Polarização e insegurança impõem fim do corpo a corpo com eleitores
Candidato petista é criticado por não sair às ruas e 'falar só para dentro'. Risco de segurança também limita exposição de Bolsonaro
Christina Lemos|Do R7
A 17 dias do primeiro turno, a campanha presidencial de 2022 será marcada pelo pouco contato direto com eleitores, imposto aos dois favoritos na disputa pelos rigores da segurança e pelo ambiente de polarização política. O corpo a corpo com eleitores, característico desta etapa, foi substituído por mais presença em mídias digitais e pela propaganda mais agressiva na TV e no rádio.
A menos de duas semanas da ida às urnas, a agenda pública do ex-presidente Lula (PT), primeiro colocado das pesquisas, encurtou e está mais fechada, com reuniões de articulação, entrevistas e falas voltadas para o próprio eleitorado — práticas de campanha diferentes das usuais nas últimas quatro vezes em que disputou a Presidência.
O temor de que o candidato seja alvo de agressões motivou restrições que aumentaram no decorrer da campanha. A exposição controlada leva em conta também a idade do ex-presidente, 76, e as condições de saúde — Lula já teve câncer na garganta. As situações de corpo a corpo com eleitores foram excluídas da agenda, que foca em obter resultados por meio da propaganda na TV e da comunicação digital.
A situação é explorada por adversários. O senador Flávio Bolsonaro (PL/RJ) é um dos críticos e ressalta que o candidato petista, na verdade, não teria "condições de sair às ruas".
Do lado bolsonarista, há maior exposição pública, mas o presidente, que busca a reeleição, também não arrisca eventos típicos da campanha de 2018, quando chegou a ser carregado por apoiadores em meio a multidões. Numa dessas ocasiões, no auge da campanha presidencial de primeiro turno, em Minas Gerais, Bolsonaro (PL) foi alvo de um atentado a faca.
Cercado de forte esquema de segurança como candidato e presidente, Bolsonaro se arrisca ao se expor em locais públicos, como na recente visita a um posto de gasolina em São Paulo para gravar vídeo de campanha sobre a queda no preço dos combustíveis. As caminhadas a pé com eleitores foram substituídas por motociatas — ocasiões que proporcionam imagens de efeito eleitoral e afastam os riscos do contato direto.
Entre os candidatos mais bem colocados nas pesquisas, mas ainda abaixo dos dois dígitos, Ciro Gomes (PDT) e Simone Tebet (MDB) têm maior nível de exposição pública. Eles aparecem com 7% e 5% de intenção de votos, respectivamente.
Não é possível estabelecer uma relação direta entre o novo formato de campanha e o nível de interesse do eleitor pela votação. A falta de comparecimento às urnas registrou em 2018 percentual superior a 20%, de acordo com dados do TSE.
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