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República Democrática do Congo tem eleição carregada de tensões

Após dois mandatos, presidente Joseph Kabila vai deixar o cargo; antigas tensões pós-guerra civil ameaçam a paz no processo eleitoral

Internacional|Eugenio Goussinsky, do R7

Seção eleitoral em Kinshasa, capital da República Democrática do Congo
Seção eleitoral em Kinshasa, capital da República Democrática do Congo Seção eleitoral em Kinshasa, capital da República Democrática do Congo

Situada na região central da África, a RDC (República Democrática do Congo), antigo Zaire, tem, pela primeira vez na história, a chance de ter o segundo presidente consecutivo eleito pelo voto popular.

Neste domingo (30), as eleições presidenciais, adiadas desde 2016, finalmente ocorrerão no país, que escolherá um substituto para o atual presidente Joseph Kabila, de 47 anos.

Além do presidente, 40 milhões de congoleses irão eleger 500 deputados do Parlamento e 715 deputados regionais.

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As eleições, porém, são rodeadas de tensão, em função de conflitos que foram amenizados, mas ainda parecem longe de estarem encerrados.

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Confusões eleitorais

Na última semana, a comissão eleitoral anunciou que três regiões do país, onde a oposição teria muitos votos, votarão apenas em março. As razões alegadas são a epidemia de ebola e "ameaças terroristas".

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Oito mil urnas eletrônicas foram destruídas em incêndio num depósito, na capital Kinshasa, no último dia 13, o que provocou o último adiamento do pleito, marcado anteriormente para o dia 23 de dezembro.

O país, que conquistou a independência em 1960, ainda vive sob um regime polêmico, um híbrido de democracia e ditadura, sob o comando de Kabila, presidente da RDC desde 2001, quando chegou ao poder após o assassinato do pai, Laurent-Désiré Kabila.

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O atual presidente foi o vencedor nas eleições presidenciais de 2006 e 2011. A sua reticência em abandonar o poder no país que conseguiu pacificar, após a Segunda Guerra do Congo (1998-2003), tem como causa a própria razão de ser das inúmeras guerras na região: a riqueza mineral, já que o país possui grandes minas de ouro, cobalto e coltan, entre outros.

O argumento para que a votação fosse seguidamente adiada é a persistência de alguns conflitos que afetam a logística e a infraestrutura do país. Isso, no entanto, não convenceu os opositores, que mantêm constantes protestos, muitos deles reprimidos pelo governo.

Determinação legal

Mas, sob o prisma da Constituição, não há mais como esperar. A lei do país obriga o presidente a deixar o posto ao fim de dois mandatos. E, por isso, Kabila decidiu apoiar seu ex-ministro do Interior, Emmanuel Ramazani Shadary, como sucessor.

Os concorrentes principais de Shadary são Vital Kamerhe (ex-presidente da Assembleia Nacional e líder do opositor União para a Nação Congolesa) e Felix Tshisekedi, presidente do partido União para a Democracia e o Progresso Social, também de oposição.

Desde que, em 16 de janeiro de 2001, foi assassinado Laurent-Désiré Kabila, o pai de Joseph, após ele ter conseguido depor o ditador Mobuto Sese Seko (que governou entre 1965 e 1997), o sucessor tentou cicatrizar as marcas da guerra.

Acontece que, ainda que ele tenha conseguido uma pacificação, ao chegar a acordo em 2002 e formalizá-lo em 2003, forças remanescentes da guerra ameaçaram derrubá-lo com duas tentativas de golpe em 2004.

Dessas forças remanescentes, encontram-se partidários do já falecido Sese Seko e milícias ligadas aos interesses de outros países da região. Nesta declaração à Reuters, Kabila explicou o porquê de sua cautela:

"Meu papel será garantir que não voltemos à estaca zero. E estaca zero significa como encontramos o Congo 20, 22 anos atrás."

Guerra e genocídio

A Segunda Guerra do Congo, ou Guerra Mundial Africana, se iniciou após o fim do mandato de Seko, em 1998, e se encerrou em 2003, já sob o regime de Kabila.

Os combates começaram em função da desconfiança do governo de Ruanda de que milícias hutus, supostamente instaladas na RDC, ameaçavam o país. Tal desconfiança levou forças de Ruanda a invadirem o território da RDC em busca dos rivais.

Com cerca de 85% dos ruandeses sendo de etnia hutu, Ruanda, porém, é dominada por um governo tutsi, representado pela FPR (Frente Patriótica de Ruanda) que tomou o poder na Guerra Civil de Ruanda em 1994.

Na época, em cem dias, cerca de 800 mil pessoas, na maioria tutsis, foram massacradas por extremistas étnicos hutus, no chamado Genocídio de Ruanda.

A Segunda Guerra do Congo foi consequência deste conflito em Ruanda, que acabou envolvendo vários países da região. Uganda e Burundi, por exemplo, apoiaram Ruanda.

Já o Zimbabwe, Chade, Namíbia e Angola ficaram ao lado da RDC. Pelo menos outras 25 milícias também participaram.

E, mesmo que a guerra tenha sido superada, a ameaça destes grupos e países ainda ronda a RDC, um país que tenta se reconstruir democraticamente sobre esperança e muitas riquezas minerais, embaixo dos escombros.

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