Nave avariada, comida contada e medo do futuro: entenda drama de astronautas presos no espaço
Barry Wilmore e Sunita Willians deveriam ficar oito dias na estação espacial internacional, mas estadia já se aproxima dos três meses
Internacional|Do R7
Quando a cápsula da nave espacial Starliner, fabricada pela Boeing, acoplou na ISS (Estação Espacial Internacional) em 5 de junho para um voo de teste, os astronautas americanos Barry “Butch” Wilmore e Sunita “Suni” Williams tinham certeza de que estariam de volta — em segurança e com vida — à Terra oito dias depois.
Porém, falhas nos propulsores impediram o retorno, provocaram ao menos três adiamentos de novas partidas e prendem os cosmonautas no espaço há quase três meses. Antes do último atraso, eles deveriam voltar à Terra no último dia 12.
Os cientistas da Nasa já cogitam trazer de volta a dupla somente em fevereiro do próximo ano. A agência espacial americana, que não usa a expressão ‘presos’ para a situação dos astronautas, promete dar detalhes para solucionar o caso de uma vez por todas neste sábado (24).
Partida da Starliner
Em 6 de junho, Butch Wilmore e Suni Williams decolaram com sucesso do Cabo Canaveral, na Flórida, nos Estados Unidos, e conseguiram acoplar a cápsula com sucesso na Estação Espacial Internacional depois de 26 do lançamento.
Os astronautas monitoraram a Starliner enquanto ela conduzia autonomamente uma série de manobras para aproximar gradualmente a espaçonave do laboratório em órbita antes do acoplamento.
A tripulação fez vários testes, incluindo o voo manual da Starliner pela primeira vez no espaço. A dupla, que faria experimentos científicos além de levar suprimentos, se juntou a outros sete astronautas que vivem atualmente na estação.
Na ocasião, o administrador da Nasa, Jim Bridenstine, comemorou: “Parabéns às equipes da Nasa e da Boeing pelo pouso certeiro da Starliner. As partes mais difíceis deste teste de voo orbital foram bem-sucedidas”.
E completou: “É por isso que conduzimos esses testes, para aprender e melhorar nossos sistemas. As informações obtidas com esta primeira missão da Starliner serão essenciais em nossos esforços para fortalecer o Programa de Tripulação Comercial da Nasa e retornar a capacidade americana de voo espacial humano.”
Problemas com a Starliner
A Starliner representa a primeira viagem da Boeing com uma tripulação a bordo ao espaço. A Nasa recorreu a empresas americanas para transportar astronautas após a aposentadoria dos ônibus espaciais. A SpaceX de Elon Musk realizou nove viagens de táxi para a Nasa desde 2020, enquanto a Boeing gerenciou apenas um par de voos de teste não tripulados.
No começo de agosto, a Nasa explicou que vários componentes dos propulsores da nave foram comprometidos na chegada. Entre os problemas, estão equipamentos que desligaram e outros que sofreram vazamentos. Isso impede um retorno seguro da nave para a Terra.
Em órbita, apesar das falhas já detectadas, a Starliner parece estar funcionando bem, o que deixou os cientistas ainda mais com um pé atrás. Existe, inclusive, a chance de a nave voltar à Terra sem ninguém a fim de garantir o retorno seguro dos cosmonautas em outro equipamento.
Comida e água para astronautas
Teoricamente, apesar de superlotada com nove astronautas, não faltam comida e água. Isso porque as missões enviadas à estação espacial vão carregadas de suprimentos para os cosmonautas que chegam e também para quem “vive” por mais tempo no espaço.
As instalações também não são das piores. Segundo o astronauta da Nasa Victor Glover, que passou seis meses na ISS em 2020–2021, em entrevista ao podcast Space Boffins, antes de a Starliner ser lançada em junho, “a estação espacial tem agora, na verdade, sete quartos e três banheiros”.
Experiência dos astronautas presos
Os astronautas presos no espaço não são estagiários, longe de serem inexperientes. Barry “Butch” Wilmore, que comanda a missão, é veterano de dois voos espaciais e tinha 178 dias no espaço em seu currículo antes de partir na Starliner. Em 2009, ele serviu como piloto a bordo do ônibus espacial Atlantis para a missão STS-129.
Wilmore também serviu como engenheiro de voo para a Expedição 41 até novembro de 2014, quando assumiu o comando da estação espacial após a chegada da tripulação da Expedição 42. Ele retornou à Terra em março do ano seguinte.
Antes de sua seleção pela Nasa em 2000, o pai de dois filhos obteve seu bacharelado e mestrado em engenharia elétrica pela Universidade Tecnológica do Tennessee antes de se formar com outro mestrado em Sistemas de Aviação pela Universidade do Tennessee.
Já Suni Williams é piloto da nave espacial para o teste de voo. Williams passou 322 dias no espaço em duas missões: Expedição 14/15 em 2006 a 2007 e Expedição 32/33 em 2012. Nativa de Massachusetts, conduziu sete caminhadas espaciais, totalizando 50 horas e 40 minutos.
Antes de sua carreira começar na Nasa em 1998, Williams se formou em Ciências Físicas pela Academia Naval dos EUA, em Maryland, e conquistou mestrado em Gestão de Engenharia pelo Instituto de Tecnologia da Flórida.
No total, ela registrou mais de 3.000 horas de voo em mais de 30 aeronaves diferentes.