Trump condicionou ajuda à Ucrânia a caso Biden, diz embaixador
Embaixador dos EUA na UE admitiu que ele próprio disse ao país europeu que pacote de ajuda militar só seria possível caso eles investigassem democratas
Internacional|Da EFE
O embaixador dos Estados Unidos na União Europeia, Gordon Sondland, admitiu nesta terça-feira (5) que ele próprio disse à Ucrânia neste ano que a Casa Branca não iria conceder um pacote de ajuda militar até que o país prometesse investigar políticos do Partido Democrata, incluindo o ex-vice-presidente Joe Biden, por um suposto caso de corrupção na campanha presidencial americana de 2016.
Em um documento divulgado por líderes democratas na Câmara dos Deputados, Sondland validou a tese principal apresentada pelos congressistas que pedem o impeachment do presidente dos EUA, Donald Trump: a de que o governo bloqueou ajuda de segurança à Ucrânia devido a fins partidários.
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"Eu disse que a retomada da ajuda dos EUA provavelmente não ocorreria até que a Ucrânia fornecesse a declaração pública contra a corrupção de que estávamos falando há muitas semanas", escreveu Sondland em um anexo a seu testemunho diante dos comitês da Câmara dos Representantes que investigam se Trump cometeu a irregularidade.
O embaixador disse que comunicou essa mensagem a Andrei Yermak, um conselheiro do presidente ucraniano Vladimir Zelenski, durante uma reunião em Varsóvia em 1º de setembro.
Os comitês que investigaram o caso ucraniano divulgaram nesta terça-feira uma transcrição do testemunho original de Sondland, feito a portas fechadas no dia 17 de outubro, assim como um anexo que o embaixador americano na UE enviou ontem aos congressistas.
Nesse anexo, Sondland afirma que a presença de outras testemunhas "refrescou a memória de certas conversas" relativas à Ucrânia das quais participou em setembro.
Embora Sondland diga que "ainda" não sabe "por que foi suspensa" a entrega de US$ 400 milhões à Ucrânia, ele também afirma: "No início de setembro, e na ausência de explicações confiáveis sobre a suspensão da ajuda, assumi que essa suspensão estava ligada à declaração proposta de luta contra a corrupção".
Sondland fazia alusão ao pedido de Trump, feito em uma conversa telefônica com Zelenski em julho, de que a Ucrânia investigasse o ex-vice-presidente dos EUA Joe Biden e os negócios de seu filho Hunter na empresa de gás ucraniana Burisma.
Após o primeiro depoimento de Sondland diante dos comitês, em outubro, várias testemunhas afirmaram que o embaixador da UE havia admitido a elas que a ajuda à Ucrânia tinha sido condicionada a fins partidários.
Com a própria admissão de Sondland sobre esse ponto, "o truque do presidente (sobre a Ucrânia) ficou ainda mais claro", disseram em comunicado os líderes democratas dos três comitês que investigam Trump.
Os comitês também revelaram uma transcrição do testemunho do ex-enviado especial dos EUA à Ucrânia, Kurt Volker, que, juntamente com Sondland e o secretário de Energia dos EUA, Rick Perry, formaram um grupo conhecido como "Três Amigos" e que era encarregado da política para o país europeu.
Trump teria instruído o trio a coordenar a política ucraniana com seu advogado pessoal e ex-prefeito de Nova York, Rudolph Giuliani, que reiterou que o governo ucraniano deveria investigar os democratas, e os quatro dirigiam um "canal paralelo" que contornava diplomatas como a ex-embaixadora americana Marie Yovanovitch.