Um ano antes de eleições, EUA veem 'boom' de candidaturas femininas
Trump deve ser desafiado por significativo número de mulheres em 2020. Diversidade do eleitorado feminino é questão-chave para candidaturas
Internacional|Ana Luísa Vieira, do R7
Ainda falta mais de um ano para as eleições presidenciais nos Estados Unidos, mas os americanos já têm uma certeza: caso tente a reeleição, Donald Trump será desafiado por um significativo número de mulheres.
Somente nesses primeiros meses de 2019, já foram cinco as líderes políticas a anunciarem sua intenção de concorrer às primárias — votações que ocorrem antes das eleições propriamente ditas para que as legendas escolham seus candidatos à presidência — pelo Partido Democrata.
Os nomes incluem Tulsi Gabbard, deputada pelo Havaí, e as senadoras Kirsten Gillibrand (de Nova York), Elizabeth Warren (do Massachusetts), Kamala Harris (da Califórnia) e Amy Klobuchar (de Minnesota).
Trump 'incentiva' mulheres na política
Para muitos, o aumento das representantes femininas na política norte-americana foi alavancado pela própria figura de Trump.
“Trump foi, na verdade, o gatilho para que as mulheres atuassem na política como um movimento de resistência. Desde que ele assumiu o poder, em 2017, vemos o surgimento de lideranças femininas como alternativa ao governo conservador capitaneado pelo presidente”, comenta Débora Prado, professora do Programa de Pós-graduação em Relações Internacionais da UFU (Universidade Federal de Uberlândia).
Débora, que é também pesquisadora do INCT-INEU (Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia para Estudos sobre os Estados Unidos), lembra que, após a ascensão de Trump à Casa Branca, episódios como a Marcha das Mulheres em Washington e o movimento #MeToo ganharam uma repercussão sem precedentes dentro e fora dos Estados Unidos.
Mesmo nas eleições legislativas do país em 2018, realizadas no último mês de novembro, as mulheres foram as grandes vencedoras — com mais de 100 candidatas eleitas ou reeleitas nas disputas.
Luta histórica
Não seria coerente, entretanto, restringir a arrancada feminina como uma reação às posturas do atual presidente, na opinião de Kelly Dittmar — professora de Ciências Políticas da Universidade de Rutgers, nos Estados Unidos.
Leia também
“A base para essas candidaturas de mulheres foi construída muito antes da presidência de Donald Trump. As mulheres buscam a presidência há mais de um século nos Estados Unidos, com candidaturas mais sérias nos últimos 50 anos. Cada uma que se apresentou como candidata desbancou as normas vigentes de masculinidade na política — que beneficiaram principalmente os homens”, conta.
“O sucesso de Trump — construído sobre padrões masculinos para a política —, na verdade, aumentou a sensação de urgência entre as mulheres para se impor e contra-atacar na esfera pública”, acrescenta.
Nesse sentido, é óbvio o destaque de Hillary Clinton — ainda que ela tenha saído derrotada do pleito em 2016. “Hillary rachou o teto de vidro a nível presidencial, não apenas por sua capacidade de ganhar votos populares e provar seu sucesso enquanto mulher, mas também em sua habilidade de oferecer uma nova imagem para o que pode ser um presidente”, completa a especialista americana.
Não só na presidência
Além da corrida presidencial, nomes como Alexandria Ocasio-Cortez — que se tornou, aos 29 anos, a mais jovem mulher a ser eleita para o Congresso dos Estados Unidos — e Nancy Pelosi — deputada e presidente da Câmara dos Representantes norte-americana — também têm roubado a cena na política americana.
Em comum, as expoentes do movimento feminino — que confirmaram ou não uma candidatura às eleições em 2020 — apresentam a filiação ao Partido Democrata, opositor de Donald Trump.
“Historicamente, as mulheres demonstram maior identificação com a agenda democrata. Há pesquisas mostrando que aproximadamente 52% das mulheres tendem a apoiar o Partido Democrata enquanto, entre os homens, o índice é de 44%. Isso acontece porque as causas da legenda são mais alinhadas às pautas femininas — eles defendem igualdade salarial para homens e mulheres, direitos reprodutivos e etc.”, pondera Débora Prado.
Para a pesquisadora, o grande desafio para as que pretendem desafiar Trump em 2020 é compreender as diversidades dentro do eleitorado feminino. “Não podemos colocar as mulheres ou entendê-las como um grupo coeso. Se, em 2016, havia Hillary Clinton se identificando como a escolha para as mulheres, agora temos mais de cinco concorrentes que precisam gerar alguma identificação além da questão de gênero. Há recortes de raça e classe também muito importantes”, conclui.
EM IMAGENS: Mulheres reforçaram protagonismo na política internacional em 2018