UTIs estão com mais de 90% de ocupação em 6 das 14 regiões de MG
Embora a média geral do Estado indique que os leitos operam a 71% da capacidade, algumas áreas estão mais próximas de um colapso
Minas Gerais|Pablo Nascimento, do R7
Seis das 14 macrorregiões de saúde de Minas Gerais estão com as UTIs (Unidade de Tratamento Intensivo) com mais de 90% de ocupação. Os dados são da SES (Secretaria de Estado de Saúde), referentes a esta segunda-feira (8), quando o número de infectados por coronavírus no Estado chegou a quase 16 mil.
Na prática, uma macrorregião é a união de cidades vizinhas que têm o sistema de saúde compartilhado. Essa divisão acontece para que estes municípios administrem juntos uma estrutura que não seria viável para uma prefeitura sozinha, como é o caso dos leitos de alta complexidade que têm um custo maior.
Os dados do Governo de Minas mostram que as regiões que estão mais próximas a um colapso no sistema de saúde são: Triângulo Norte, Noroeste, Jequitinhonha, Nordeste, Leste e Vale do Aço. Juntas, elas abrigam 236 das 853 cidades do Estado, onde moram 4.405.496 de pessoas (22% da população mineira). Lá estão instalados 437 dos 2.885 leitos de UTI que integram a rede pública em Minas.
Leia também
Serra do Cipó (MG) reabre comércio às vésperas de feriado prolongado
Faculdade de medicina de BH ensaia volta às aulas e assusta alunos
MG tem quase 16 mil infectados com coronavírus após 3 meses do 1º caso
Minas tem recorde de mortes por covid-19 pelo 3º dia consecutivo
Preço de insumos impede ampliação dos testes para covid-19 em MG
O infectologista Unaí Tumpinambás, professor da Faculdade de Medicina da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) e membro do comitê de enfrentamento da covid-19 de Belo Horizonte, avalia que a ocupação acima de 90% é um alerta na atual fase da pandemia que, segundo ele, ainda deve passar pela pior fase nas próximas oito semanas.
— Os infectados podem precisar de tratamento intensivo em até 15 dias após o início dos sintomas. Se hoje estas regiões já estão com 90% de ocupação, imagina daqui a duas semanas quando o número de casos deve crescer. Se continuar assim, não vai ter atendimento para coisa simples, como perna quebrada e apendicite. Assim, poderemos ver o índice de mortalidade aumentar.
Variação de números
Fora as seis regiões com mais de 90% de lotação, Minas tem cinco áreas com leitos operando entre 70% e 90% da capacidade, uma entre 40% e 70% e uma com menos de 40% das UTIs ocupadas. Com isto, a média geral de ocupação no Estado vai para 71,32%. O Governo ainda não tem dados concretos do Triângulo Sul, já que Uberaba, a maior cidade da região, ainda não usa o sistema que unifica os dados do SUS.
Do total de pacientes internados em toda Minas Gerais, 10,98% têm covid-19 ou são considerados casos suspeitos da doença. Esse índice cresceu nas últimas semanas. No início de maio, os infectados por coronavírus ocupavam 3% das vagas.
Para o médico Unaí Tupinambás, o poder público deve observar a demanda por atendimentos complexos para reavaliar o afrouxamento do isolamento social. É o que aconteceu em Ipatinga, a 212 km de Belo Horizonte.
A principal cidade do Vale do Aço, com 260 mil habitantes, viu todos os 25 leitos de UTI ocupados de duas semanas para cá. Ao mesmo, o número de casos confirmados de covid-19 chegou a 458 e as mortes subiram para oito. Tudo isso em meio à abertura gradual do comércio. A solução encontrada pela prefeitura foi recuar e fechar as lojas novamente.
Resposta isolada
João Pinho, chefe de gabinete da Secretaria de Estado de Saúde, afirmou, durante coletiva nesta segunda-feira, que a sua equipe está monitorando as regiões que apresentam mais casos de covid-19 e onde a situação dos leitos é mais crítica.
Segundo Pinho, representantes da SES se reuniram com prefeitos do Vale do Aço para discutir a situação local e orientá-los a tomar as medidas mais eficientes contra a pandemia. Encontros com lideranças de outras regiões estão sendo marcados.
Fora isto, o secretário de Saúde, Carlos Eduardo Amaral, explicou em pronunciamento na última semana que os pacientes das regiões que colapsarem primeiro serão encaminhados a macrorregiões vizinhas, já que o serviço de saúde Estadual é interligado.
Apesar do risco, Amaral classificou a situação de Minas como "relativamente tranquila", já que a média geral de ocupação está abaixo de 80% e há unidades de saúde com leitos vazios. Como exemplo, o secretário citou o Hospital de Campanha montado em Belo Horizonte, que ainda não foi aberto por falta de demanda. Mesmo assim, Amaral afirma que o Governo vai monitorar as áreas mais precárias.
— Se essa ocupação começar a passar de 90%, ficando fixa, e não tiver um motivo maior, ou seja, uma demanda crescente, isso sim nos chama a atenção de passarmos para outras fases no sentido do plano de contingência.
Procurada, a SES destacou que está orientando os prefeitos a aderirem ao programa Minas Consciente, que estabelece regras para reabertura do comércio, respeitando critérios que garantam a "segurança dos cidadãos".
A pasta ressaltou que "está fazendo esforços para aquisição de respiradores e habilitação de leitos de UTI", mas ponderou que "essas medidas são uma coordenação de atividades que não dependem exclusivamente de uma única medida".
O governo de Minas alertou, ainda, que a população precisa manter as medidas de isolamento social para garantir o controle da covid-19. "A SES destaca mais uma vez que sem distanciamento é impossível a adequação de qualquer capacidade assistencial à saúde", informou a nota enviada à reportagem.
Veja a íntegra da nota da SES:
"A Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG) mantém canais de diálogos constantes com todas as regiões de saúde do estado. No dia 28 de maio, a SES-MG iniciou uma série de reuniões com todos os secretários municipais de saúde dos municípios que fazem parte das Macrorregionais, com foco na atualização dos dados locais e no combate à pandemia.
Na última sexta-feira, por exemplo, foi realizado uma reunião com quase 160 participantes, para tirar dúvidas, indicar o planejamento e receber feedback dos municípios.
Além disso, por meio das 28 regionais de saúde distribuídas pelo estado, a secretaria intensificou o contato direto com os municípios. Os gerentes e superintendentes regionais conversam regularmente com os gestores municipais, permitindo assim, um canal direto de comunicação entre a SES e as macrorregiões de saúde.
A SES-MG reforça que orienta que os municípios façam a adesão ao programa Minas Consciente e sigam às orientações do Plano de Contingenciamento Macrorregional. O Minas Consciente foi criado, para auxiliar os municípios na retomada gradual das atividades e serviços, respeitando sempre um sistema de critérios rígidos e protocolos sanitários, para garantir a segurança dos cidadãos. Todas as ações propostas pelo Governo de Minas são baseadas em dados técnicos e científicos.
A SES destaca mais uma vez que sem distanciamento é impossível a adequação de qualquer capacidade assistencial à saúde. O distanciamento tem por objetivo permitir que se adeque a necessidade de leitos dos pacientes Covid-19 à situação de leitos reais. O Estado está fazendo esforços para aquisição de respiradores e habilitação de leitos de UTI, mas, essas medidas são uma coordenação de atividades que não dependem exclusivamente de uma única medida, mas de um conjunto delas. Por isso, é necessário o isolamento social e adesão ao Minas Consciente."