Unicef: Boko Haram raptou mais de mil crianças desde 2013 na Nigéria

Órgão da ONU informou que mais de mil sequestros foram documentados e verificados, mas que o número de casos pode ser muito maior

Internacional|Carolina Vilela* do R7, com Reuters

13/04/2018 - 11h04 (Atualizado em 22/02/2024 - 04h01)

O Boko Haram, grupo extremista que luta pelo fim da democracia na Nigéria, já sequestrou mais mil crianças desde 2013, segundo comunicado da Unicef, o Fundo das Nações Unidas para a Infância, divulgado nesta sexta-feira (13).

O grupo sequestra as crianças para espalhar o medo e mostrar seu poder, informou o comunicado publicado na véspera do aniversário de quatro anos do sequestro de 276 meninas na cidade de Chibok, caso que gerou indignação global.

O órgão ligado à crianças da ONU informou que já foram documentados e verificados mais de mil sequestros, mas acrescentou que o número de casos pode ser muito maior.

A Unicef entrevistou uma menina, Khadija, agora com 17 anos, que foi sequestrada pelo grupo depois de um ataque na cidade em que morava, trancada em um quarto, forçada a se casar com um dos membros do Boko Haram e estuprada várias vezes.

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Ela engravidou e "agora vive com seu filho em um campo de deslocados internos, onde ela lutou para se integrar com as outras mulheres devido às barreiras linguísticas e ao estigma de ser uma 'esposa do Boko Haram'", segundo a Unicef.

Pelo menos 2.295 professores foram mortos e mais de 1.400 escolas foram destruídas nos ataques do grupo extremista na Nigéria desde 2013, acrescentou o comunicado.

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Os conflitos do Boko Haram chegaram no seu décimo ano, mas parecem estar longe de chegar ao fim. Em fevereiro, uma facção sequestrou mais de 100 meninas, alunas de uma escola na cidade de Dapchi, antes intocada pela guerra.

Um mês depois, o grupo libertou quase todas as meninas raptadas. Cinco morreram nas mãos dos terroristas do Boko Haram. Uma menina, Leah Sharibu, permanece em cativeiro porque se recusou a se converter ao islamismo, disseram seus colegas libertados.

*Estagiária do R7,sob supervisão de Ana Luísa Vieira

No campo de refugiados de Bakassi, península na costa
atlântica da África, a troca de mercadorias fala mais alto que o dinheiro: um
pequeno pacote de lenha pode ser usado para comprar algum leite e uma tigela de
peixe paga o óleo de cozinha

*Texto de Ana Luísa Vieira, do R7.

Estima-se que 21 mil refugiados vivam em Bakassi — território administrado pela Nigéria até 2008, mas declarado parte da República dos Camarões pelo Tribunal Internacional de Justiça. Sem dinheiro e com bens escassos, seus habitantes encontraram no escambo uma forma de sobrevivência

A maioria dos refugiados de Bakassi foi desalojada pelo grupo fundamentalista Boko Haram — que tem como
objetivo acabar com a democracia na Nigéria e promover a educação
exclusivamente em escolas islâmicas. Acredita-se que a organização já tenha
deslocado 2 milhões de pessoas de seus locais de origem, em um movimento que a
Organização das Nações Unidas chama de “a pior crise humanitária do mundo”

Mais de 670 mil dos
africanos desalojados pelo Boko Haram vivem em assentamentos no nordeste da
Nigéria, onde o dinheiro é difícil de encontrar, as oportunidades de trabalho
são escassas e a comida enviada por grupos humanitários não é suficiente

O campo de Bakassi fica nos arredores da cidade nigeriana de
Maiduguri, considerada o berço do Boko Haram — que quer estabelecer um califado
na região que rodeia o lago Chade

No assentamento, os refugiados trocam o pouco que têm por
sementes e especiarias para fazer sopa, amendoim para ajudar uma mãe lactante a
produzir leite ou detergente para a higiene das roupas. “Fazemos isso porque
não temos dinheiro”, afirma Umaru Usman Kaski — que pretende trocar um pacote
de lenha avaliado em 16 centavos de dólar (aproximadamente R$ 0,50) por
alimentos para sustentar sua família de oito pessoas

As transações comerciais feitas com dinheiro são
consideradas arriscadas na Nigéria e em seus arredores por causa da corrupção.
Os envolvidos no esquema — oficiais do governo, soldados e outros — são
acusados de roubar mantimentos dos pacotes de ajuda enviados por grupos humanitários antes de distribuí-los para
os refugiados

Além disso, alguns dos que recebem a ajuda dos grupos humanitários em Bakassi têm medo de se tornar dependentes dos mantimentos em uma época em que muitos novos refugiados devem chegar ao assentamento

O refugiado Abdulwahal Abdulla, que tem 50 anos e mora em
Bakassi há três, relatou à agência Reuters que pretendia trocar sua tigela de
tilápias por óleo de cozinha. Abdulla não gosta de peixes, mas havia os
comprado porque os produtos estavam escassos no mercado e os pescados eram a
única opção

Já Nasiru Buba negociava pacotes de detergente para a
higiene de roupas. Ele comprou os produtos depois de trabalhar como porteiro na
cidade. A ideia era trocá-los por amendoins: “Minha mulher acaba de ter um bebê
e seu peito está sem leite. Preciso de amendoim para que ela possa produzir
leite e amamentar e não tenho dinheiro. Quando eu consegui esse detergente, não
precisava de nada, mas as coisas mudaram”, explica

No campo de refugiados de Bakassi, península na costa atlântica da África, a troca de mercadorias fala mais alto que o dinheiro: um pequeno pacote de lenha pode ser usado para comprar algum leite e uma tigela de peixe paga o óleo de cozinha *Texto de ...