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Os desafios para Olaf Scholz, o sucessor de Merkel na Alemanha

Novo chanceler tentará reviver o protagonismo político alemão, pouco trabalhado pela antecessora nos últimos 16 anos

Internacional|Lucas Ferreira, do R7

Olaf Scholz tentará construir uma base sólida para o futuro alemão
Olaf Scholz tentará construir uma base sólida para o futuro alemão

O novo chanceler da Alemanha, Olaf Scholz, assume o poder nesta quarta-feira (8). O político, de 63 anos, tem a missão de suceder a uma das governantes contemporâneas mais conhecidas do mundo, Angela Merkel, que permaneceu à frente do país por 16 anos.

O grande desafio de Scholz nos próximos anos será pavimentar o futuro alemão, que sofre em questões de infraestrutura básica, como telecomunicações. Em entrevista ao R7, o professor de relações internacionais da Facamp James Onnig destacou a capacidade estratégica do novo chanceler.

“O Scholz é um cara esperto. Uma vez ele disse que a Europa precisava se ligar que em breve o continente terá apenas 7% da população mundial. Ele já deu os alertas dele, é um estrategista”, explicou Onnig. “[Scholz trará] uma transformação forte para o futuro.”

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A construção de uma Alemanha pronta para os próximos desafios globais passa pela revitalização da rede de telefonia e telecomunicações nacional. Segundo Onnig, os preços desses serviços na Alemanha chegam a ser 16% mais altos do que em outros centros europeus.


“A infraestrutura alemã, hoje, é uma bagaceira”, brinca Onnig. “Eles têm problema na internet, na telefonia. Isso tudo por causa dos gastos na época da unificação. Eles foram segurando o dinheiro e agora precisam ir atrás de novos investimentos. [...] O povo está exigindo um governo mais digital e para isso é preciso ter cabeamento e banda larga.”

Primeiro desafio para Scholz será a pandemia

Quem é o próximo chanceler alemão?

Scholz foi ministro de Merkel em duas oportunidades
Scholz foi ministro de Merkel em duas oportunidades

Scholz é advogado de formação e membro do Partido Social-Democrata. O político ficou conhecido nacionalmente após ser ministro das Finanças de Merkel, entre 2007 e 2009.


Em 2011, Scholz foi eleito primeiro-prefeito de Hamburgo — a segunda cidade mais populosa do país. No mesmo dia, o alemão foi empossado novamente como ministro das Finanças.

Scholz permaneceu como primeiro-prefeito até 13 de março de 2018 e assumiu no dia seguinte o cargo de vice-chanceler da Alemanha. O político concilia desde então a função com as obrigações do Ministério das Finanças.


“Na posição de ministro das Finanças ele se saiu muito bem. Foi assim que ganhou confiança do leque político e se posicionou como candidato. Acho que ele sacou essa vulnerabilidade alemã. Conseguiu mostrar ao povo alemão que eles eram bons, mas talvez não fossem bons em 20 anos.”

Protagonismo político alemão

Merkel é criticada por exercer baixa influência política
Merkel é criticada por exercer baixa influência política

Uma das grandes críticas contra o governo de Merkel foi a apatia alemã nas questões políticas do continente e do mundo, indo de encontro com a expansão industrial e econômica do país — reconhecida como a grande potência da União Europeia.

Scholz assume o cargo em um momento elevado de tensão entre Ocidente e Rússia devido à crise na fronteira com a Ucrânia. Para Onnig, a grande missão do novo chanceler é criar um diálogo contínuo entre os russos e o mundo, no qual a Alemanha seria o grande mediador.

“Scholz vai querer ser uma ponte entre Rússia e Estados Unidos. Pelo que é possível entender nas entrevistas e posturas dele, o objetivo é a Alemanha se tornar um dos ângulos de um triângulo com americanos e russos. [...] A intenção é trazer a Rússia para mais perto da Europa, já que a questão da Ucrânia deixou tudo tenso.”

Se por um lado é importante manter a boa relação com os Estados Unidos — parceiro da Alemanha na Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) —, é vital para a economia e a população alemãs o diálogo saudável com a Rússia. Isso porque grande parte da matriz energética do país é fornecida pelos gasodutos russos.

Para Onnig, Scholz demonstrará ao mundo que não é dependente de nenhum dos dois países, mas ainda assim buscará uma relação estreita com Vladimir Putin.

“Scholz vai priorizar a relação com a Rússia, não só como um fornecedor de gás, mas alguém mais tranquilo do seu lado. A ideia é não deixar o Putin nervoso. A Rússia tem todo um poderio e estamos vivendo um momento de tensão com as questões da China e da Ucrânia”, opina o professor da Facamp.

Casos de Covid-19 no país dispararam nas últimas semanas
Casos de Covid-19 no país dispararam nas últimas semanas

A Alemanha enfrenta uma alta de casos de Covid-19, capitaneada por parte da população que não deseja se imunizar contra a doença causada pelo novo coronavírus. Ao assumir o país nesta quarta-feira, Scholz terá de lidar com os protestos contrários às medidas restritivas impostas pelo governo de Merkel.

Na opinião de Onnig, o primeiro passo é continuar a elaboração de ações de distanciamento social para frear a disseminação do vírus no país. Após a pandemia, o professor acredita que Scholz retomará o pioneirismo farmacêutico e biomédico alemão.

“Os laboratórios da Alemanha não ficaram para trás, mas a lista de medicamentos mundiais é tão grande que você tem China e Índia como novos centros produtores de medicamentos. O próprio parque americano é muito grande. O parque europeu — francês e alemão — ainda é muito importante, mas com um pé atrás.”

O professor afirma que os investimentos públicos na indústria farmacêutica foram sacrificados pelo bem-estar social alemão, como as boas escolas e o excelente transporte do país. Esse fator pode ter controlado a própria extrema direita alemã — que elegeu na década de 1930 Adolf Hitler.

“Talvez esteja aí a explicação para a extrema direita não nascer com força na Alemanha. Enquanto outros países têm candidato de direita e extrema direita pipocando, na Alemanha eles aparecem, fazem uma gracinha como um golfinho e desaparecem”, conclui Onnig.

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