Só 3 parlamentos da Europa não têm representantes da extrema-direita
Na eleição da semana passada, Portugal elegeu pela primeira vez um deputado extremista; entenda o avanço da ultra-direita no continente
Internacional|Giovanna Orlando, do R7
A onda da extrema-direita na Europa segue avançando.
Portugal, um dos únicos países que não tinha representantes extremistas em seu Parlamento, acaba de eleger André Ventura, do Chega!, como deputado.
Apesar de não ser a primeira vez que o partido concorre em uma eleição, essa é a primeira vez na história do país que um deputado ultradireitista é eleito. Por outro lado, Portugal também reelegeu o socialista António Costa como presidente.
Agora, apenas três países não têm representantes ultradireitistas em cargos políticos: Luxemburgo, Malta e a Irlanda.
Unidos por um sentimento anti-União Europeia, crises internas e crítica aos imigrantes, os nacionalistas exacerbaram os discursos e fizeram os partidos que os representam ganharam espaço e apoiadores.
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Crise é oportunidade para extremistas
O professor de História Contemporânea da UFJF, Odilon Caldeira Neto, destaca que o movimento da extrema-direita acaba se adequando ao momento vigente e que os partidos aproveitam momentos de crise para começar a atuar.
“As porções mais radicais da direita passam a reunir elementos para se apresentar de formas diversificadas à sociedade e passam a lidar de formas diferentes com aspectos diversos, como desemprego, crise financeira ou imigração”, explica.
Nacionalismo acima de tudo
Apesar de vários países europeus serem comandados por membros da extrema-direita, a agenda extremista não é uniforme e os objetivos e prioridades de cada governo varia de país para país, ainda que o sentimento nacionalista predomine.
Na Itália do ex-ministro do Interior Matteo Salvini, a prioridade é com a chegada de imigrantes que chegam pelo Mediterrâneo, fugindo das guerras na África e no Oriente Médio. Até ser preterido em um novo arranjo político que uniu o centro à centro-esquerda, Salvini fechou os portos, prendeu capitães de navios de ONGs e aprovou leis que dificultam o acolhimento dos imigrantes.
Victor Orbán, presidente da Hungria, já disse que o país precisa de “bebês húngaros”, em um comentário xenofóbico e anti-imigrante. Ele chegou a criar um incentivo financeiro para que casais puramente húngaros tivessem mais filhos.
Na França, Marine Le Pen concorreu contra Emmanuel Macron em 2017 e perdeu a corrida presidencial, mas ainda é o principal nome da ultradireita no país com um discurso islamofóbico e xenofóbico.
No Reino Unido, o Brexit escancarou o sentimento anti-União Europeia local. A ideia de que a nação havia perdido a soberania por causa do bloco moveu o plebiscito sobre a saída do bloco europeu. Depois disso, comentários e atos xenofóbicos explodiram no país, inclusive com a ameaça de que imigrantes legais e ilegais devem deixar o país quando a saída for oficializada.
O euroceticismo
Nas eleições para o Parlamento Europeu deste ano, os destaques ficaram com o crescimento de representantes do Partido Verde e de membros da extrema-direita. Enquanto os ambientalistas conquistaram 3% das cadeiras, os chamados eurocéticos conquistaram mais de 10%.
Os partidos que compõem os eurocéticos levantam bandeiras particulares, mas algumas das principais críticas são iguais.
“A quebra da unidade que compõe as identidades nacionais, a falta de autonomia dos países, o perigo à soberania nacional, e a questão da imigração é, sem dúvida, um fator comum”, exemplifica Odilon.
Risco para a democracia
A ascensão da extrema-direita pode representar um desejo comum pelo nacionalismo, autonomia e soberania do país, mas também infla discursos que excluem e perseguem minorias.
Além dos impactos sociais, parlamentos e governos dominados ou influenciados pela extrema-direita podem mexer nas estruturas políticas e econômicas.
“A extrema-direita pode impor sérias restrições à liberdade de pensamento, política, de mercado, imprensa, cátedra, livre associação, assim por diante”, diz o especialista, que ressalta que essas práticas “corroem os regimes democráticas”.