A PCMG (Polícia Civil de Minas Gerais) afirmou, durante uma coletiva nesta terça-feira (11), que três ex-dirigentes do Cruzeiro utilizaram negociações de jogadores para desvio e lavagem de dinheiro.
O inquérito foi finalizado na última segunda-feira e encaminhado ao MPMG (Ministério Público de Minas Gerais). Os três ex-dirigentes e outros quatro empresários são suspeitos de apropriação indébita, falsidade ideológica, associação criminosa e lavagem de dinheiro.
A reportagem tenta contato com a defesa dos ex-cartolas e empresários investigados pela polícia. O R7 também tentou contato por telefone com dois dos investigados, mas não teve retorno.
Empréstimo
O primeiro caso citado pelos investigadores, foi o empréstimo de R$ 2 milhões que o Cruzeiro fez com um empresário do ramo de equipamentos de proteção, em março de 2018. Um mês após o empréstimo, o clube afirmou que não teria recursos para quitar a dívida, que só venceria no fim do ano.
Para pagar o débito, a administração cruzeirense cedeu parte dos direitos de venda de 10 jogadores e a participação na futura venda de um jovem que tinha, à época, apenas 12 anos de idade. De acordo com os delegados, o valor dos direitos era "muito superior" aos R$ 2 milhões pedidos como empréstimo.
Semanas depois, o empresário quitou uma dívida de R$ 3 milhões que um dos ex-dirigentes tinha com uma construtura.
Contratos
Três negociações de jogadores foram utilizadas para pagamentos de dívidas pessoais e desvios de recursos.
A venda do lateral Mayke para o Palmeiras, em setembro de 2018, foi intermediada por um empresário. A ação não era necessária, já que o jogador tinha passe livre. No entanto, o intermediador recebeu uma comissão de R$ 800 mil, que teria sido utilizada para quitar a dívida de um ex-dirigente com um antigo treinador de um clube que ele comandou na década de 2000.
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Já a contratação do volante Bruno Silva, envolveu um empresário que recebeu uma comissão com valor acima do que é praticado no mercado. O valor teria sido usado, segundo a polícia, para quitar o débito de um dos ex-dirigentes com um profissional liberal. Esse caso foi confirmado por um diretor financeiro do clube, que estranhou a insistência para que a comissão fosse paga rapidamente.
Até a renovação do goleiro Fábio, ídolo celeste, foi usada para atos ilícitos. O Cruzeiro teria pago comissão a dois empresários, sendo que um deles nunca representou o jogador. O empresário em questão repassou cerca de R$ 750 mil para um dos ex-cartolas do clube.
A justificativa é que Fábio teria aceitado uma proposta do exterior e isso pediria a presença do segundo empresário. Os investigadores afirmaram que consultaram profissionais da área, que negaram essa possibilidade.
O goleiro Fábio negou ter recebido proposta estrangeira, mas o empresário do jogador afirmou que o contato realmente existiu. De acordo com a PCMG, nenhuma prova dessa proposta foi apresentada.
Relembre o caso
As investigações, iniciadas em maio de 2019, apuram irregularidades como o uso de direitos de venda de um jogador de 12 anos para quitação de um empréstimo, superfaturamento de serviços, notas frias, comissões abusivas e aumentos salariais de dirigentes.
De acordo com o MPMG, o esquema de corrupção teria começado na gestão de Wagner Pires de Sá, eleito em 2017. Apesar de ter vencido uma Copa do Brasil e dois Estaduais, a gestão do economista deteriorou as finanças da Cruzeiro e levou o time a Série B do Campeonato Brasileiro.
*Estagiário do R7 sob a supervisão de Flávia Martins y Miguel