López Obrador assume México com desafios internos e 'importados'
Novo presidente mexicano ainda terá outros desafios na caminhada, como a luta contra a criminalidade e o combate à pobreza
Internacional|Beatriz Sanz, do R7
Andrés Manuel López Obrador, 65, se torna o novo presidente do México neste sábado (1). Formado em Ciências Políticas e Administração Pública na Universidade Nacional Autônoma do México (Unam), López Obrador nada contra a corrente e é um dos poucos políticos de esquerda que conseguiu se eleger em meio a uma nova configuração da América Latina.
As principais bandeiras políticas que o levaram à vitória durante a campanha foram a retomada da economia, geração de emprego, a diminuição da pobreza e o combate à corrupção. Agora, seu desafio é colocar em prática essas propostas nos próximos seis anos.
López Obrador não é um nome desconhecido dos mexicanos. Ele atua na política desde a sua formatura e foi Chefe de Governo da Cidade do México de 2000 a 2005, o que corresponde ao cargo de Governador no Brasil.
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Para o sociólogo e professor do PROLAM-USP (Programa de Pós-Graduação Integração da América Latina), Wagner Iglecias, o novo presidente mexicano ainda terá alguns desafios na caminhada, como a luta contra a criminalidade e a caravana de migrantes que está estacionada em seu quintal.
Caravana de migrantes
Logo de cara, López Obrador se vê obrigado a resolver um problema que sequer pertence diretamente ao seu país: as caravanas de migrantes da América Central que caminham em direção aos EUA estão atualmente paradas em solo mexicano.
A forma como o novo líder do México irá lidar com essa situação caótica pode determinar como será todo seu mandato, que dura seis anos.
Em primeiro lugar, ele sempre se posicionou a favor dos direitos do pobres e também da migração.
No entanto, o atual governo do México está auxiliando os Estados Unidos e impedindo a passagem dos migrantes para o território norte-americano.
Iglecias explica que essa posição é esperada, já que os EUA são o maior parceiro comercial do México. "Acredito que o López Obrador não gostaria de manter essa postura, mas talvez ele tenha que manter por pressão dos EUA", avalia.
O professor acredita, contudo, que a situação possa mudar durante o governo de López Obrador. "Ele pode se voltar um pouco mais para a América Latina, tentar estabelecer acordos comerciais. O México ficou muito tempo de costas para seus pares latinos", comenta.
Em relação à situação dos migrantes, Iglecias diz que eles foram acolhidos pela população e que uma das possibilidades é que o México absorva parte dessa população que vem de Honduras, Nicarágua e Guatemala, como o Brasil fez com os haitianos logo depois do terremoto.
Do outro lado da fronteira, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, continua usando a imigração para se fortalecer politicamente.
Analistas acreditam que novas caravanas possam se formar, fazendo com que a situação se prolongue por tempo indeterminado. A avaliação de Iglecias nesse caso, é de que a maior chance para uma resolução pacífica seja a não reeleição de Trump nas próximas eleições, em 2020.
"A recente eleição dos EUA já sinalizou que os setores à esquerda do partido democrata cresceu. Isso pode representar um giro para daqui dois anos."
Cartéis e homicídios
O México enfrenta atualmente uma grande onda de criminalidade. Segundo dados do próprio governo mexicano, houve 25.339 homicídios em 2017. Ao que tudo indica, as cifras para este ano devem ser parecidas.
A insegurança no México é um problema que afeta pessoas de todas as classes sociais, mas que incluindo o assassinato de autoridades e jornalistas que denunciam a violência.
Para se ter ideia, durante as eleições deste ano, pelo menos 122 candidatos ou pré-candidatos foram assassinados no país, de acordo com o Instituto Nacional Eleitoral (INE).
Essa violência está diretamente relacionada à ação do narcotráfico no México. Muitos desses candidatos não tinham a aprovação dos cartéis que controlam a região.
Como explica Iglecias, uma das propostas de López Obrador para minar os negócios de drogas no México é despenalizar o uso da maconha.
Para o professor, essa ideia se aproxima mais da que foi realizada pelo Uruguai, onde também havia problemas de drogas do que aconteceu no Canadá, onde a legalização da substância para uso recreativo aconteceu por uma demanda da sociedade.
"Muita gente pobre morre [no México], muito descendente de indígenas também. Esse é um desafio", lembra Iglecias.
Combate à corrupção
Uma das grandes promessas de López Obrador para o eleitorado mexicano foi o fim da corrupção. E essa não é uma promessa fácil de cumprir.
"A máquina do Estado mexicano é muita antiga, tem muita gente lá há muito tempo e é uma máquina historicamente conhecida por ser muito corrupta", diz o professor.
O México também aparece em alguns contratos ilícitos com a empreiteira Odebrecth e a sua subsidiária petrolífera, Braskem.
Para efeito de comparação, a Pemex, estatal de petróleo do México já perdeu cerca de US$ 98 milhões (aproximadamente R$ 377 milhões) desde que o acordo veio à tona.
Miséria e pobreza
Outro grande desafio do novo presidente será vencer a pobreza. Atualmente, 48% da população mexicana é pobre.
Para isso, Iglecias avalia que ele terá que unir crescimento econômico com uma melhor distribuição de renda. "No México há muita exclusão social, muita informalidade, muitas pessoas que não encontram oportunidade de um bom emprego", explica.
Essa é uma grande questão para a parcela pobre que apoiou a candidatura de López Obrador, visto como um político preocupado com os pobres.