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Substância que teria matado PM em MG é usada em fábricas de tinta

Ministério ainda não vê possível relação com contaminação em cerveja; produto também é usado na produção de baterias de lítio

Minas Gerais|Pablo Nascimento, do R7

Homem morreu na última semana após ter sido intubado devido a uma insufiência renal
Homem morreu na última semana após ter sido intubado devido a uma insufiência renal

A substância química que teria provocado a morte de um policial militar da reserva em Juiz de Fora, a 283 km de Belo Horizonte, é um solvente que, entre suas funções, é usado na fabricação de tintas e baterias de lítio, conforme informações de especialistas ouvidos pelo R7.

Em boletim de ocorrência registrado na PM (Polícia Militar) no último dia 27 de maio, quando Antônio Paulo dos Santos morreu aos 61 anos, o diretor do hospital onde ele estava internado relatou que uma biópsia renal sugeriu intoxicação por dimetil glicol. A Polícia Civil aguarda resultado final da perícia sobre a substância encontrada.

De acordo com Luiz Cláudio de Almeida, professor da UFMG (Universidade Fedederal de Minas Gerais) e pós-doutor em química orgânica pela Universidade de Oxford, no Reino Unido, a substância indicada também é mais conhecida como 1,2-dimetoxietano ou etilenoglicol dimetil éter (EGdiME).

— O EGdiME DMG é um líquido incolor, miscível em água, com temperatura de ebulição de 85° C. Ele é utilizado como solvente e tem várias outras aplicações industriais.


Pesquisadores apontam que a substância, que é conhecida na química como um éter, também é utilizada na fabricação de revestimentos de resina, impressão a jato de tintas e removedores de esmaltes.

Segundo o professor, os efeitos tóxicos do EGdiME no corpo humano não são bem documentados, mas sabe-se que a ingestão em alta quantidade pode levar à morte. Estudos feitos com ratos apontam que o consumo de 2.997 mg/kg representa 50% de risco de morte para estes animais.


Relação com cerveja

O caso ganhou repercussão em função a uma possível relação com o consumo de cerveja. Segundo a família do militar morto, a Vigilância Sanitária recolheu duas latas da marca Brussels que estavam na casa da vítima e que teriam sido compradas dois dias antes dela apresentar sintomas. A esposa do policial disse que ele consumiu outras duas do mesmo rótulo, no mesmo dia em que também comeu uma feijoada fora de casa.


Entrantanto, o Mapa (Ministério da Agricultura e Abastecimento), informou à reportagem que o órgão ainda não vê "relação direta do óbito com o consumo do produto", dessa forma, a produção da bebida não foi suspensa.

"O Mapa aguarda o laudo solicitado pela Prefeitura de Juiz de Fora à Fundação Ezequiel Dias (Funed)", completou a instituição que fiscaliza este tipo de empresa.

Guilherme Rocha Pereira, farmacêutico e professor de química orgânica da PUC Minas (Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais) também confirmou à reportagem que a substância indicada até o momento é um solvente.

O especialista avaliou que pelas características do produto ele não acredita que o material seja usado na fabricação de cervejas, diferente do anticongelante dietilenoglicol que contaminou bebidas da Backer e provocou a morte de consumidores.

— Essa substância é inflamável e irritante. Ela não é solvente em água, então não faria sentido em usá-la no resfriamento industrial.

Marco Falcone, vice-presidente do SindBebidas (Sindicato das Indústrias de Cerveja e Bebidas em Geral do Estado de Minas Gerais), afirma que não há indicações para uso do dimetil glicol no processo de fabricação cervejeiro.

Falcone conta que há um ano, após estourar o caso Backer, o sindicato fez uma pesquisa em cervejarias artesanais em todo Brasil e não encontrou nenhuma outra empresa que utilizasse o dietilenoglicol e o monoetilenoglicol, substâncias que contaminaram consumidores da Belorizontina.

— Temos que tomar cuidado para não se tornar o que tenho chamado de "síndrome da Backer", que é quando a pessoa passa mal após beber uma cerveja e já fala que a bebida foi o intoxicante.

Investigação

Procurada pela reportagem, a Polícia Civil de Minas Gerais informou que a delegada Mariana Veiga pediu, nesta quarta-feira (2), que o material recolhido pela Vigilância Sanitária seja enviado ao Instituto de Criminalística "a fim de que seja realizado exame pericial de identificação de substância química". A expectativa é que o laudo fique pronto em até 30 dias.

O Mapa e a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) também acompanham o caso. O Ministério da Agricultura informou que fiscalização realizada na fábrica que produz a Brussels no ano passado não detectou glicóis no local, "nem mesmo os aprovados para uso alimentar".

Em nota, a Cervejaria Cervam, que fabrica a Brussels na cidade de Cláudio, a 141 km da capital mineira, informou que "em consonância com as normas vigentes, utiliza apenas álcool etílico potável para o sistema de resfriamento, na concentração de 18%".

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