Últimos quatro presidentes peruanos são acusados na Lava Jato
Um deles é Alan Garcia, que se matou com um tiro na cabeça nesta quarta-feira, quando a polícia chegou à casa dele para cumprir mandado de prisão
Internacional|Ana Luísa Vieira e Fernando Mellis, do R7
O mandado de prisão seguido de suicídio do ex-presidente peruano Alan García tráz à tona os nomes de outros três últimos presidentes do país que também são suspeitos de receber dinheiro ilegal da empreiteira Odebrecht.
A Lava Jato peruana tem determinado a prisão de diversos políticos acusados de receber propina da construtora brasileira.
A Odebrecht admitiu em 2016 à Justiça dos Estados Unidos subornos de US$ 29 milghões a autoridades do Peru entre 2005 e 2014.
O ex-presidente Alejandro Toledo Manrique (2001-2006) é acusado de receber US$ 20 milhões para favorecer a empreiteira na licitação da Rota do Pacífico. Ele chegou a ter a prisão decretada, mas está foragido.
Sucessor de Marinque e alvo do mandado de prisão na manhã desta quarta-feira (17), Alan García (2006-2011), teria recebido dinheiro para ajudar a Odebrecht nas obras da linha 1 do metrô de Lima.
Os investigadores apontam que cerca de US$ 4 milhões estavam depositados em uma conta de Luis Nava, ex-secretário de García durante seu segundo mandato presidencial.
Já o ex-presidente Ollanta Humala (2011-2016) e a mulher, Nadine Heredia, são apontados por Marcelo Odebrecht como beneficiários de US$ 2,8 milhões para financiar a campanha presidencial de 2011.
O casal chegou a ser preso em julho de 2017, mas foi solto em abril do ano passado após conseguir um habeas corpus para responder ao processo em liberdade.
O caso mais recente envolve o ex-presidente Pedro Pablo Kuczynski (2016-2018). Ele renunciou ao mandato no ano passado e foi preso no último dia 10.
Acordo
Em janeiro deste ano, a Lava Jato peruana divulgou um acordo firmado com a Odebrecht de colaboração com as investigações.
De acordo com informações veiculadas pelo jornal peruano La República, o texto prevê alguns pontos principais.
O primeiro deles diz respeito aos depoimentos: o acordo de colaboração — semelhante às delações premiadas praticadas no Brasil — permitirá que ex-funcionários da Odebrecht no Peru deponham aos procuradores para que suas declarações sejam usadas, também, em julgamentos futuros.
Em contrapartida, a empresa poderá voltar a operar no país — neste momento, entretanto, está impedida de voltar a firmar projetos com o Estado.
Outro dos pontos indica o pagamento de um montante de reparação civil da construtora ao Estado peruano. O valor acordado foi de 610 milhões de novos soles peruanos (aproximadamente R$ 722 milhões).
Em relação aos projetos, também foi determinado que, se a empresa reconhecer irregularidades cometidas em casos ainda desconhecidos, o Peru poderá pedir o pagamento de um novo montante de reparação.
Se, por sua vez, os procuradores peruanos descobrirem novos delitos e irregularidades, a Odebrecht deverá entregar toda a informação necessária.
O acordo também exige que a construtora brasileira entregue ao Peru todos os documentos solicitados pelos investigadores. Informações relativas ao Setor de Operações Estruturadas — centro nervoso do esquema de pagamento de subornos na América Latina —, atualmente sob custódia do Ministério Público Brasileiro, também poerão ser requisitadas.