Uma influenciadora chinesa que vive em Taiwan teve seu visto revogado depois de divulgar vídeos nas redes sociais em que defendia abertamente a ideia de que a China deve tomar a ilha à força. A decisão foi anunciada pela Agência Nacional de Imigração de Taiwan (NIA) na última quarta-feira (12). Segundo o órgão, a mulher, identificada apenas pelo sobrenome Liu, deve deixar a ilha até 24 de março ou enfrentará deportação forçada.A medida ocorre em meio a tensões crescentes entre Taiwan e China. Na quinta-feira (13), o presidente taiwanês Lai Ching-te anunciou medidas mais rígidas para enfrentar o que classificou como uma crescente onda de infiltração, espionagem e guerra psicológica promovida por Pequim.Segundo a imprensa local, Liu, mais conhecida nas redes sociais como Yaya em Taiwan, é casada com um cidadão taiwanês e vivia na ilha com um visto de dependente. Com mais de 480 mil seguidores no Douyin -- a versão chinesa do TikTok -- e cerca de 700 inscritos no YouTube, ela frequentemente publica conteúdos pró-Pequim, nos quais chama Taiwan de “província” e repete a narrativa oficial chinesa de que a ilha é “uma parte inseparável da China”. Em um de seus vídeos, segundo a BBC, Liu disse que “a unificação completa da pátria é uma necessidade, independentemente do que o povo taiwanês queira”, sugerindo que a “unificação pela força” seria mais viável que uma solução pacífica.A NIA justificou a revogação do visto argumentando que o comportamento de Liu “advoga pela eliminação da soberania de Taiwan”, algo que, segundo a agência, “não é tolerado na sociedade taiwanesa”. A influenciadora deve ficar impedida de solicitar outro visto de dependente no país pelos próximos cinco anos, uma punição severa em um caso considerado raro, já que expulsões de cônjuges chineses de taiwaneses são excepcionais.A decisão gerou reações em Taiwan. O ministro do Interior, Liu Shyh-fang, disse que a liberdade de expressão “não é uma desculpa” para incentivar uma invasão militar contra a ilha, segundo a imprensa local.Em resposta às críticas, Liu postou um vídeo no YouTube após uma reunião de três horas com a NIA. Ela disse que defender a reunificação com a China é seu “sonho” e que não recebe financiamento de Pequim. “Como uma pessoa comum, tenho minhas opiniões pessoais. Por que não posso compartilhá-las?”, questionou, acusando as autoridades de Taiwan de causarem “danos reais” à sociedade.Segundo a NIA, declarações como “a China continental não precisa de nenhuma razão para sua reunificação forçada com Taiwan” violam regulamentos que regem autorizações de residência para reunião familiar. A agência também pediu que indivíduos evitem “declarações inapropriadas” em busca de lucro ou audiência online, alertando que tais ações desperdiçam recursos administrativos e podem infringir leis.A China, que reivindica Taiwan como parte de seu território apesar das objeções do governo democraticamente eleito em Taipei, intensificou nos últimos anos a pressão militar sobre a ilha.Essa pressão tem incluído grandes exercícios de guerra e, mais recentemente, a criação de uma zona de “treinamento com fogo real” a cerca de 74 quilômetros da costa sudoeste de Taiwan. O governo da ilha classificou a medida como uma “provocação flagrante” à segurança regional.