Morte de estudante acirra ânimos para nova greve geral na Colômbia
Dilan Cruz foi morto depois de ser atingido por uma cápsula de gás lacrimogêneo atirada por um policial direto em sua cabeça durante um protesto
Internacional|Giovanna Orlando, do R7
A nova greve geral na Colômbia, convocada para esta quarta-feira (27) pelos movimentos sociais e sindicais, tende a exceder em tamanho e em indignação a paralisação realizada há seis dias.
A população ainda protesta contra as medidas neoliberais do presidente Ivan Duque e o não cumprimento do acordo de paz que pôs fim à guerra civil colombiana, mas também se revoltam contra a morte do estudante Dilan Cruz.
O jovem de 18 anos estava se formando no ensino médio e sonhava com a chance de estudar administração em alguma universidade colombiana. No país, as universidades públicas são pagas e ele era uma das milhares de pessoas que pediam maiores chances de acesso à educação superior.
No final da manifestação, Cruz pegou uma das granadas de gás jogadas pelo Esquadrão Móvel Anti Distúrbio, o ESMA, e ia jogar de volta nos guardas, quando um deles disparou no estudante. Em um vídeo, que circula pelas redes sociais, é possível ver a hora em que Dilan é atingido na cabeça e cai. Ainda não foi confirmado o que atingiu o menino.
“O que se sabe é que essa munição fica incrustada na cabeça do menino, que vai para o hospital com lesão cerebral grave e morre na segunda-feira à noite”, conta a geógrafa Isabel Perez Alves.
Nesta terça-feira (26), o presidente Ivan Duque se reuniria para conversar com algumas lideranças de movimentos sociais, para discutir as reivindicações da população e tentar achar alguma alternativa para os protestos, mas as conversas foram encerradas depois que Duque se recusou a discutir a retirada do ESMA dos protestos.
A luta pela educação
Segundo Isabel, os estudantes são o movimento mais organizado nos protestos. Junto com os sindicatos, os jovens convocaram a greve geral e conseguiram chamar atenção de milhares de pessoas.
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As manifestações têm reivindicações abrangentes, que vão sobre o plebiscito anticorrupção, o cumprimento dos acordos de paz com as FARC, saúde, reforma trabalhista até educação.
Dilan se formaria no colégio na segunda-feira (25), e horas antes da divulgação da morte do menino, sua irmã foi na escola em que ele estudava receber o diploma de conclusão do ensino médio. Ele estava solicitando um empréstimo para tentar entrar em alguma universidade.
“Dilan Cruz representa muito o que o jovem colombiano quer, que é estudar e poder trabalhar”, conta a especialista em Colômbia e professora de Relações Internacionais da FSA, Amanda Harumi.
Uma das outras reivindicações dos jovens é contra o projeto que jovens de até 25 anos poderiam receber menos de um salário mínimo no país.
Repressão violenta
A Colômbia tem um histórico de guerrilhas e movimentos violentos contra o governo. Desta vez, as manifestações em sua maioria seguem pacíficas e os relatos de violência falam sobre a repressão excessiva vindas de forças de segurança. Além de Dilan, outras três pessoas morreram.
A visão repressiva já vinha desde antes da convocação do 21N, a greve geral da última quinta-feira. O presidente Ivan Duque já havia dito que as manifestações teriam saques, vandalismo e que seriam ruins para o país. Com isso, uma repressão violenta já era esperada, diz Harumi.