BH: Desgaste no casamento teria motivado promotor a matar esposa
Segundo o MP, Lorenza Pinho relatou em carta distanciamento do marido, suspeita de traição e dificuldades vividas pela família
Minas Gerais|Pablo Nascimento, do R7
A denúncia de feminicídio do MPMG (Ministério Público de Minas Gerais) contra o promotor de Justiça André Luís Garcia de Pinho aponta que ele teria matado a esposa, Lorenza Maria da Silva de Pinho, em uma tentativa de "se livrar" dos "problemas e dificuldades" enfrentados no casamento desgastado.
O documento enviado à Justiça nesta nesta sexta-feira (30) indica que o promotor estaria "instisfeito com a vítima, cujo quadro depressivo e condições de saúde impediam que ela exercesse o papel de esposa e mãe" esperado por ele.
Segundo relatos de parentes e testesmunhas, Lorenza desenvolveu quadro de depressão após a morte da mãe, em 2013, que teria se aprofundado nos anos seguintes com um aborto sofrido aos seis meses de gestação e outros problemas enfrentados pela família.
Dificuldades financeiras também teriam abalado a relação do casal. Conforme a Record TV Minas e o R7 mostraram com exclusividade, a família foi despejada de um apartamento de luxo que Pinho comprou em Nova Lima, na Grande BH, e deixou de quitar o financiamento. O imóvel custou R$ 2,7 milhões. Segundo a Justiça, foram pagos apenas R$ 362 mil de entrada.
Em coletiva para divulgar o resultado da investigação sobre a morte, nesta sexta-feira, o subcorregedor-geral do MP Giovanni Mansur afirmou que "as vezes faltava mantimentos para os filhos" do casal. Ele ainda comentou sobre uma carta escrita por Lorenza que foi encontrada no apartamento da família.
— Foi achada uma carta que a Lorenza mandou para o marido relatando o sofrimento que vinha sendo submetida por falta de atenção, tratamento indiferente, a ponto de, segundo palavras dela, ficarem cinco meses sem relações íntimas.
A promotora Gislaine Testi Colet, também do grupo que investigou o caso, detalhou que Lorenza relatou nas cartas que suspeitava de infidelidade por parte do marido. Na avaliação dos investigadores, um conjunto de acontecimentos deteriorou a relação do casal.
— Eles se casaram como um casal apaixonado. Ao longo do tempo, ela foi definhando por uma série de fatores, como problemas de saúde e depressão após a morte da mãe. O casal tem cinco filhos. A Lorenza quase não saía do quarto e não conseguia mais exercer o papel de mãe e esposa que ele esperava. Ela acabou se tornando uma espécie de peso na vida dele.
A morte
O inquérito, que contou com apoio da Polícia Civil, rebateu a versão de Pinho de que a esposa teria engasgado e passado mal enquanto dormia sob efeito de remédios e álcool. Os investigadores concluíram que Lorenza estava intoxicada com as substâncias, mas o marido teria sido responsável por intoxicá-la. O laudo também apontou asfixia, conforme explica o promotor Cláudio Maia de Barros.
— Não alcançando o resultado que ele pretendia [com a intoxicação], foi preciso se valer da asfixia.
No dia da morte, André chamou uma ambulância do Hospital Mater Dei, alegando que a companheira havia passado mal. Os médicos Itamar Gonçalves Cardoso e Alexandre de Figueiredo Maciel teria feito o socorro e constatado o óbito por “pneumonite, devido a alimento ou vômito, e autointoxicação por exposição intencional a outras drogas”, o que confirmava a versão de André Pinho.
No entanto, segundo o promotor de Justiça Marcos Paulo Souza Miranda, membro da investigação, a informação é falsa e os médicos fraudaram o atestado de óbito. Os dois profissionais foram denunciados por falsidade ideológica.
— A necropsia constatou que não tinha nada no pulmão da Lorenza.
Ainda segundo o Miranda, no relatório médico, Cardoso e Maciel teriam relatado que Lorenza tinha "atividade elétrica sem pulso", ou seja, um quadro que ainda permitia a tentativa de reanimação da paciente. A perícia do IML (Instituto Médico Legal), contudo, apontou que Lorenza já estava morta há mais tempo.
— A perícia indica que Lorenza já estava em rigidez cadavérica quando o socorro chegou. Então os médicos inseriram dados inexatos na declaração.
Logo após a morte ser constatada, no último dia 2 de abril, o corpo de Lorenza foi levado diretamente para um funerária e estava sendo preparado para cremação. Todavia, o piloto Marco Aurélio Silva, pai de Lorenza, suspeitou da versão apresentada pelo genro e acionou a polícia.
Na época, o delegado Alexandre Fonseca determinou que o corpo fosse levado para o IML para ser periciado e, após análises iniciais, foi solicitada a prisão temporária de André Pinho, que foi detido no dia 4 de abril. Agora, além de oferecer a denúncia, o MP também pediu a conversão da prisão de André Pinho para a preventiva.
Resposta
A reportagem procurou a defesa do promotor após a divulgação da investigação, mas não teve retorno. Anteriormente, o advogado Robson Lucas, que representa André Pinho, já havia adiantado que iria questionar qualquer denúncia contra o cliente. Segundo ele, os laudos não são suficientes para provar que o promotor matou a esposa.
Na avaliação do advogado e de um perito particular contratado por ele, os hematomas encontrados no corpo de Lorenza, que foram internos, foram causados pela tentativa de reanimação realizada pelos médicos.
Durante a coletiva nesta sexta, o MP questionou a hipótese e informou que o procedimento médico sugerido não atingiria a área lesionada. Os investigadores ainda apontaram fratura na cabeça de Lorenza que, segundo eles, pode ter sido causada em uma tentativa de se defender. As investigações não esclareceram, ainda, como teria ocorrido a asfixia.
A reportagem também procurou os médicos que atenderam Lorenza e o hospital, mas não teve retorno.