O papa voltou a ser pop? Francisco ganha destaque com frases e fotos midiáticas
Em tempos de crise no catolicismo, papa argentino vem roubando a cena
Internacional|Diego Junqueira, do R7
Não faz uma semana que o papa Francisco assumiu o posto máximo da Igreja Católica e, nesse tempo, inúmeras polêmicas, curiosidades, frases de efeito e imagens “tuitáveis” brotaram mundo afora sobre o cardeal argentino — para alegria ou tristeza de seus seguidores, mas, certamente, para delírio da imprensa.
Jorge Mario Bergoglio, o primeiro papa latino-americano, atiçou a imprensa da região, em especial a dos argentinos, que está revirando a vida do pontífice.
Em três dias, conhecemos a namorada de infância de Bergoglio, vimos Bergoglio lavando pés de viciados em drogas, Bergoglio andando de metrô em Buenos Aires, Bergoglio segurando a camisa do time de futebol San Lorenzo (do qual é sócio), descobrimos que ele tem apenas um pulmão e que foi um “diabinho” na escola.
O arcebispo de Buenos Aires já era figura conhecida no país, em especial após bater de frente com os governos do casal Néstor (2003-2007) e Cristina Kirchner, divergindo em questões como casamento gay e aborto.
Seu nome também está no centro de uma polêmica antiga no país: o papel da Igreja Católica durante a ditadura militar (1976 a 1983), regime que deixou 30 mil pessoas mortas ou desaparecidas.
Veja as polêmicas e curiosidades sobre o papa Francisco
Bergoglio é acusado de cumplicidade no sequestro de dois padres jesuítas, além de ter sido convocado para depor em um processo sobre o desaparecimento de uma mulher grávida e seu filho.
O Vaticano correu para alertar que as acusações são antigas e nunca foram provadas. O Nobel da Paz Adolfo Perez Esquivel, que recebeu o prêmio por seu ativismo durante o regime militar, também saiu em defesa do pontífice e disse à BBC que “o papa não tinha vínculos com a ditadura”. A polêmica deve continuar em pauta nos próximos dias.
Com Francisco no topo, sobrou também para os britânicos, após os jornais locais divulgarem que, em 2011, Bergoglio declarou que as ilhas Malvinas são argentinas. Chamadas de Falklands pelos britânicos, as Malvinas são disputadas pelos dois países. O arquipélago causou uma guerra entre ambos em 1982.
Na sexta-feira (15), o premiê britânico, David Cameron, disse não estar de acordo com Bergoglio e afirmou que tinha uma “divergência respeitosa” com o pontífice.
Pop 2.0
Mas não foram apenas as polêmicas do passado que colocaram o papa em destaque. Em três dias de pontificado, não faltaram cardeais para comentar seus gestos de simplicidade e sua rejeição aos privilégios.
Na quarta-feira, o papa apareceu na varanda da basílica São Pedro, para ser apresentado ao mundo, todo vestido de branco e sem a estola vermelha sobre os ombros. Em tom de brincadeira, ele declarou que os cardeais foram buscar o bispo de Roma "no fim do mundo".
Em seguida, o papa jesuíta rejeitou a limusine que estava à sua disposição para voltar à Casa de Santa Marta, onde estavam hospedados os cardeais que participaram do conclave. Assim como os demais, o argentino tomou um ônibus oficial do Vaticano.
Na quinta-feira, o papa voltou ao hotel onde ficou hospedado antes do conclave para pegar sua bagagem e pagar a conta que tinha deixado em aberto.
Já na sexta-feira, Francisco visitou, de surpresa, o cardeal argentino Jorge María Mejía, de 90 anos, que nesta semana sofreu um infarto do miocárdio e está internado em uma clínica de Roma. Segundo o diário argentino Clarín, o gesto recordou o papa João Paulo 2º, que, em 1978, um dia após sua eleição, também visitou um cardeal compatriota em um hospital romano.
Outro jornal argentino, o La Nación, já traçava na sexta-feira as semelhanças entre os dois pontífices, com destaque para a "peregrinação" e "aproximação das pessoas".
E para a manhã de sábado (16), o papa decidiu receber a imprensa internacional para uma entrevista coletiva, à qual devem comparecer dezenas de jornalistas estrangeiros que foram a Roma cobrir o conclave.
Na atual transição da Igreja Católica, está cada vez mais claro que a imprensa ganhou uma nova figura midiática, cujos gestos chamam atenção e têm apelo popular.
Mas em tempos de Vatileaks (o vazamento de documentos secretos do Vaticano), falta de sacerdotes católicos, queda do número de praticantes, intrigas e disputas de poder no banco do Vaticano, além dos casos de abusos sexuais cometidos por padres e acobertados por cardeais, quem mais precisa de um papa pop é a Igreja Católica.
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