Deportados dos Estados Unidos chegam a Confins em meio a denúncias de maus-tratos
Brasileiros pousaram algemados
Minas Gerais|Do R7
A chegada de 88 brasileiros deportados dos Estados Unidos ao Aeroporto Internacional de Confins, em Belo Horizonte, nesta semana, foi marcada por relatos emocionados de maus-tratos e revolta. Entre os deportados estavam homens, mulheres e crianças que buscaram o sonho de uma vida melhor no exterior, mas acabaram enfrentando situações degradantes durante o processo de repatriação.
Carlos Vinícius de Jesus, morador de Vespasiano, região metropolitana de Belo Horizonte, é um dos deportados que desabafaram sobre a experiência traumática. Ele relatou que nunca chegou a entrar nos Estados Unidos, sendo detido logo ao cruzar a fronteira pelo México. “Passei oito meses preso. Não comia arroz, feijão, carne. Só Deus sabe o que passamos. Quando o avião pousou, o alívio foi chegar com vida, mas fomos tratados como criminosos, algemados e acorrentados”, contou.
O avião que transportava os deportados enfrentou problemas técnicos e precisou realizar uma parada em Manaus. No Aeroporto Internacional Eduardo Gomes, os passageiros relataram terem sido mantidos presos dentro da aeronave até que a Polícia Federal, sob orientação do Ministério da Justiça, interveio. As algemas foram retiradas, e os brasileiros foram acolhidos em uma área interna do terminal.
Jefferson Maia, natural de Rondônia, afirmou ter ficado mais de 50 horas acorrentado, sem acesso à alimentação adequada e sem tomar banho. “Estava cinco dias sem banho, usando a mesma roupa desde o presídio. Foi uma humilhação. Não volto nunca mais”.
Após a parada em Manaus, um avião da Força Aérea Brasileira foi mobilizado, a pedido da Presidência da República, para concluir o transporte dos deportados até Belo Horizonte. No desembarque em Confins, a ministra dos Direitos Humanos e da Cidadania, Macaé Evaristo, esteve presente e classificou a situação como uma grave violação de direitos.
Um relatório detalhado com os depoimentos dos deportados será enviado à Presidência para que medidas sejam tomadas. Além disso, um posto de acolhimento humanitário será instalado em Confins para receber outros possíveis deportados.
O Ministério das Relações Exteriores emitiu uma nota repudiando as condições em que os brasileiros foram deportados e informou que enviará um pedido de esclarecimento ao governo norte-americano. Desde 2018, voos de repatriação foram acordados entre os dois países para reduzir o tempo de permanência em centros de detenção nos EUA, mas o Brasil exige que os termos sejam respeitados.
Para os deportados que retornaram ao Brasil, a experiência traumática apagou o desejo de tentar novamente o sonho americano. “O sonho virou um pesadelo”, resumiu Carlos Vinícius. “Agora é recomeçar aqui, mesmo com todas as dificuldades.”