O ditador da Venezuela, Nicolás Maduro, toma posse nesta sexta-feira (10) e assume o terceiro mandato como presidente do país. Em meio a um resfriamento da relação com o venezuelano, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva não vai à cerimônia, e o Brasil será representado pela embaixadora em Caracas, Gilvânia Maria de Oliveira. O evento terá forte esquema de segurança, com ameaças de protestos pela oposição a Maduro. Apesar de a Venezuela ter convidado o Brasil para a posse, o documento não foi enviado especificamente a Lula. Segundo fontes ouvidas pela RECORD, o convite foi recebido na terça (7). O texto chama o corpo diplomático brasileiro para o evento. Devido ao clima entre os dois políticos, Lula já tinha decidido não ir ao evento, mesmo antes de o convite ser recebido pelo Brasil. Nos bastidores, o presidente marcou posição de não comparecer. O assessor do petista para assuntos internacionais, Celso Amorim, que atuou em mediações durante as eleições venezuelanas, também não deve marcar presença.Dias antes da posse, Maduro ativou um plano militar e acionou as forças de segurança, além de milícias armadas, para se proteger contra ações da oposição. Nessa quinta-feira (9), a líder opositora María Corina Machado foi detida ao deixar um protesto em Caracas contra a posse do ditador. Ela foi liberada horas depois.Outro nome do grupo que discorda de Maduro é o liberal Edmundo González — representante do grupo nas eleições de julho que saiu da Venezuela após o presidente emitir mandados de prisão contra ele e se asilou na Espanha. Perseguido pela ditadura de Maduro, González tem a cabeça a prêmio por US$ 100 mil para quem ajudar a detê-lo. No entanto, o político afirmou que pretende ir à Venezuela e tomar posse como presidente no lugar de Maduro. O opositor garante que contou com o apoio majoritário dos cidadãos nas eleições presidenciais de julho do ano passado.Em Buenos Aires, no último sábado (4), quando encontrou o presidente argentino, Javier Milei, González afirmou que tem “toda intenção de chegar à Venezuela” na data da mudança de governo. “Minha intenção é ir à Venezuela simplesmente para tomar posse do mandato que os venezuelanos me deram quando me elegeram com 7 milhões de votos para servir como presidente”, declarou.Maduro e Lula enfrentam um período de afastamento — o último encontro dos dois foi em março do ano passado, na 8ª Cúpula da Celac (Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos), em São Vicente e Granadinas. O estranhamento começou depois do pleito presidencial da Venezuela. O ditador diz ter derrotado González.Maduro, no entanto, não apresentou as atas eleitorais, que contêm as informações sobre as urnas de cada seção de voto. Sem os dados, o Brasil não reconheceu nem refutou a suposta reeleição do ditador.Pouco antes do pleito venezuelano, Lula criticou a fala de Maduro ao ameaçar um “banho de sangue” e pediu respeito à democracia. Na sequência, o venezuelano, sem citar o brasileiro, indagou como o resultado não seria respeitado, se iria vencer.Em novembro do ano passado, em meio às tensões entre Brasil e Venezuela, a Polícia Nacional Bolivariana, comandada pelo regime de Maduro, publicou uma imagem com a silhueta de Lula, a bandeira do Brasil e a seguinte frase: “Quem mexe com a Venezuela se dá mal”. Apesar de não mencionar o petista diretamente, a publicação foi apagada.Mesmo sem reconhecer nem refutar a vitória do ditador, Lula chegou a dizer, poucos dias depois do pleito venezuelano, que não há nada “grave” nem “anormal” no processo eleitoral venezuelano. O brasileiro cobrou publicamente, no entanto, a divulgação das atas eleitorais.“Tem uma briga, como que vai resolver essa briga? Apresenta a ata. Se a ata tiver dúvida entre a oposição e a situação, a oposição entra com recurso e vai esperar na Justiça tomar o processo, e aí vai ter uma decisão, que a gente tem que acatar. Eu estou convencido de que é um processo normal, tranquilo. O que precisa é que as pessoas que não concordam tem o direito de se expressar e provar que não concordam e o governo tem o direito de provar que está certo. Na hora que tiver apresentado as atas e for consagrada que a ata é verdadeira, todos nós temos a obrigação de reconhecer o resultado eleitoral na Venezuela”, defendeu Lula, à época.A vitória do ditador foi confirmada com a apuração dos votos e pelo Supremo Tribunal de Justiça da Venezuela, sob críticas da oposição de falta de transparência. Partidos contrários a Maduro apontaram interferência em candidaturas e rejeitaram a vitória do presidente. Apesar das posições, Maduro seguirá no comando do país por mais seis anos. Ele está no cargo desde 2013.