O que é Fordow, a instalação nuclear secreta do Irã que desafia Israel e o Ocidente
Tentativa de destruir a instalação pelo ar esbarra em problemas logísticos e tecnológicos, tanto para Israel quanto para os EUA
Internacional|Do R7

Escavada nas montanhas próximas à cidade iraniana de Qom, a usina de Fordow se tornou peça central do programa nuclear do Irã e um dos maiores desafios para Israel e os Estados Unidos. Protegida por dezenas de metros de rocha, fortificada com túneis e barreiras, a instalação opera hoje com centenas de centrífugas capazes de enriquecer urânio a níveis que deixam o país a poucos passos da produção de armas nucleares.
O local permaneceu em segredo durante anos, até ser revelado em 2009 por uma coalizão formada por Estados Unidos, França e Reino Unido. Desde então, Fordow virou símbolo das suspeitas sobre as intenções nucleares de Teerã e da dificuldade militar para neutralizar seu avanço em termos atômicos.
Relatórios da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) confirmam que o Irã enriquece urânio a 60% em Fordow, patamar próximo dos 90% exigidos para a fabricação de bombas nucleares. Segundo cálculos de especialistas ouvidos pela CNN dos EUA, o estoque atual permitiria ao país produzir material suficiente para até nove ogivas em questão de semanas.
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A construção começou nos anos 2000, como parte de um projeto clandestino que só veio à tona após operações de inteligência e análise de imagens de satélite. Estruturas associadas aos túneis já eram visíveis em fotos de 2004. A AIEA afirma ter registros que indicam atividade desde 2002.
Documentos secretos obtidos por Israel em 2018 confirmaram que Fordow fazia parte de um programa militar de Teerã. Projetos e memorandos internos detalhavam a intenção de enriquecer urânio para fins bélicos, garantindo capacidade de produção de uma a duas armas por ano.
O Irã afirma que a instalação foi concebida para proteger seu programa nuclear civil contra ameaças externas, especialmente após sucessivos relatos de planos de ataque contra Natanz, outro centro nuclear do país que foi bombardeado por Israel na última semana, desde o início do conflito. Segundo Teerã, Fordow é uma alternativa segura e uma contingência em caso de bombardeios.
Hoje, a usina abriga cerca de 2.700 centrífugas. Além da profundidade, que varia entre 80 e 90 metros abaixo da superfície, o complexo conta com cinco túneis e uma estrutura de suporte que garante proteção extra contra ataques.
O relatório mais recente do Instituto de Ciência e Segurança Internacional (ISIS) alerta que, caso decida, o Irã poderia converter rapidamente o urânio enriquecido que possui em material para armas. O processo levaria aproximadamente três semanas, segundo o instituto, e permitiria ao país construir até nove ogivas nucleares.
Essa capacidade transforma Fordow em um alvo estratégico para Israel. No entanto, qualquer tentativa de destruir a instalação pelo ar esbarra em um problema logístico e tecnológico.
Nem mesmo as bombas mais potentes dos Estados Unidos, como a GBU-57, seriam suficientes para destruir Fordow em uma única tentativa. Esse tipo de armamento atinge até 60 metros de profundidade, abaixo dos 80 ou 90 metros estimados para Fordow, e só pode ser lançado por bombardeiros furtivos B-2, aos quais Israel não tem acesso.
O embaixador de Israel nos Estados Unidos, Yechiel Leiter, afirmou recentemente que apenas os americanos possuem os recursos necessários para executar um ataque desse porte. Mesmo assim, especialistas avaliam que seriam necessários vários bombardeios precisos no mesmo ponto para danificar a estrutura de forma decisiva.
Analistas militares afirmam que existem alternativas, como atingir os túneis de acesso, sistemas de ventilação e a infraestrutura elétrica da instalação. Esse tipo de ação poderia paralisar temporariamente a produção, mas não eliminaria o risco de retomada.
Fordow se manteve parcialmente limitada enquanto o acordo nuclear de 2015 esteve em vigor. O pacto obrigou o Irã a remover a maior parte das centrífugas da instalação e suspender atividades de enriquecimento. Esse cenário mudou em 2018, quando os Estados Unidos se retiraram do acordo, levando o Irã a retomar e expandir suas operações.
A AIEA tem alertado com frequência que o atual patamar de enriquecimento não se justifica para nenhum programa civil. Segundo o órgão, o volume de urânio enriquecido acumulado em Fordow e em outras usinas iranianas representa uma ameaça concreta à estabilidade do Oriente Médio.
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