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Novo conselheiro pode ser última chance de Trump na política externa

Robert C. O'Brien assume em cenário de crise a um ano das eleições. Desafio é retomar papel dos EUA em conversas internacionais

Internacional|Ana Luísa Vieira, do R7

Robert C. O'Brien após a libertação do rapper A$AP Rocky
Robert C. O'Brien após a libertação do rapper A$AP Rocky Robert C. O'Brien após a libertação do rapper A$AP Rocky

Escalada de tensão no Oriente Médio, suspensão das conversas com o Taleban no Afeganistão, crise na Venezuela e possível retomada de negociações com Kim Jong-un na Coreia do Norte: o cenário em que o advogado Robert C. O'Brien assume o cargo de conselheiro de segurança nacional dos Estados Unidos definitivamente não é dos mais tranquilos. 

De quebra, sua nomeação pode ser a última chance do presidente Donald Trump dizer que teve algum sucesso na política externa durante seu mandato. 

“Os desafios, neste momento, são grandes. A política externa é um dos maiores problemas que o governo Trump vem enfrentando e os Estados Unidos estão perdendo sua capacidade de mediar e negociar em discussões internacionais”, aponta Sidney Ferreira Leite, especialista em Relações Internacionais e Pró-reitor do Centro Universitário Belas Artes de São Paulo.

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“Robert O'Brien tem agora a responsabilidade de contribuir para que o país recupere sua liderança”, acrescenta o professor.

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O'Brien, que até esta semana atuava como Enviado Presidencial Especial para Assuntos de Reféns do Departamento de Estado americano, foi anunciado por Trump nesta quarta-feira (18) como substituto de John Bolton — demitido na última terça-feira (10) após uma série de discordâncias em relação à política externa do governo.

Mediação e articulação

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Ao nomear O'Brien, Trump parece ter levado em consideração as habilidades de mediação e articulação do advogado, que costuma atuar nos bastidores do governo e foi um dos responsáveis pela recente libertação rapper norte-americano A$AP Rocky — detido por uma briga em Estocolmo, na Suécia, no mês de julho.

“As críticas a John Bolton eram justamente de que ele atuava com certa intransigência e incapacidade de praticar uma diplomacia que gerasse acordos com outros países. Um dos exemplos é a questão inconclusa da Venezuela: os Estados Unidos jogaram pesado [reconhecendo Juan Guaidó como presidente interino em oposição a Nicolás Maduro] e pouco se avançou”, lembra Leite.

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Pouco antes de entrar na Casa Branca, no ano passado, Bolton chegou também a defender a declaração de guerra contra Coreia do Norte e Irã.

Tendência ao unilateralismo

Para Débora Prado, professora de Relações Internacionais na UFU (Universidade Federal de Uberlândia) e pesquisadora do INCT-INEU (Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia para Estudos sobre os Estados Unidos), a indicação de O'Brien não deve significar uma ruptura com a tendência ao unilateralismo que os Estados Unidos apresentaram nos últimos anos. 

“O governo Trump tem desconsiderado fóruns importantes de articulação multilateral na ONU (Organização das Nações Unidas), na OMC (Organização Mundial do Comércio) e etc. E O’Brien está alinhado a esta posição“, aponta.

“Em seu livro publicado em 2016, While America Slept: Restoring American Leadership to a World in Crisis (Enquanto a América dormia: Restaurando a liderança americana em um mundo em crise, em tradução livre), o novo conselheiro critica as Nações Unidas e propõe soluções de 'paz através da força' para que os Estados Unidos sejam grandes novamente“, pondera a professora. 

O papel do conselheiro de segurança nacional

O cargo de conselheiro de segurança nacional não exige a confirmação do Senado americano e é considerado um dos mais influentes do governo em termos de relações exteriores. “Ele atua como uma espécie de mediador entre vários órgãos que cuidam da política externa dos Estados Unidos”, explica o Pró-reitor do Centro Universitário Belas Artes.

Na teoria, O'Brien será o encarregado de comandar centenas de especialistas do Pentágono, do Departamento de Estado e das agências de inteligência americanas com o objetivo de determinar quais ações se alinham aos interesses do país.

“Seria um papel diferente daquele do Mike Pompeo — secretário de Estado —, cuja atribuição é colocar em prática as ideias, os conceitos e a visão do governo sobre a política externa. Pompeo desempenha trabalhos de ação e realização dos projetos da administração Trump”, pondera Leite.

Mas Débora Prado considera que, na prática, o secretário de Estado tem sido o principal consultor de política externa do presidente. “É bem provável que O’Brien tenha uma atuação limitada e que as decisões continuem centralizadas em Pompeo.”

Atuação em período pré-eleitoral

Vale lembrar que Robert O'Brien é o quarto conselheiro de segurança nacional do mandato de Trump, depois da saída dos generais do Exército Michael Flynn e H.R. McMaster, e de Bolton. Sua atuação, entretanto, pode ser mais decisiva, segundo Sidney Leite.

“Os Estados Unidos já estão em um período pré-eleitoral. No futuro, uma atuação bem-sucedida de O'Brien como conselheiro de segurança nacional seria uma demonstração de que o governo Trump foi capaz de estabilizar uma ordem internacional tensa.”

O presidente, por ora, parece confiante sobre a escolha: ele já declarou publicamente que O'Brien é o “melhor negociador de reféns da história dos Estados Unidos”. “Fará um ótimo trabalho!”, completou, em post no Twitter. 

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