‘Lua de mel’ entre Putin e Kim Jong-un alonga guerras e ameaça o mundo com conflito nuclear
Russo selou pacto de defesa mútua em caso de agressão com Coreia do Norte e enviou recado à Coreia do Sul, que afeta EUA e Europa
Internacional|Do R7, com Estadão Conteúdo
O presidente russo, Vladimir Putin, selou uma parceria estratégica com a Coreia do Norte — chamada de “aliança” pelo seu par, o ditador Kim Jong-un — que prevê a defesa mútua caso qualquer um dos territórios dos dois países seja atacado. Embora nem Putin nem Kim tenham mencionado diretamente, trata-se de um recado velado ao Ocidente — veja fotos do encontro na galeria abaixo.
O pano de fundo é a promessa de países ocidentais, como Holanda e Dinamarca, de enviar caças F-16 para a Ucrânia enfrentar as tropas do Kremlin. A França também sugeriu mandar caças Mirage, fabricados pela Dassault, expoente da aviação militar francesa. Até agora, nenhum avião chegou aos ucranianos, mas os soldados de Zelensky já estão em treinamento.
Putin foi recebido no aeroporto de Pyongyang pelo ditador Kim Jong-um de madrugada e com tapete vermelho — isso é incomum entre chefes de estado. Enquanto a ditadura norte-coreana se interessa pela tecnologia espacial e mísseis russos, capazes de carregar ogivas nucleares, o Kremlin quer munições para usar na Ucrânia.
Lua de mel Putin-Kim
Na quinta-feira (20), Putin voou de Pyongyang para o Vietnã, onde mirou, numa mensagem direta, a Coreia do Sul, tecnicamente em guerra com a vizinha do Norte há décadas e com a qual cultiva péssima relação. O russo disse que seria “um erro grande” dos sul-coreanos enviarem armas para a Ucrânia, país invadido pelas tropas do Kremlin em 2022.
“Quanto ao fornecimento de armas letais à zona de combate na Ucrânia, seria um erro muito grande. Espero que isso não aconteça. Se acontecer, então nós também tomaremos as respectivas decisões que a Coreia do Sul tomar. Provavelmente, não ficará satisfeita”, disse Putin em entrevista coletiva segundo a agência de notícias russa Sputnik.
A mensagem surtiu efeito, e a Coreia do Sul, apesar de condenar o pacto Rússia-Coreia do Norte, avisou que vai reconsiderar a hipótese, segundo a agência de notícias sul-coreana Yonhap. Afinal, a Coreia do Sul teme que a Rússia abasteça a vizinha, Coreia do Norte, com mísseis.
“Aqueles que fornecem armas acreditam que eles não estão em guerra com a gente. Eu disse, inclusive em Pyongyang, que nós nos reservamos o direito de fornecer armas para outras regiões do mundo”, advertiu Putin.
Os Estados Unidos já reagiram a Putin. Nesta sexta, o porta-voz do Departamento de Estado dos EUA, Matthew Miller, disse que se trata de uma “decisão para a Coreia do Sul tomar”. Em seguida, completou: “Vamos dar as boas-vindas a qualquer apoio para a Ucrânia em sua luta contra a agressão da Rússia, mas, no fim, essa é uma decisão da Coreia do Sul”.
Munição em troca de comida
De setembro de 2023 a fevereiro deste ano, a Coreia do Norte enviou aproximadamente 6.700 contêineres de munição para a Rússia em troca de comida. A informação foi dada pelo ministro sul-coreano da Defesa, Shin Wonsik, sem mencionar a fonte.
Em contrapartida, o Kremlin mandou à Coreia do Norte alimentos e peças para a confecção de armas e mísseis.
Vale lembrar que, em setembro de 2023, Kim Jong-un foi de trem de Pyongyang até a cidade de Vladivostok, na Rússia, onde ganhou mimos de Putin, como uma visita ao centro espacial do país — sonho para o ditador norte-coreano.
Corrida pela arma nuclear
A viagem à Coreia do Norte ocorreu em um momento em que Moscou necessita de mais armas para prosseguir com sua guerra na Ucrânia, uma ajuda que a Coreia do Norte nega estar fornecendo.
Kim Jong-un, por sua vez, usou a visita para barganhar ajuda para seu programa nuclear e espacial, aproveitando-se de uma Rússia que busca driblar o isolamento internacional forçado pelo Ocidente, por meio de aproximações com outras nações também alvo de sanções.
A Rússia precisa de projéteis de artilharia e foguetes, algo que a Coreia do Norte tem a oferecer e, segundo analistas, seriam compatíveis com os sistemas de armas soviéticos e russos usados na Ucrânia.
Além disso, Pyongyang teria uma capacidade de produção que ajudaria a Rússia a manter sua alta taxa de uso de munição, enquanto o Kremlin procura aumentar a produção nacional. Kim visitou uma fábrica de munições no mês passado e exibiu armazéns cheios de mísseis balísticos de curto alcance — de um tipo semelhante aos mísseis norte-coreanos que, segundo os EUA, a Rússia disparou contra a Ucrânia.
Por outro lado, Kim ganha um importante aliado que pode ajudar a continuar com seu controvertido programa de armas nucleares e a colocar satélites em órbita.