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Posts de militares de Mianmar no Facebook impulsionaram genocídio

Ataques contra a minoria muçulmana rohingya foram estimulados a partir de postagens falsas, em perfis administrados secretamente por militares

Internacional|Fábio Fleury, do R7

Massacre contra a minoria rohingya foi impulsionado pelo exército nas redes
Massacre contra a minoria rohingya foi impulsionado pelo exército nas redes

O genocídio da minoria muçulmana rohingya, em Miamar, foi alimentado por uma multidão de perfis no Facebook aparentemente inofensivos, mas que eram administrados secretamente por membros das Forças Armadas do país.

O conflito, que começou em agosto de 2017 no estado de Rakhine, no norte do país, fez com que quase 700 mil rohingyas fugissem para Bangladesh. Outros 7 mil foram mortos. Até então, a população era de cerca de 1 milhão de pessoas.

Estratégia nas redes

Os perfis apareciam com pessoas normais, fãs de bandas pop e heróis nacionais do país, mas ano a ano, publicavam posts que incitavam o ódio contra os rohingya.


Leia mais: Anistia: crise dos rohingyas é fruto de sociedade incentivada a odiar

Uma dizia que o islamismo era uma ameaça global contra o budismo, religião predominante no país. Outras publicavam notícias falsas, como uma que afirmava que uma mulher budista tinha sido estuprada por um muçulmano.


O que não era divulgado é que esses perfis eram comandados por militares de Mianmar, que usaram a rede social como um meio de promover uma limpeza étnica no país. A denúncia foi feita nesta semana pelo New York Times.

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Operação militar


Durante mais de cinco anos, os militares usaram o alcance do Facebook entre a população do país para espalhar propaganda contra os rohingya, o que gerou uma onda de assassinatos, estupros e uma das maiores migrações dos últimos anos.

Em agosto, o Facebook derrubou as contas oficiais de líderes militares do país, mas ainda não havia uma noção exata do tamanho e do alcance da campanha, devido ao imenso número de contas falsas utilizadas.

O jornal norte-americano ouviu cinco pessoas que pediram para permanecerem anônimas por questões de segurança. Elas afirmaram que a campanha foi orquestrada a partir de bases militares de segurança máxima próximas à capital do país, Naypyidaw e, no auge, envolveu mais de 700 pessoas trabalhando simultaneamente.

Resposta do Facebook

Segundo o chefe de políticas de segurança cibernética do Facebook, Nathaniel Gleicher, a empresa encontrou “tentativas claras e coordenadas de espalhar propaganda secretamente, diretamente ligadas aos militares de Mianmar”.

A rede social afirmou em um comunicado que tirou do ar contas que supostamente seriam voltadas para o entretenimento, mas na realidade estavam ligadas à campanha e tinham mais de 1,3 milhão de seguidores.

“Os militares se beneficiaram do Facebook”, disse Thet Swe Win, fundador da ONG Synergy, que busca a pacificação de Mianmar, ao jornal. “Não diria que o Facebook está diretamente envolvido na limpeza étnica, mas eles deviam ter agido para evitar que a plataforma fosse usada para instigar um genocídio.”

A rede social admitiu que demorou a agir em Mianmar. Isso foi em agosto, quando mais de 700 mil pessoas da minoria rohingya já tinham deixado o país. A ONU chamou o movimento de um “exemplo claro de limpeza étnica”

Páginas falsas

No início da campanha, os operadores criaram páginas de notícias falsas e também comunidades para exaltar celebridades birmanesas. Com isso, conseguiram atrair milhares de seguidores.

Essas páginas então distribuíam fotos e notícias falsas, além de posts que acirravam os ânimos contra os muçulmanos do país. Ocasionalmente apareciam imagens de corpos falsamente atribuídas a massacres que teriam sido cometidos pelos rohingya.

A análise dos dados mostrou que algumas das principais fontes desse conteúdo vinham de áreas próximas a Naypyidaw, justamente onde ficam as bases militares.

Clima de medo

Uma das táticas usadas foi criar um clima de medo. Em 2017, grupos de birmaneses budistas começaram a receber rumores de que muçulmanos rohingyas estariam armando ataques contra eles no aniversário do 11 de Setembro.

Ao mesmo tempo, os muçulmanos recebiam mensagens afirmando que monges budistas estavam organizando protestos contra eles. Esse esquema foi denunciado ao New York Times por duas fontes em Mianmar. O objetivo era criar um clima de medo, dando a impressão que apenas os militares seriam a solução.

Outro exemplo aconteceu com uma página chamada “Olhos Opostos”. Criada como um blog, ela migrou para o Facebook e teve o controle tomado pelos militares, sempre postando notícias favoráveis e textos atacando minorias étnicas como os rohingya.

Em uma ocasião, a página publicou um texto comemorando uma vitória dos militares em um conflito interno no estado de Kachin. Mas o post foi ao ar antes que a notícia sobre a vitória fosse divulgada oficialmente pelo exército. Em um comentário, um oficial escreveu que a informação não era pública e deveria ser retirada, o que aconteceu em seguida.

Veja abaixo imagens que mostram o drama dos rohingyas nos campos de refugiados em Bangladesh

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