Polícia indicia diretores da Backer por contaminação de cerveja em MG
Perícia encontrou vazamentos nos tanques de produção da fábrica, em Belo Horizonte; um dos furos "jorrava" substância tóxica no produto
Minas Gerais|Pablo Nascimento, do R7
A Polícia Civil indiciou, nesta terça-feira (9), três diretores e sete funcionários da cervejaria Backer pela contaminação de bebidas da empresa, que provocou mortes e intoxicou clientes em Minas Gerais.
Os investigadores concluíram que furos nos tanques de produção da fábrica, em Belo Horizonte, causaram a contaminação com os anticongelantes monoetilenoglicol e dietilenoglicol. Segundo o delegado Flávio Grossi, responsável pelo caso, em um dos equipamentos havia uma falha na solda.
— Encontramos o vazamento literalmente dentro do tanque, jorrando o líquido tóxico para dentro da cerveja.
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Um vídeo produzido pela Polícia Civil de Minas Gerais mostra onde havia os problemas no processo de produção.
Participações
Segundo o inquérito concluído após cinco meses de investigação, há indícios de que houve "negligência e imperícia" por parte dos funcionários da empresa, já que o manual de instrução dos tanques sugeria o uso de produtos não tóxicos para realizar o resfriamento de bebidas.
Os diretores foram indiciados por não terem retirado as cervejas do mercado após o início das investigações, conforme havia orientado o Ministério da Agricultura e Pecuária. Além deles, uma testamunha foi indiciada por mentir nos depoimentos, na tentativa de extorquir a cervejaria.
Veja qual seria a participação de cada indiciado no caso:
• Três diretores: indiciados por manter a venda de produtos que ofereciam risco à vida dos clientes e por não fazer um grande ato de publicização sobre a contaminação;
• Chefe de manutenção: se omitiu ou não agiu para controlar as falhas. Indiciado por homicídio culposo, lesão corporal culposa, e contaminação de produto alimentício;
• Seis responsáveis técnicos: responsáveis por garantir a qualidade do produto. Indiciados por homicídio culposo, lesão corporal culposa e contaminação de produto alimentício;
• Testemunha: indiciada por falso testemunho e extorsão, por mentir durante as investigações.
Produtos tóxicos
Desde o início das investigações, a Backer afirma que usa apenas o monoetilenoglicol em sua linha de produção. A Polícia Civil confirmou a versão. Segundo os investigadores, o dietilenoglicol pode ter chegado na cervejaria após uma empresa de São Paulo ter vendido as substâncias misturadas para o fornecedor de produtos químicos da Backer.
De acordo com o delegado Flávio Grossi, o inquérito será enviado às autoridades policIais do Estado vizinho para que possam tomar as medidas cabíveis em relação à possível troca de substâncias.
O delegado ressaltou, contudo, que a situação não retira a responsabilidade dos representantes da cervejaria mineira. Grossi destacou, ainda, que embora não seja proibido o uso dos dois anticongelantes, a empresa deveria ter seguido a orientação da fabricante dos tanques para não usar as substâncias tóxicas.
— Dentro do contexto do acontecimento, se houvesse ácido sulfúrico, monoetileglicol ou dietilenoglicol, esta mistura é irrelevante. O que importa aqui é o uso de uma substância tóxica.
Vítimas
No decorrer do processo, a Polícia Civil chegou a indicar 42 vítimas intoxicadas. Segundo o delegado Flávio Grossi, a investigação foi concluída considerando oficialmente 29, sendo que sete morreram. Alguns foram retirados da lista pelo fato de ainda haver dúvidas dos peritos quanto a contaminação.
— Ainda temos outros 30 nomes que reclamam os direitos pelos meios policiais. Se fosse juntar tudo agora, isso poderia retardar esta fase do inquérito. Então vamos cuidar de todos estes casos em um momento posterior.
Outro lado
Procurada, a Backer afirmou que vai se manifestar sobre o inquérito após seus advogados terem acesso ao documento. Em nota, a empresa ainda destacou que "irá honrar com todas as suas responsabilidades junto à Justiça, às vítimas e aos consumidores".