Tristeza pela morte de Mandela atravessa a África do Sul
Internacional|Do R7
Marcel Gascón. Johanesburgo, 6 dez (EFE).- A tristeza com a morte do ex-presidente sul-africano Nelson Mandela atravessou nesta sexta-feira toda a África do Sul, que expressa sua gratidão e chora em todos os cantos a perda do pai de sua democracia multirracial. "Pensei que ele melhoraria, que o teríamos um pouco mais entre nós", disse à Agência Efe Violet Ubisi, uma aposentada da cidade de Dumphries, na região oriental sul-africana de Mpumalanga. Violet soube da morte após um telefonema de um parente que trabalha em Johanesburgo e é grata a "tudo que ele fez por nós, pelos negros da África do Sul". A africana se diz triste e muito abalada, e não consegue evitar as lágrimas enquanto lamenta pela morte de "Tata" (pai, nome que muitos sul-africanos usam para Mandela). Três horas depois que o atual presidente sul-africano, Jacob Zuma, anunciou, pouco antes da meia-noite na África do Sul, a morte do que foi o preso político mais famoso do mundo, a voz característica do herói soou em todos os postos de gasolina da estrada que une Mpumalanga a Johanesburgo. Sentados em sua guarita, dois funcionários de um posto de gasolina da cidade de White River escutaram na rádio pública o hino da África do Sul. Pouco depois, ouve-se em meio ao silêncio da noite o discurso de Madiba - como Mandela é conhecido no país - no julgamento de Rivonia de 1964, no qual o então jovem ativista foi condenado à prisão perpétua por suas atividades contra o regime racista do "apartheid". Dentro de casa, a empregada que pede anonimato respirou aliviada porque Mandela "está descansando em paz", e previu com tristeza "uma luta" no seio da família do líder pela herança. A mesma voz profunda do herói sul-africano, que morreu nesta quinta-feira aos 95 anos, foi ouvida na bilheteria do pedágio onde trabalha Patricia Khanyi, que soube da notícia quando ligou a rádio no início de seu turno. "Sabíamos que aconteceria logo, mas mesmo assim sinto uma grande dor", declarou Khanyi à Efe entre os acordes na rádio de "My Black President", a canção que a diva do "afropop" Brenda Fassie, já falecida, dedicou a Madiba. Todas as emissoras de rádio transmitiam notícias e trechos dos discursos mais emblemáticos de Mandela, do de Rivonia ao de sua posse como presidente em 1994, passando pelo de sua libertação da prisão em 1990, após 27 anos preso. Entre suas poderosas palavras se intercalam canções em honra ao pai da democracia sul-africana, como o líder é descrito constantemente por locutores de todos os cantos da África do Sul diversificada que Mandela soube unir em torno de seu carisma, de suas palavras e de suas ações. Em uma zona industrial próxima à cidade de Belfast, perto da fronteira com a Suazilândia, o vigia Abraham Methula fumava, protegido do frio por um gorro. "Estou com o coração partido. Ele conquistou tudo para nós, fez tudo por nós", diz Methula à Agência Efe emocionado, e espera que seu exemplo se estenda entre os jovens sul-africanos com vocação de liderança. "Esses políticos de agora só roubam. É corrupção e mais corrupção", queixa-se Methula. Nos alto-falantes do complexo ouvia-se "Asimbonanga", o emocionado canto em inglês e zulu que o músico local Johnny Clegg compôs para Madiba nos anos 80. "É muito doloroso para mim", disse com timidez um dos dois motoristas, Lazarus Rathau, originário da província de Limpopo. Na frente dele passava um casal de jovens africâneres, a minoria descendente dos primeiros colonos centro-europeus que chegaram à África do Sul no século XVI, e da qual provinham os idealizadores e a classe dirigente do "apartheid" que Mandela combateu. No momento da entrevista, Martin Laubscher ainda não sabia da morte de Madiba. "Foi um homem bom, fez muitas coisas boas para nós" afirmou, apesar de certa reticência inicial. Na entrada para Johanesburgo, o rosto de Mandela se impõe nos cartazes publicitários dos jornais, que anunciam a edição de hoje pendurados nos postes de luz. Os prédios da cidade que impressionaram o jovem Mandela que um dia chegou a Johanesburgo cortam o céu por trás do nevoeiro. Setenta anos depois, em homenagem àquele jovem pobre e anônimo para seus compatriotas, que se tornou um dos maiores líderes da história mundial, as bandeiras tremulam hoje a meio mastro. EFE mg/tr/ma