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Vacina bivalente contra Covid da Pfizer causa AVC?

Comentários relacionando o imunizante à doença surgiram nas redes sociais após um alerta dos CDC, dos EUA, mas se tratam apenas de especulações

MonitoR7|Yasmim Santos*, do R7

Vacina bivalente da Pfizer pode ter relação com casos de AVC isquêmico
Vacina bivalente da Pfizer pode ter relação com casos de AVC isquêmico

Após o início da aplicação da vacina bivalente contra a Covid-19, da parceria Pfizer/BioNTech, no Brasil na última segunda-feira (27), especulações sobre o possível risco do imunizante causar AVC (acidente vascular cerebral) voltaram a circular nas redes sociais.

O rumor surgiu após os CDC (Centros de Controle e Prevenção de Doenças), dos Estados Unidos, solicitarem uma investigação sobre a potencial relação entre AVC isquêmico em pessoas com 65 anos ou mais que receberam a vacina Pfizer-BioNTech. Essa possível ligação foi detectada no banco de dados Vaccine Safety Datalink.

Comentários aumentaram após o início da vacinação bivalente no Brasil
Comentários aumentaram após o início da vacinação bivalente no Brasil

De acordo com o manual MSD, o acidente vascular cerebral isquêmico consiste na morte do tecido do cérebro (infarto cerebral), que ocorre em razão da má distribuição de sangue e oxigênio para a região – causada por uma obstrução na artéria.

Os sintomas acontecem subitamente e, entre os principais, estão fraqueza muscular, paralisia, perda de sensibilidade ou sensibilidade anormal de um lado do corpo, dificuldade em falar, confusão, problemas com a visão, tonturas, perda de equilíbrio e coordenação.


O principal intuito do alerta dos CDC era entender se os indivíduos tinham maior probabilidade de ter um AVC isquêmico 21 dias após a vacinação ou de 22 a 42 dias após a imunização. Não foi um diagnóstico e, principalmente, se aplica à realidade dos Estados Unidos. 

"Os americanos estão utilizando a vacina bivalente desde setembro, já usaram mais de 50 milhões de doses em reforços. E lá, eles usam a partir dos cinco anos de idade. É bem diferente do nosso esquema, pelo menos por enquanto", explica Juarez Cunha, diretor da SBIm (Sociedade Brasileira de Imunizações).


E acrescenta: "Desse número, mais de 22 milhões de doses foram em pessoas acima de 65 anos. Então, já temos uma experiência não brasileira – a experiência americana – que é muito rigorosa em termos de eventos adversos".

A Agência Europeia de Medicamentos (EMA, na sigla em inglês), por exemplo, não encontrou indícios da ligação entre o AVC e a vacina da Pfizer. 


"A EMA pode confirmar que, até o momento, nenhum sinal desse tipo foi identificado na União Europeia. A agência continuará avaliando todos os dados disponíveis para determinar se as informações de segurança emergentes podem apontar para um sinal semelhante", afirmou à Reuters.

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O dado dos CDC, de fato, não pode ser considerado um padrão, segundo Juarez, já que cada país segue um esquema vacinal diferente, por exemplo, com um espaçamento maior ou menor entre as doses. 

Em uma visão prática, em meados de 2021, as vacinas de mRNA contra a Covid, como as da Pfizer e da Moderna, foram relacionadas a casos de miocardite e pericardite em adolescentes e adultos jovens do sexo masculino. Os CDC classificaram a situação como "casos aumentados", mas que continuaram raros.

No Brasil, segundo nota técnica Nº 139/2022, do Ministério da Saúde, a incidência das condições foi de 0,02 eventos para cada 100.000 doses aplicadas da Pfizer e de 0,05 a cada 100.000 doses de reforço. Apenas 2 óbitos foram registrados, sendo 1 após tomar Pfizer, com nível 2 de certeza. 

"A nossa farmacovigilância mostrou diferença porque nós aplicamos com o intervalo maior as doses de vacina de mRNA mensageiro. Lá, eles faziam entre 27 e 28 dias de intervalo, e nós fizemos aqui com dois meses, com oito semanas de intervalo. Então, os nossos achados de eventos adversos foram muito inferiores aos encontrados por eles", relata o diretor. 

Essa ligação também pode servir de base para o risco de AVC isquêmico, já que o espaço de tempo entre as doses é diferente do dos EUA. 

"O nosso intervalo para esse reforço de vacina bivalente está sendo de quatro meses de intervalo. Nos Estados Unidos, eles usaram dois meses de intervalo com o esquema base, então é bem provável que também o nosso [seja diferente], assim como aconteceu com os casos de miocardite", afirma Cunha.

Para além da diferença numérica, o diretor da SBIm relata que os casos de AVC também envolviam outros fatores de risco. 

"Esses casos que foram notificados foram analisados. Eles chegaram à conclusão que tem uma série de fatores envolvidos, tem a própria Covid, outros quadros respiratórios e outras situações que podem levar ao AVC. Todas as análises que foram feitas até agora mostram que não é um risco estabelecido como uma preocupação", esclarece Cunha.

Isso fica ainda mais claro com a decisão dos CDC de continuar recomendando a vacina da Pfizer, inclusive a bivalente, para todas as pessoas com seis meses de idade ou mais. A agência de saúde pontua que a vacina é "a ferramenta mais eficaz que temos para reduzir mortes, hospitalizações e doenças graves por Covid, como já foi demonstrado em vários estudos realizados nos Estados Unidos e em outros países".

Vale ressaltar que a vacina contra a Covid não é a única a apresentar efeitos adversos, qualquer outra vacina ou medicamento pode manifestar. Por isso os sistemas de farmacovigilância são tão importantes. 

O diretor da SBIm também reafirma que manter o esquema vacinal completo, com todas as doses disponíveis para cada idade, deve continuar sendo prioridade. A vacina protege das formas mais graves da Covid (que geram hospitalizações) e diminui expressivamente as chances de óbito. 

"As vacinas continuam sendo a melhor estratégia de proteção, em especial dos grupos mais vulneráveis", finaliza. 

*Estagiária do R7, sob supervisão de Giovanna Borielo

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