'#MeToo deve influenciar decisões', afirma ex-ministra de Israel
Tzipi Livni é advogada, ex-deputada, oito vezes ministra e considerada a mulher mais poderosa politicamente em Israel desde Golda Meir
Internacional|María Sevillano, da EFE
A veterana política israelense, Tzipi Livni, ex-ministra, ex-chefe de negociações e ex-líder da oposição, fez uma reflexão durante uma entrevista à Agência Efe sobre a luta pela igualdade entre homens e mulheres pouco depois de anunciar sua retirada da linha de frente da política em seu país.
Livni é diplomata, advogada, ex-deputada e trabalhou no Mossad (serviço de Inteligência de Israel) durante quatro anos na década de 80.
Nascida em 8 julho de 1958 em Tel Aviv, trabalhou de perto com Ariel Sharon e mais tarde foi braço-direito do ex-primeiro-ministro Ehud Olmert.
Hoje em dia, Livni é conhecida por muitos como a mulher mais poderosa politicamente em Israel desde Golda Meir (1898-1978), que foi a quarta mulher primeira-ministra do mundo.
Livni ocupou o cargo de ministra por oito vezes e é a mulher que administrou mais pastas ministeriais em Israel.
PERGUNTA: Em 1975, coincidindo com o Ano Internacional da Mulher, as Nações Unidas celebraram o Dia Internacional da Mulher pela primeira vez no dia 8 de março. Hoje, 44 anos depois, você considera que existe igualdade entre mulheres e homens?
TZIPI LIVNI: Está claro que o mundo mudou desde 1975, mas há muitas coisas que devem ser feitas no futuro. Está claro que o status das mulheres não é o que costumava ser. Vimos nos últimos anos todas estas mudanças, um movimento enorme (#MeToo) dizendo que temos o poder de dizer que não, que somos iguais. E acredito que isto não são apenas coisas de mulheres, algo pelo o que as mulheres necessitam lutar, mas é uma representação das sociedades nas quais vivemos. É também papel e responsabilidade dos homens entender que igualdade tem um significado não só para as mulheres, mas para qualquer ser humano na mesma sociedade.
P: Movimentos como o #MeToo puseram na primeira linha do debate social e político o papel da mulher nas nossas sociedades. Uma das conclusões nas quais coincidem todos os que defendem a igualdade é que as meninas e adolescentes necessitam de mais referências femininas em todos os âmbitos e que sejam eliminados os estereótipos. Neste sentido, que mensagem daria a uma menina ou adolescente?
TL: Acredito que o #MeToo não deveria ser só sobre mulheres que foram afetadas por assédio sexual. O #MeToo também significa #MeToo no poder, #MeToo no processo de tomada de decisões, #MeToo na liderança. E acredito que isto é algo que cada mulher jovem necessita absorver, entender e lutar por isso. Um entendimento profundo, interno, que temos nossos sonhos que se podem tornar realidade, e que não deveríamos pedir a ninguém que nos diga sim. Temos que agarrar as oportunidades e fazer tudo o que acreditemos que é o correto.
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P: O Fórum Econômico Mundial diz que ainda devem passar 100 anos para que consigamos a igualdade real entre mulheres e homens. Acredita que o caminho é tão longo? O que é possível fazer para acelerar o processo?
TL: Isto depende de nós. Depende do que estamos dispostos a fazer, se estamos dispostos a lutar pelo direito não só para nós, mas para outras mulheres, a ter os mesmos direitos nos lugares nos quais vivem. É a responsabilidade da liderança, dos eleitores. E a minha esperança é que aceleraremos este processo, que veremos a próxima geração com o entendimento profundo de que as mulheres são iguais.
P: É difícil se retirar da política agora, com o terremoto que sacode a política israelense neste momento?
TL: Sim, é muito difícil para mim, mas estou na política israelense há 20 anos. Luto e lutei por manter a natureza de Israel como uma democracia, lutei pela paz entre Israel e os palestinos, mas desta vez descobri que concorrer somente com isto na agenda, como uma plataforma, não consegue o voto popular. Portanto, prefiro ficar de lado e dar oportunidade àqueles que se apresentam desta vez, esperamos, para substituir o atual governo israelense.
P: Há especialistas que asseguram que sua decisão de se retirar da primeira linha política é um reflexo da falta de interesse de muitos israelenses na paz com os palestinos e na política em geral.
TL: Isso é verdade, infelizmente. Acredito que uma grande maioria dos israelenses pensa que não há esperança para a paz, que não é viável, que não é tangível. E francamente, os americanos vão pôr o plano (de paz) sobre a mesa só depois das eleições, portanto não está na agenda atual. Mas, para mim, é a razão pela qual me uni à política israelense, porque acredito que seja necessário. É necessário. Necessitamos manter Israel como um Estado judaico democrático, para manter a maioria judaica, para nos separar dos palestinos, para conseguir a paz com eles, e, portanto, sim, é verdade. Descobri que é menos popular nestes dias, mas é essencial para o futuro do Estado de Israel.
P: Então, o que preocupa os israelenses?
TL: Depende. É uma questão de identidade, segurança. E falando sobre o Dia da Mulher, a nossa habilidade para tomar decisões sobre segurança não são menores do que as de qualquer homem, ou qualquer general, mas no que tem a ver com imagens e percepções, existe esta imagem de monopólio dos homens. E eu estou totalmente em desacordo com isso.