Papa chega a Portugal em meio a protestos e com desafio de abordar abusos sexuais da Igreja Católica
Jornada Mundial da Juventude custará ao menos R$ 830 milhões, sendo que metade virá dos cofres públicos enquanto país vive crise
Internacional|Do R7, com AFP
O papa Francisco chegou nesta quarta-feira (2) em Lisboa, onde é aguardado por quase 1 milhão de jovens peregrinos de todos os continentes para a JMJ (Jornada Mundial da Juventude), um grande evento para uma Igreja Católica em plena reflexão sobre seu futuro.
Os principais desafios do pontífice serão enfrentar os protestos contra os gastos públicos de quase R$ 1 bilhão para promover o evento, as paralisações de trabalhadores em decorrência disso, a retirada de pessoas em situação de rua do trajeto que fará pela capital portuguesa (escondidos pelo poder público) e tratar sobre os escândalos de abusos sexuais por padres e bispos na Igreja Católica.
Com 11 discursos e 20 eventos públicos previstos, a agenda da 42ª viagem ao exterior do pontífice será intensa para o jesuíta argentino, de 86 anos, que passou por uma cirurgia no abdômen há dois meses.
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Os organizadores da JMJ esperam a presença de um milhão de peregrinos, procedentes de mais de 200 países, em uma semana de atos festivos, culturais e espirituais que começou na terça-feira com a missa de abertura celebrada em um parque no centro da capital portuguesa.
As autoridades de Lisboa mobilizaram 16 mil integrantes das forças de segurança, do serviço de proteção civil e do setor de emergências médicas para o evento.
Abusos sexuais na Igreja Católica
Francisco é o quarto papa a visitar Portugal, onde já esteve em 2017, e pode aproveitar a JMJ para abordar a delicada questão dos abusos sexuais de menores de idade na Igreja, seis meses após a publicação de um relatório impactante de uma comissão de especialistas independentes.
O documento, divulgado em fevereiro após a investigação solicitada pela Conferência Episcopal portuguesa, revelou que 4.815 menores foram vítimas de abusos sexuais em um ambiente religioso desde 1950. As agressões foram ocultadas pela cúpula eclesiástica de forma "sistemática", segundo o relatório dos especialistas.
De acordo com a Conferência Episcopal e a direção do comitê organizador local da JMJ, o papa deve reunir-se em caráter privado com vítimas dos abusos, mas o encontro não aparece em sua agenda oficial.
Protestos contra gastos públicos
Várias entidades e sindicatos de Portugal anunciaram que vão entrar em greve nesta semana em protesto contra os gastos públicos por causa da visita do papa Francisco ao país. Dos 194 contratos ligados ao evento, cerca de 76% não foram submetidos à concorrência para tomada de preços.
O governo português gastou 38 milhões de euros, o equivalente a R$ 200 milhões, para garantir a estrutura necessária durante os cinco dias de programação em Lisboa. A prefeitura da capital do país deverá desembolsar valor semelhante — outros R$ 200 milhões.
Não há números globais nem oficiais divulgados até agora, mas estima-se que a JMJ vá custar cerca de 160 milhões de euros no total, mais de R$ 830 milhões, a maior parte desse valor será bancada pelo Estado português.
O país vive uma crise econômica que se intensificou após a pandemia de Covid-19. A população enfrenta a maior taxa de inflação dos últimos 30 anos, aumento na taxa de juros e crescimento do desemprego neste ano.
Considerada a maior reunião internacional de católicos, a JMJ foi criada em 1986 por iniciativa de João Paulo II. A edição de Lisboa deveria ter acontecido em 2022, mas foi adiada devido à pandemia.