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Carro elétrico não ajuda o meio ambiente mesmo? Especialistas debatem

Em podcast, ex-ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, disse que a eletrificação dos veículos não é a solução contra emissão de gases poluentes; outros especialistas discordam

MonitoR7|Johnny Negreiros, do R7*

Carros elétricos vão dominar também o Brasil, dizem especialistas
Carros elétricos vão dominar também o Brasil, dizem especialistas

“Não é verdade” que o carro elétrico (EV, na sigla em inglês) é a solução para as emissões de combustíveis poluentes. Foi o que disse ao podcast Monark Talks o ex-ministro do Meio Ambiente, e atualmente deputado federal (PL-SP), Ricardo Salles.

De acordo com o político, a Europa “tenta vender essa solução para o resto do mundo”, mas ela não é eficiente. “O carro pode até ser elétrico, e portanto não emite gases poluentes, mas a energia que vai dentro do carro é suja”, disse ele.

No caso, Salles se refere ao carro elétrico híbrido plug-in, que precisa ser carregado na tomada. Na categoria, ainda há mais dois modelos: os que não precisam de tomada e os híbridos, que misturam gasolina (mas principalmente etanol) com energia elétrica.

Os números corroboram essa visão do deputado. Segundo os últimos dados da IEA (Agência Internacional de Energia, em inglês), referentes ao ano de 2020, 82% da matriz energética do continente europeu é de fontes de energia não renováveis. Ou seja, maléficas para a emergência ambiental.


Vale ressaltar que é possível imaginar que as chamadas "energias sujas" devem ter ainda mais participação no local, atualmente. Isso porque, por causa da invasão da Ucrânia pela Rússia, o abastecimento de energia por lá foi afetado.

Dessa forma, medidas insustentáveis, do ponto de vista ambiental, foram tomadas. A Alemanha, por exemplo, reativou a exploração de minas de carvão.


Assim, na visão de Salles, a resposta ideal para o problema seria o veículo movido a etanol: “É uma baita tecnologia” e “bom para caramba ambientalmente”.

“E o Brasil ainda deu um passo à frente, criando carros elétricos híbridos, ou seja, o carro elétrico se abastece a partir da utilização do motor a etanol. Essa sim é a solução ambientalmente correta, mas os europeus não querem saber porque não querem depender de nós [Brasil é referência na produção de etanol].”


Porém, na visão de especialistas ouvidos pelo R7, “uma coisa não exclui a outra”. Ou seja, o híbrido a etanol deve ser aliado ao carro totalmente elétrico. Além disso, mesmo abastecido com energia elétrica “suja”, o EV ainda polui menos que os automóveis convencionais.

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“Essa discussão, me permita, é burra, porque as duas coisas podem conviver de maneira muito salutar”, analisa Ricardo David, sócio-fundador da Elev, empresa especializada no setor da eletromobilidade.

Adalberto Maluf, presidente da ABVE (Associação Brasileira do Veículo Elétrico), disse que, mesmo com fontes poluentes, o carro elétrico é uma alternativa que “sempre supera” o automóvel movido à combustão:

“Não importa a matriz, o carro elétrico sempre supera o convencional pois mesmo que ela seja 100% suja, a emissão de CO2 equivalente no ciclo total ainda assim será 10% menor do que naquele a combustão”, declarou ele à imprensa.

“O carro elétrico é um modal que na sua operação não consome absolutamente nada de combustível. Quando você considera o ciclo completo, claro, desde a atividade de extração do mineral, de todos os minerais utilizados na fabricação da bateria e tudo mais, é claro que tem aí produção de carbono nessa cadeia. Mas já foi visto, já foi estudado, que entre os modais que existem ele é o que menos agrega carbono, então ele é bom por si só”, afirma Ricardo David.

Marina Helou (REDE), deputada estadual de São Paulo, também tem visão diferente da do ex-ministro. Para ela, o EV “faz parte da transição energética” das nações europeias em direção a uma “matriz limpa”.

Ainda de acordo com ela, a visão contrária à Europa de Salles é “teoria da conspiração”.

“A opinião (de Ricardo Salles) não está embasada na realidade. A Europa está assim comprometida com uma transição de modelo de matriz energética e de mobilidade para que a gente zere as emissões de gases do efeito estufa.”

Até o fechamento desta reportagem, Ricardo Salles não aceitou o convite de conversar com o R7 para se aprofundar no assunto.

Cenário diferente no Brasil

Outro ponto de divergência das fontes consultadas em relação ao deputado foi o cenário no Brasil. Para eles, a matriz energética brasileira é “limpa”.

Então%2C no Brasil%2C a conta [do carro elétrico] é sempre positiva do ponto de vista da contabilidade ambiental

(Ricardo David, sócio-fundador da Elev, empresa especializada no setor da eletromobilidade)

Dessa vez, os números jogam contra a visão de Salles. De acordo com a IEA, novamente com dados de 2020, 48% do fornecimento de energia no país vem de fontes renováveis.

Para Helou, por causa disso, o carro elétrico no Brasil é sim melhor para o meio ambiente.

“No Brasil, a nossa matriz energética é limpa, não vem de bases emissoras de carbono, portanto não emite carbono. Então, na perspectiva de mudanças climáticas, de gases de efeito estufa, sim, o híbrido plug-in (que vai na tomada) no Brasil é menos poluente”, acredita ela.

EV deve dominar também o Brasil

Apesar de ainda não ser maioria dos veículos do Brasil, o eletrificado deve dominar também o mercado nacional. É o que dizem especialistas ouvidos pelo R7.

“Os veículos eletrificados certamente serão a maior fatia de mercado em todos os países do mundo, em alguns anos. A questão não é se eles dominarão o mercado, mas sim quando eles dominarão o mercado”, analisa Adalberto Maluf, presidente da ABVE.

*Estagiário do R7, sob supervisão de Ana Vinhas.

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