Congestionamento de pré-candidatos na direita desafia Bolsonaro
Ex-presidente está inelegível até 2028, mas insiste que será candidato em 2026 e já tem 5 concorrentes na direita
Pelo menos cinco pretendentes à disputa ao Planalto se colocam publicamente como aspirantes à posição de principal nome na direita contra Lula, na expectativa de assumir o posto deixado vago por Jair Bolsonaro. O ex-presidente, que está inelegível até 2028 após condenação judicial, no entanto, reage ao movimento e declara que o candidato será ele próprio.
Em longa entrevista a revista de circulação nacional, Bolsonaro atribui a decisão judicial que o tirou da disputa a “perseguição política”, celebra a vitória dos partidos de direita na eleição municipal e demonstra confiança na possibilidade de disputar o pleito de 2026, possivelmente contra Lula, que avalia buscar a reeleição.
A hipótese do ex-presidente reverter a condenação por uso indevido dos meios de comunicação, que vetou sua possibilidade de concorrer por 8 anos, por ora, ainda é remota.
A lista formal ou informal de postulantes na direita aumenta a cada dia e inclui principalmente governadores. Assumidamente, Ronaldo Caiado, governador de Goiás é o mais dedicado à tarefa.
Um dos principais líderes do União Brasil, o goiano encarou a eleição de virada de seu afilhado, Sandro Mabel, à prefeitura de Goiânia, contra Fred Rodrigues, do PL, como vitória sua em um primeiro duelo contra Bolsonaro.
No dia seguinte, Caiado veio a público admitir que apresentará seu nome para concorrer ao Planalto em 2026, e fez duras críticas ao estilo de liderança do ex-presidente.
Entre governadores, a lista inclui Ratinho Júnior (PSD), do Paraná, que também saiu-se vitorioso das últimas eleições ao consagrar seu aliado no comando da prefeitura de Curitiba, Eduardo Pimentel (PSD). Ao contrário de Caiado, o paranaense não afronta Bolsonaro, e até almeja o apoio do ex-presidente “para se tornar um nome nacional”, afirma.
Romeu Zema (Novo) é o mais pragmático entre os governadores que almejam a cadeira de Lula e já assume oposição direta ao potencial concorrente na esquerda.
O governador de Minas, que saiu derrotado da eleição para prefeito de Belo Horizonte ao ver Bruno Engler (PL) perder para Fuad Noman (PSD) na capital, preferiu imediatamente reforçar seu lado na política como o verdadeiro anti-Lula. Zema se recusou a comparecer à reunião convocada pelo petista para discutir Segurança Pública com todos os governadores.
Além de Caiado, compareceu ao Planalto outro potencial pré-candidato à presidência: o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas. O republicano, além de ser um dos principais artífices da vitória de Ricardo Nunes na prefeitura de São Paulo, também caminha para ver seu partido, conduzido pelo deputado Marcos Pereira (Republianos/SP), eleger pela primeira vez um presidente da Câmara.
Hugo Motta (Republicanos/PB) ganhou aura de candidato do consenso, após obter o aval tanto de Arthur Lira (PP/AL) quanto de Lula na disputa que ocorre em fevereiro.
Tarcísio, no entanto, oscila entre disputar o Planalto ou a reeleição para o governo do estado – condição em que estaria muito mais confortável. Uma vitória para a recondução ao Palácio dos Bandeirantes consagraria seu estilo moderado e pavimentaria uma disputa eventualmente menos dura na eleição presidencial seguinte, quanto Lula estará fora das urnas.
Corre por fora o ainda outsider Pablo Marçal, quinto e mais imprevisível perfil entre os potenciais pré-candidatos ao Planalto em 2026. À bordo do minúsculo PRTB, o empresário e influenciador digital assustou concorrentes com o desempenho no primeiro turno das eleições pela prefeitura de São Paulo, levando a disputa a um triplo empate e ameaçando dois políticos tarimbados e tradicionais, como Nunes e Boulos.
De quebra, desestabilizou a liderança de Bolsonaro e atordoou apoiadores do ex-presidente, com um discurso e um desempenho ainda mais à direita e que encantou os chamados bolsonaristas-raiz.
As chances de reversão da inelegibilidade do ex-presidente, por ora, residem no projeto de anistia que Arthur Lira acaba de retirar da Comissão de Constituição e Justiça.
O presidente da Câmara, na reta final de seu mandato como presidente da Casa, promete dar solução ao problema até o final do ano. Até o momento, não sinalizou que vá garantir o salvo-conduto a Bolsonaro. No meio jurídico, um artigo no projeto de lei que delete a condenação imposta ao ex-presidente é vista como fadada ao insucesso.
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