Por que devemos deixar de usar o IMC como único critério para diagnosticar a obesidade
Somos mais do que números: entender a obesidade exige escuta, ciência e sensibilidade. E nunca, jamais, julgamento pelo corpo

Durante anos, a obesidade foi tratada como uma questão de força de vontade, como se tudo se resumisse a comer menos e se mexer mais. Mas essa ideia simplista não só ignora décadas de evidência científica como reforça o estigma e o sofrimento de milhões de pessoas.
Hoje sabemos, e a ciência faz questão de reforçar, que a obesidade é uma condição crônica, complexa, influenciada por muitos fatores. Genética, metabolismo, saúde mental, ambiente, acesso à informação, sono, uso de medicamentos, traumas e uma série de outras dimensões da vida influenciam o modo como o corpo acumula e regula gordura. E mais importante: essa condição não pode ser reduzida a um número na balança.
Um artigo recente publicado na revista The Lancet trouxe uma nova proposta para definir e diagnosticar a obesidade. Fruto do trabalho conjunto de pesquisadores e profissionais de vários países, o documento propõe que deixemos de usar o IMC como único critério.
A proposta é clara: o diagnóstico deve se basear na presença de disfunção do tecido adiposo e em como isso afeta a saúde da pessoa, seja do ponto de vista metabólico, mecânico ou psicossocial. Em outras palavras, o que define a obesidade não é o peso em si, mas sim o impacto que a gordura corporal tem sobre o bem-estar físico e emocional de cada indivíduo.
É uma mudança importante. Porque abre caminho para uma abordagem mais cuidadosa, mais individualizada, e que respeita a singularidade de cada corpo. Porque não há um único jeito de estar saudável, e não há uma única medida que possa dizer quem está doente.
Lembrei imediatamente do curta Carne, da Camila Kater, que tive a honra de acompanhar como paciente. O filme dá voz a cinco mulheres que compartilham suas experiências com seus corpos, com o julgamento alheio e com a violência cotidiana de não se encaixar em um padrão. É delicado, potente e necessário.
Carne nos lembra que ninguém deveria ser definido por sua aparência. Que o corpo não precisa se justificar. Que o cuidado em saúde começa com escuta e acolhimento, não com julgamento.
Obesidade não é preguiça. Não é desleixo. Não é falha de caráter. É uma condição de saúde que precisa ser compreendida com responsabilidade, empatia e ciência. Cada pessoa tem uma história, uma trajetória, um corpo único. E nenhuma dessas histórias cabe em um número.
✅Fique por dentro das principais notícias do dia no Brasil e no mundo. Siga o canal do R7, o portal de notícias da Record, no WhatsApp















