Nem Lula, nem manifestantes ou apoiadores — o que as ausências dizem sobre julgamento no STF
Resultado previsível e costura política pós-julgamento tornam asséptico ambiente de julgamento histórico no Supremo
Christina Lemos|Do R7

A agenda do presidente Lula já sinalizava de véspera a ausência do petista: um compromisso a mais de 2,7 mil quilômetros de distância de Brasília, no dia D para seu principal adversário, Jair Bolsonaro. Em Manaus, Lula foi inaugurar um centro policial, mantendo a posição de governo de que o julgamento da ação penal do golpe é problema da Justiça.
Da Secretaria de Comunicação do Planalto partiu o comando: evitar a qualquer custo comentários sobre o andamento da ação penal. Ministros mantiveram a disciplina, com poucas exceções, com licença especial para Gleisi Hoffmann, que mantém o estilo combativo que marcou sua passagem pela presidência do PT.
No auditório da primeira turma do Supremo, — terceiro dia do julgamento e com a leitura do voto do relator, Alexandre de Moraes — pela primeira vez, um único apoiador político de Bolsonaro: o líder do PL na Câmara, Luciano Zucco. E outros 4 integrantes do governo, todos com marcada militância na Câmara: Jandira Feghali (PCdoB), Ivan Valente (PSOL), Talíria Petrone (PSOL), Rogério Correia (PT).
A menos de quinhentos metros de distância do STF, num dia de casa cheia no Congresso, ninguém mais se animou a percorrer a distância a pé de menos de 10 minutos para acompanhar o desfiar de argumentos do juiz que pode mandar Bolsonaro para a cadeia. Com claro pragmatismo político, aliados e opositores estão concentrados no pós-julgamento: a hipótese de anistia dos réus, uma vez que a condenação é dada como certa.
Também, ao contrário da rotina da Praça dos Três Poderes, nenhuma mobilização popular contra ou a favor da decisão em andamento no STF tomou o amplo espaço cercado de grades e de policiamento reforçado.
O ambiente do julgamento, no âmbito da primeira turma, acontece em inédito ambiente silencioso, controlado e asséptico, sem o alarido de manifestantes e os trompetes dos tempos do mensalão — rumorosíssimo julgamento que levou à prisão dezenas de petistas e aliados, em pleno primeiro mandato de Lula.
Um aviso impresso, depositado sobre as cadeiras do auditório da primeira Turma, alerta para a retirada imediata daquele que desobedecer regras como manifestação de apoio ou repúdio, como palmas e cartazes, ou como o uso indevido do celular.
Os ausentes estão livres, naturalmente, das restrições e assistem à transmissão ao vivo do julgamento por dezenas de canais de TV e internet. Quem quis estar fisicamente presente e ocupar uma das 80 cadeiras disponíveis acordou antes das 6h da manhã — preço que se paga por preferir o método obsoleto.
Até a sexta-feira, serpa dado o veredito sobre o destino dos 8 réus do núcleo crucial. Na segunda-feira seguinte, o julgamento passará a outro tribunal: o da opinião pública.
Fique por dentro das principais notícias do dia no Brasil e no mundo. Siga o canal do R7, o portal de notícias da Record, no WhatsApp
