Audiências do caso Backer retornam nesta segunda-feira (20), e 60 pessoas serão ouvidas
Investigações começaram em 2020 após denúncias de intoxicação por ingestão de cerveja da marca
Minas Gerais|Arnon Gonçalves*, Do R7 e Bruno Menezes, da Record TV Minas

As audiências do caso Backer serão retomadas nesta segunda-feira (20), no Fórum Lafayette, no bairro Barro Preto, em Belo Horizonte. Ao todo, serão ouvidas 60 testemunhas de defesa, incluindo os donos da cervejaria, durante os dez dias do processo, com uma média de seis pessoas ouvidas por dia. Em janeiro deste ano, as investigações do caso completaram três anos.
Nesta segunda, participam da audiência as seguintes testemunhas: Anderson Cândido de Almeida, Sharla de Almeida Jardim, Luís Fernando Braga Zanette, Tarick Rocha Campos Abreu, Lorenzo Meniconi de Paula Rosa e Munir Khalil Lebbos. Eles poderão ser ouvidos no tribunal ou por videoconferência.
As investigações sobre o caso começaram em 5 de janeiro de 2020, poucos dias depois de as primeiras vítimas passarem mal após terem consumido a cerveja Belorizontina, fabricada pela empresa. Segundo a Polícia Civil, 29 pessoas foram intoxicadas e desenvolveram uma síndrome que causa insuficiência renal aguda. Destas, dez morreram e 16 tiveram sequelas graves, como cegueira e paralisia da face.

Para Eliana Reis, esposa de José Osvaldo de Faria, morto por intoxicação da cerveja Belorizontina, essa fase das investigações é a “defesa do indefensável”. A mulher disse que não consegue mais nem ver a cerveja. José ficou internado durante um ano e meio após a intoxicação, mas não resistiu. Segundo boletim do hospital, ele teve cinco paradas cardiorrespiratórias, pneumonias, perdeu completamente a visão e estava com paralisia nas pernas e na face.
Audiência anterior
Em maio de 2022, 23 testemunhas e quatro vítimas foram ouvidas em audiência de instrução no Fórum Lafayette, na capital mineira, durante três dias. Ao todo, 11 pessoas viraram réus no caso, mas uma veio a óbito, restando dez.
Entre os réus, estão um chefe de manutenção da Backer, acusado de exercer a profissão sem preencher as condições da lei; três sócios da empresa, por adulteração de alimento destinado ao consumo; cinco responsáveis técnicos da Backer, por homicídio culposo; e uma testemunha, acusada de falso testemunho.
Histórico do caso
• 5 de janeiro de 2020
Investigações do caso Backer têm início na 4ª Delegacia de Polícia Civil do Barreiro, após a circulação de mensagens em redes sociais sobre a internação, em hospitais da capital mineira, de pessoas que teriam consumido a cerveja Belorizontina.
• 6 de janeiro de 2020
Amostras da cerveja Belorizontina são encaminhadas ao Instituto de Criminalística.
• 7 de janeiro de 2020
Morre Paschoal Demartini Filho, de 55 anos, que havia sido internado com síndrome nefroneural após ter consumido a cerveja Belorizontina. Foi o primeiro de sete óbitos registrados no decorrer do inquérito.
• 8 de janeiro de 2020
Resultados das análises das amostras indicam a presença de dietilenoglicol na bebida.
• 9 de janeiro de 2020
É instituída uma força-tarefa, composta da Polícia Civil de Minas Gerais, do Ministério Público de Minas Gerais, da Secretaria Estado de Saúde e do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), para investigar o caso, que vai várias vezes à empresa nos dias seguintes.
• 10 de janeiro de 2020
Mapa determina a interdição da cervejaria Backer, fabricante da Belorizontina.
• 11 de janeiro de 2020
Cervejas recolhidas na Backer e cedidas por parentes das vítimas são levadas de avião para o Distrito Federal, onde passam por teste de carbonatação, que verificou não terem sido violadas antes de submetidas a exames que detectaram a presença de monoetilenoglicol e dietilenoglicol no líquido. O teste deu a certeza de que a contaminação ocorreu dentro da fábrica.
Amostras de sangue das vítimas internadas detectam a presença de dietilenoglicol e um metabólito da substância, o ácido diglicólico.
• 13 de janeiro de 2020
Relatório de necropsia constata a intoxicação de Paschoal Demartini por dietilenoglicol. No decorrer das investigações, médicos legistas identificaram em necropsias de vítimas alterações neurológicas e renais em exames compatíveis com a intoxicação pelo dietilenoglicol.
• 16 de janeiro de 2020
A PCMG vai até a fornecedora do líquido refrigerador à Backer, em Contagem, na Grande BH, onde recolhe amostras de produtos químicos e documentos da empresa.
• 17 a 29 de janeiro de 2020
A Polícia ouve 26 pessoas, entre parentes dos intoxicados e representantes da empresa, o que permitiu compreender como as vítimas foram contaminadas e a atuação de cada investigado na produção cervejeira.
• 27 de fevereiro de 2020
Tanques de fermentação da cervejaria começam a ser analisados pela força-tarefa.
• 6 de março de 2020
Produto fluorescente é colocado no compartimento do líquido refrigerante e percorre as tubulações da fábrica, permitindo a identificação de dois grandes pontos de vazamento de dietilenoglicol e monoetilenoglicol. No período subsequente, os policiais analisam a produção da cervejaria e os dados colhidos.
• 9 de junho de 2020
A polícia informa que encontrou um grande vazamento na bomba do chiller. Também foram encontrados vários vazamentos nos canos que levam o monoetileno para os tanques de maturação e fermentação denominados como JB. Foram encontrados vazamentos dentro dos tanques, onde jorrava substância tóxica na cerveja. Após as misturas, a cerveja contaminada era engarrafada e levada para o consumo.
• 8 de abril de 2022
Mapa autoriza a retomada da produção de cervejas pela Backer, e a Capitão Senra volta a ser vendida no mercado.
• 25 de maio de 2022
É realizada a audiência de instrução do caso Backer no Fórum Laffayette. Ao todo, 23 testemunhas e quatro vítimas foram ouvidas.
• 4 de janeiro de 2023
Processo se encontra em fase de perícia, e vítimas tentam acordo extrajudicial para pagamento de indenização.
*Estagiário, sob supervisão de Maria Luiza Reis