Governadores criticam Bolsonaro e articulam 'pacto pela democracia'
Sugestão foi dada por Wellington Dias e corroborada por João Doria, opositores do governo federal, em reunião do Fórum, hoje
Christina Lemos|Christina Lemos
Reunidos virtualmente na manhã desta segunda-feira (23), no Palácio do Buriti, sede do governo do Distrito Federal, em Brasília, governadores e vice-governadores de quase todos os estados tratam de temas relacionados à defesa da democracia e das instituições, da reforma tributária e também de projetos para a proteção do meio ambiente. Os executivos avaliam criar um "pacto em defesa da democracia". A sugestão foi dada pelo governador do Piauí, Wellington Dias (PT), e corroborada por João Doria (PSDB). Ambos são opositores ao governo federal.
"Precisamos criar um ambiente de diálogo, de segurança, principalmente para os investidores, para atração de investimentos, nesse desafio de criar emprego e renda. E aqui a proposta é criar, junto com o pacto pela vida que foi criado lá atrás, um pacto em defesa pela democracia. Que possamos nós, Fórum dos Governadores, abrir diálogo com município, Câmara, Senado, STF, Executivo, empresários, trabalhadores, ter esse compromisso. De um lado com a democracia, o respeito à Constituição, e também as instituições e, com isso, possamos ter aí a criação de um ambiente de enfrentamento a este momento", disse o Dias.
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O tucano João Doria afirmou que o país "sofre uma ameaça constante à democracia. "Basta observar as manifestações de Jair Bolsonaro, que flerta com o autoritarismo constantemente. E muitos dos seus ministros endossam isso. Isso afronta os princípios da democracia. Cabe a nós, sim, seres políticos nos manifestar", afirmou. "Respeito a posição daqueles que entendem que o presidente pode estar certo ao fazer isso, mas quero deixar claro que eu vou defender a democracia, a Constituição e a suprema corte."
Doria fez esse comentário em resposta ao governador de Santa Catarina, Carlos Moisés (PSL), que sinalizou contrariedade ao pacto.
Bolsonaro afirmou nesta segunda-feira (23) que participará de dois atos a favor do governo federal no dia 7 de setembro, em Brasília e em São Paulo. "Eu estou sendo convidado para esses movimentos. No próximo dia 7 pretendo estar aqui na Esplanada dos Ministérios às 10h, e por volta das 15h30 na Avenida Paulista", afirmou em entrevista a uma rádio de Registro.
Doria classificou essas manifestações de "ruidosas" e colocam "em risco a democracia". "Caminhoneiros estão sendo organizados por milícias bolsonarias para fechar estradas, o estímulo nas redes sociais para que militantes saiam às ruas armados... isso não é defender a democracia. Não é o momento de silenciarmos."
O presidente afirmou que o povo tem "o direito de se manifestar". E declarou que a população busca o direito à liberdade de expressão e eleições justas, citando novamente as denúncias que apresentou sobre a suposta falta de segurança das urnas eletrônicas. O presidente voltou a criticar o ministro do STF e presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) Luís Roberto Barroso e disse que ainda vai brigar pela impressão dos votos.
Na última sexta-feira, o chefe do executivo federal protocolou no Senado o pedido de impeachment a outro ministro do Supremo, Alexandre de Moraes.
Doria também comentou o afastamento, hoje, do coronel da Polícia Militar, Aleksander Lacerda, por indisciplina. O oficial fez convocação na internet para as manifestações de 7 de setembro a favor de Bolsonaro e usou seu perfil em uma dessas redes para atacar políticos. Por meio das redes sociais, o chefe do Comando de Policiamento do Interior-7 (CPI-7), que tem 5 mil policiais sob comando, convocou "amigos" para o ato a favor de Bolsonaro.
"Foi afastado. Aqui não tem nenhum condescendência nem com policial militar nem com policial civil. Sendo do governo, se quiser emitir opiniões políticas que saia do governo e emita", disse. "Creiam, isso está acontecendo em São Paulo e pode acontecer nos seus estados. Fiquem atentos."
Outro opositor de Bolsonaro, o governador da Bahia, Rui Costa (PT), destacou também a crise econômica pela qual o Brasil passa. "Além de ameaçar a democracia, é uma tragédia pro emprego, pra renda, pros investimentos. É notória a repercussão deste comportamento do presidente nos investimentos externos do Brasil e o grande prejuízo que isso trouxe para a economia dos estados. Sem falar na sua postura autoritária e jogar no colo dos governadores os efeitos nefastos dessa política econômica federal", afirmou.
Presencialmente, no Palácio do Buriti, estão dois governadores -- Ibaneis Rocha (DF) e Wellington Dias (PI) -- e, de Rondônia, está o secretário-chefe da Casa Civil de Rondônia, José Gonçalves da Silva Júnior. Os outros governadores estão participando de forma virtual.
Também participam presencialmente, o vice-governador do DF, Paco Britto, o secretário de Comunicação do DF, Weligton Moraes, o secretário de Economia, André Clemente, o secretário de Meio Ambiente do DF, Sarney Filho, o presidente do INAS, Ney Ferraz.
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