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Perfuração causou rompimento em Brumadinho, diz estudo espanhol

Análise realizada em universidade da Catalunha confirma laudo apresentado pela Polícia Federal em relação à barragem da Vale

Minas Gerais|Pablo Nascimento, do R7

Rompimento aconteceu em janeiro de 2019
Rompimento aconteceu em janeiro de 2019 Rompimento aconteceu em janeiro de 2019

Um estudo realizado pela Universidade Politécnica da Catalunha, na Espanha, confirma que uma perfuração vertical iniciada na barragem da Vale em Brumadinho nos dias que antecederam o rompimento pode ter sido o gatilho para o desmoronamento da estrutura.

Os resultados foram divulgados pelo MPF (Ministério Público Federal) nesta segunda-feira (4). A pesquisa foi fruto de um acordo firmado pelo órgão junto à mineradora Vale. Os dados confirmam a análise da Polícia Federal divulgada em fevereiro deste ano.

De acordo com as simulações realizadas pela universidade espanhola, as perfurações provocaram o fenômeno chamado de liquefação, registrado quando um material sólido se torna líquido.

"Sob condições de tensão e hidráulicas semelhantes às do fundo do furo B1-SM-13 durante a perfuração, as análises numéricas mostram que, usando-se o modelo constitutivo e os parâmetros adotados para os rejeitos, pode ocorrer a liquefação local devido à sobrepressão de água e sua propagação pela barragem", destaca o estudo estrangeiro.

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Na época, a Vale estava realizando os furos para coletar materiais do solo que passariam por uma análise, além de instalar piezômetros, que são equipamentos utilizados no monitoramento das barragens de mineração.

Trecho do documento destaca que “em sua maioria, os rejeitos da barragem eram fofos, contráteis, saturados e mal drenados, portanto altamente suscetíveis à liquefação”.

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O relatório também menciona a instalação de um dreno em 2018, a qual provocou vazamento de lama em alguns pontos da barragem. A situação foi corrigida na época, mas o levantamento aponta que pode ter modificado a estrutura."Esse incidente provocou um aumento local e temporário nas pressões piezométricas da água e algum abatimento na barragem. Registros sismográficos sugerem que uma liquefação contida pode ter ocorrido na época", indica.

Os pesquisadores também avaliaram outros fatores que poderiam ter provocado a liquefação, como a ocorrência de tremores de terra ou o fenômeno do creep, que é caracterizado por deformações internas contínuas, que se desenvolvem com o tempo. No entanto, todas as hipóteses foram descartadas.

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"As simulações da história da barragem não mostram sinais de colapso iminente da barragem no momento da ruptura, mesmo quando fenômenos de creep e de aumento de precipitação são incorporados na análise. Na verdade, a estabilidade também é obtida mesmo que a análise seja continuada por um período de mais cem anos", detalha o levantamento.

A reportagem procurou a Vale para comentar as indicações do estudo e aguarda retorno.

Processo

Em janeiro de 2020, o MPMG (Ministério Público de Minas Gerais) denunciou 16 pessoas pelo homicídio de 270 pessoas, bem como por crimes contra a fauna, flora e poluição, em razão do rompimento.

Entre elas estão Fábio Schvartsman, ex-presidente da Vale, outros dez funcionários da mineradora e cinco da empresa de consultoria alemã Tüv Süd, que atestou a segurança da barragem. As pessoas jurídicas das duas companhias também constam no processo.

A Justiça recebeu a denúncia em fevereiro do mesmo ano. No entanto, passado um ano e oito meses, cinco réus ainda não foram localizados para intimação.

Rompimento

A barragem B1, da mina Córrego de Feijão, pertencente à Vale, ruiu às 12h28 do dia 25 de janeiro de 2019. Das 270 pessoas levadas pela lama, nove continuam desaparecidas. As buscas pelas vítimas seguem no local. No último sábado (2), um corpo foi encontrado pelos bombeiros, mas ainda não se confirmou tratar-se de vítima não identificada.

Outro lado

Em nota, a Vale informou que “esse estudo, assim como outros já realizados, concluiu que não houve nenhum indicativo prévio à ruptura da estrutura, que se deu de forma abrupta”.

A empresa ainda reafirmou “que sempre norteou suas atividades por premissas de segurança e que nunca se evidenciou nenhum cenário de risco iminente da ruptura da estrutura, o que é confirmado em todos os laudos já expedidos".

Confira a nota na íntegra:

"A Vale, desde o início das investigações, vem colaborando com as autoridades, tendo inclusive celebrado um termo de cooperação com o Ministério Público Federal e a Polícia Federal, para que fossem contratados peritos da Universidade Politécnica da Catalunha, na Espanha, uma das mais renomadas do mundo, a fim de analisarem o acidente ocorrido em 25 de janeiro de 2019 com a Barragem I em Brumadinho. Esse estudo, assim como outros já realizados, concluiu que não houve nenhum indicativo prévio à ruptura da estrutura, que se deu de forma abrupta. Esse estudo também atesta que teria havido uma conjugação particularmente desfavorável de circunstâncias no momento e no local em que se fazia a perfuração do 13º poço vertical por uma empresa especializada, operação essa que se destinava à instalação de equipamentos mais sofisticados para leitura do nível de água no interior da barragem e à coleta de amostras, sendo que sem essa perfuração, a barragem, nas condições específicas em que se encontrava (inclusive paralisada há mais de 2 anos), segundo as simulações matemáticas realizadas para um período de 100 anos, permaneceria estável.

A Vale reafirma seu profundo respeito para com as famílias impactadas direta e indiretamente pelo rompimento da barragem e continuará colaborando com as autoridades, aguardando a conclusão do inquérito para a devida manifestação nos autos por intermédio de seu advogado, David Rechulski.

Não obstante, embora compreenda que cada Autoridade que presida investigações é livre na formação de suas próprias convicções, a Vale reafirma que sempre norteou suas atividades por premissas de segurança e que nunca se evidenciou nenhum cenário de risco iminente da ruptura da estrutura, o que é confirmado em todos os laudos já expedidos".

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