CPI da Covid: adversários apresentam armas em primeiro confronto
Depoimento do ex-ministro Mandetta fixará os limites para as hostilidades entre governistas e oposição, em momento desfavorável para o Planalto
Christina Lemos|Do R7
O ambiente da sessão de hoje da CPI da Covid-19 será determinante para a continuidade dos trabalhos da comissão de inquérito, em que governistas estão em minoria, mas prepararam seu próprio arsenal de defesa da gestão de Bolsonaro. A depender do tom adotado pelo ex-ministro da Saúde Henrique Mandetta (DEM/MS), que será recebido por eles como potencial candidato à presidência da República, a ordem será responder à altura.
Os quatro senadores alinhados com o Planalto dispõem de farto material, que inclui vídeos com orientações para que os infectados só procurem atendimento após sentirem falta de ar – orientação vista hoje como principal erro da gestão de Mandetta. A demora na compra de teste e a política errática do ex-ministro neste quesito também devem ser explorados.
O depoimento de Mandetta também deverá confrontá-lo com o colega de partido, o também democrata Marcos Rogério (GO). O senador goiano tem assumido o comando do esforço de defesa do governo, e enfrentado de forma dura o relator, Renan Calheiros (MDB/AL). Em franca vantagem, num contexto em que o governo está em posição desfavorável, o emedebista vem modulando suas respostas para evitar a escalada excessiva de hostilidades.
Mandetta, após deixar o ministério, endureceu progressivamente as críticas à gestão federal da pandemia e ao próprio presidente Bolsonaro, inclusive no livro “Um Paciente chamado Brasil”, em que relata sua experiência no comando do Ministério da Saúde na primeira fase de enfrentamento do coronavírus. Para a sessão de hoje, Mandetta recorreu a auxiliares leais, como o ex-secretário de Vigilância Sanitária, Wanderson de Oliveira, para resgatar dados que pretende levar à comissão.
A audiência de hoje também é considerada um termômetro da temperatura política – importante para a preparação do depoimento considerado mais importante: o do ex-ministro Eduardo Pazuello, o mais crítico para Bolsonaro. Os erros de gestão e o vínculo estreito entre o general e o presidente oferecem farto terreno para exploração dos oposicionistas.
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