Em despedida, Pazuello revela pressão por verba e conspiração
General se despediu com discurso aos funcionários do Ministério da Saúde em que recordou as dificuldades do cargo
Christina Lemos|Do R7
O ex-ministro da saúde, Eduardo Pazuello, fez hoje um balanço e também um desabafo ao deixar o cargo. Na despedida, o general revelou pressão política por verba e até um plano para tirá-lo do comando.
A imprensa não teve acesso à transmissão de cargo, presenciada por menos de 10 assessores. Ao lado do novo ministro, o cardiologista Marcelo Queiroga, Pazuello revela o momento em que foi nomeado para o posto, ainda na primeira etapa da pandemia, em maio do ano passado e que não queria o cargo.
"É claro que não queria vir", disse o general. “Viemos com dois aviões quebrados, chegamos aqui de madrugada e não tinha nada, nem ninguém pra nos dizer nada. Você andava nos corredores e não tinha ninguém e assim nós chegamos aqui".
De acordo com o general, ele teve que se informar sozinho sobre o funcionamento da pasta, porque encontrou "salas vazias e pessoas que nunca nos passaram nada". "Os chefes abandonaram o barco e tivemos que ir descobrindo como a coisa andava".
Veja trecho da despedida:
O ex-ministro declara que foi surpreendido com a renúncia do médico Nelson Teich à pasta da saúde e revela pressões políticas para liberar dinheiro público e que teria recusado "uma lista de pedidos".
“Começou a crise com a liderança política que mandou relação para gente atender e nós não atendemos. Aí chegou no final do ano uma carreata de gente pedindo dinheiro politicamente. Todos queriam o pixuleco."
Pazuello também revelou uma suposta armação interna, no mês passado, dentro do próprio Ministério da Saúde para permitir a recomendação de medicamentos de eficácia não recomendada no combate à covid.
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"Esse grupo tentou empurrar uma pseudo nota técnica que nos colocaria em extrema vulnerabilidade, querendo dizer que aquele medicamento a, b, ou c a partir dali estava com critérios técnicos do ministério que não tinha".
A partir de então, o ex-ministro orientou auxiliares de sua confiança a desmontar o que classificou de "frentes de ataque" e já sabia que seria demitido.
"Fechou-se o cerco. Eu reuni todo mundo e disse: ‘Não vamos chegar ao dia 20 de março. Isso não pode virar surpresa, não podemos ser surpreendidos’, cada um saiu da minha sala com uma missão para tentar conter os pontos de ataque".
Ele diz que o ministério esperava outro cenário para a evolução da doença. "Ao final do ano, nós tínhamos uma perspectiva diferente em outubro, novembro. A perspectiva nossa era de que as curvas caminhassem".
O ex-ministro aproveitou a ocasião para fazer ao novo ministro. "Você vai levar tiro de dentro e de fora o tempo todo", disse. E acrescentou: "Atenda ao SUS, atenda aos estados, atenda aos municípios, não se renda às pressões políticas, porque a história vai te julgar".
O general diz que fez o melhor que pôde, saiu em defesa do SUS e pediu aos auxiliares que permaneçam em seus postos. "É uma ordem, ninguém vai debandar. É o Queiroga que decide. Estou passando o pacote completo".
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