Olaf Scholz tentará construir uma base sólida para o futuro alemão
Tobias Schwarz/AFP - 7.12.2021O novo chanceler da Alemanha, Olaf Scholz, assume o poder nesta quarta-feira (8). O político, de 63 anos, tem a missão de suceder a uma das governantes contemporâneas mais conhecidas do mundo, Angela Merkel, que permaneceu à frente do país por 16 anos.
O grande desafio de Scholz nos próximos anos será pavimentar o futuro alemão, que sofre em questões de infraestrutura básica, como telecomunicações. Em entrevista ao R7, o professor de relações internacionais da Facamp James Onnig destacou a capacidade estratégica do novo chanceler.
“O Scholz é um cara esperto. Uma vez ele disse que a Europa precisava se ligar que em breve o continente terá apenas 7% da população mundial. Ele já deu os alertas dele, é um estrategista”, explicou Onnig. “[Scholz trará] uma transformação forte para o futuro.”
A construção de uma Alemanha pronta para os próximos desafios globais passa pela revitalização da rede de telefonia e telecomunicações nacional. Segundo Onnig, os preços desses serviços na Alemanha chegam a ser 16% mais altos do que em outros centros europeus.
“A infraestrutura alemã, hoje, é uma bagaceira”, brinca Onnig. “Eles têm problema na internet, na telefonia. Isso tudo por causa dos gastos na época da unificação. Eles foram segurando o dinheiro e agora precisam ir atrás de novos investimentos. [...] O povo está exigindo um governo mais digital e para isso é preciso ter cabeamento e banda larga.”
Scholz foi ministro de Merkel em duas oportunidades
Odd Andersen / AFP - 27.09.2021Scholz é advogado de formação e membro do Partido Social-Democrata. O político ficou conhecido nacionalmente após ser ministro das Finanças de Merkel, entre 2007 e 2009.
Em 2011, Scholz foi eleito primeiro-prefeito de Hamburgo — a segunda cidade mais populosa do país. No mesmo dia, o alemão foi empossado novamente como ministro das Finanças.
Scholz permaneceu como primeiro-prefeito até 13 de março de 2018 e assumiu no dia seguinte o cargo de vice-chanceler da Alemanha. O político concilia desde então a função com as obrigações do Ministério das Finanças.
“Na posição de ministro das Finanças ele se saiu muito bem. Foi assim que ganhou confiança do leque político e se posicionou como candidato. Acho que ele sacou essa vulnerabilidade alemã. Conseguiu mostrar ao povo alemão que eles eram bons, mas talvez não fossem bons em 20 anos.”
Merkel é criticada por exercer baixa influência política
John MacDougall / Pool via AFP - 2.12.2021Uma das grandes críticas contra o governo de Merkel foi a apatia alemã nas questões políticas do continente e do mundo, indo de encontro com a expansão industrial e econômica do país — reconhecida como a grande potência da União Europeia.
Scholz assume o cargo em um momento elevado de tensão entre Ocidente e Rússia devido à crise na fronteira com a Ucrânia. Para Onnig, a grande missão do novo chanceler é criar um diálogo contínuo entre os russos e o mundo, no qual a Alemanha seria o grande mediador.
“Scholz vai querer ser uma ponte entre Rússia e Estados Unidos. Pelo que é possível entender nas entrevistas e posturas dele, o objetivo é a Alemanha se tornar um dos ângulos de um triângulo com americanos e russos. [...] A intenção é trazer a Rússia para mais perto da Europa, já que a questão da Ucrânia deixou tudo tenso.”
Se por um lado é importante manter a boa relação com os Estados Unidos — parceiro da Alemanha na Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) —, é vital para a economia e a população alemãs o diálogo saudável com a Rússia. Isso porque grande parte da matriz energética do país é fornecida pelos gasodutos russos.
Para Onnig, Scholz demonstrará ao mundo que não é dependente de nenhum dos dois países, mas ainda assim buscará uma relação estreita com Vladimir Putin.
“Scholz vai priorizar a relação com a Rússia, não só como um fornecedor de gás, mas alguém mais tranquilo do seu lado. A ideia é não deixar o Putin nervoso. A Rússia tem todo um poderio e estamos vivendo um momento de tensão com as questões da China e da Ucrânia”, opina o professor da Facamp.
Casos de Covid-19 no país dispararam nas últimas semanas
Annegret Hilse/Reuters - 01.12.2021A Alemanha enfrenta uma alta de casos de Covid-19, capitaneada por parte da população que não deseja se imunizar contra a doença causada pelo novo coronavírus. Ao assumir o país nesta quarta-feira, Scholz terá de lidar com os protestos contrários às medidas restritivas impostas pelo governo de Merkel.
Na opinião de Onnig, o primeiro passo é continuar a elaboração de ações de distanciamento social para frear a disseminação do vírus no país. Após a pandemia, o professor acredita que Scholz retomará o pioneirismo farmacêutico e biomédico alemão.
“Os laboratórios da Alemanha não ficaram para trás, mas a lista de medicamentos mundiais é tão grande que você tem China e Índia como novos centros produtores de medicamentos. O próprio parque americano é muito grande. O parque europeu — francês e alemão — ainda é muito importante, mas com um pé atrás.”
O professor afirma que os investimentos públicos na indústria farmacêutica foram sacrificados pelo bem-estar social alemão, como as boas escolas e o excelente transporte do país. Esse fator pode ter controlado a própria extrema direita alemã — que elegeu na década de 1930 Adolf Hitler.
“Talvez esteja aí a explicação para a extrema direita não nascer com força na Alemanha. Enquanto outros países têm candidato de direita e extrema direita pipocando, na Alemanha eles aparecem, fazem uma gracinha como um golfinho e desaparecem”, conclui Onnig.