo informou à Agência Efe um porta-voz do Exército indiano, Jayidip Dahiya.
Desde o que cessar-fogo foi estabelecido na região, a LoC sofreu contínuas violações pelas duas partes (mais de 70 só em 2012), mas nunca com um número de vítimas tão grandes como dos últimos enfrentamentos.
Nem Nova Délhi nem Islamabad assumiram responsabilidade pela iniciativa dos ataques registrados há dez dias. O porta-voz do Exército indiano na Caxemira, coronel J.S Brar, disse que "não há nada o que comentar", ao ser questionado pela Agência Efe sobre a última denúncia paquistanesa, divulgada na madrugada.
Apenas poucas horas depois da denúncia, o primeiro-ministro da Índia, Manmohan Singh, advertiu na tarde de terça-feira que a relação com o Paquistão não pode permanecer igual.
O dirigente se referia principalmente à denúncia de que no dia 8 um soldado indiano foi decapitado por forças paquistanesas. De acordo com as autoridades de Nova Délhi, soldados do Paquistão atravessaram nesse dia a Linha de Controle, e após matar dois soldados indianos, decapitaram um deles e carregaram sua cabeça, o que também não tem precedentes nos últimos anos.
Apesar do aumento da violência, os especialistas preveem que em breve a tensão irá diminuir, principalmente pela crise política que o Paquistão vive, onde a Suprema Corte ordenou na terça-feira a detenção do primeiro-ministro, Raja Pervez Ashraf, por um caso de corrupção.
O antigo diretor do serviço de informação indiano para o exterior (RAW, segundo sua sigla em inglês), Vikram Sood, em declarações à Agência Efe, afirmou que "as coisas não vão piorar e irão se acalmar".
"É a maior escalada dos últimos anos, mas penso que as duas partes vão tentar esfriar a situação", disse.
Aos pés do Himalaia, a Caxemira é a única região de maioria muçulmana que permaneceu com a Índia após a partilha do subcontinente indiano pela antiga potência colonial, Grã-Bretanha, que em 1947 fez a divisão a partir de critérios confessionais.
O objetivo da partilha era que a Índia acolhesse a maioria hindu e o Paquistão a minoria muçulmana do subcontinente. A população da Caxemira sofre desde então com a divisão, que pode ser a origem da atual espiral de violência.
O jornal indiano "The Hindu" publicou na semana passada que uma idosa, em setembro, cruzou da parte indiana à paquistanesa para encontrar seus filhos, foragidos na zona sob controle do Paquistão por ter problemas com a polícia da Índia.
A ação alertou o exército indiano sobre a facilidade com que era possível atravessar a LoC, por isso o país construiu bunkers no setor, algo que para o Paquistão é contrário ao acordo de cessar- fogo. Após alguns incidentes registrados em novembro e dezembro, a tensão desembocou na atual onda de violência, segundo o jornal, que citava fontes oficiais e precisava que a intenção da idosa era "passar os últimos anos de vida com seus filhos".