Bolsa bate recordes seguidos; qual é o impacto disso no seu bolso?
Sequência de valorização reflete a expectativa de redução dos juros nos Estados Unidos, além do otimismo com a economia brasileira
O principal índice da Bolsa de Valores de São Paulo bateu três recordes seguidos nesta semana, passando dos 136 mil pontos pela primeira vez em sua história. Nesta quarta-feira, o Ibovespa atingiu os 136.463,65 pontos. No mês, o índice já registra valorização de 6,90%, compensando o desempenho dos primeiros seis meses de 2024, com alta de 1,70% no ano.
Há dois meses, a bolsa havia chegado ao patamar mais baixo, com 119,1 mil pontos, e prejuízo de 11,21% no ano.
A virada reflete a expectativa de redução dos juros nos Estados Unidos, com aumento de investimentos em bolsa, repercutindo nos negócios, além do otimismo com as empresas e a economia brasileira.
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Dados recentes mostram que a atividade econômica americana está em plenas condições, afastando risco de recessão. Com isso, o Fed (Federal Reserve), banco central americano, deve iniciar em setembro corte de juros no país.
Quando os juros americanos caem, a tendência é que os investidores procurem mercados mais rentáveis, beneficiando países emergentes, como o Brasil, que tem taxas mais altas, o que aumenta o fluxo de capital e valoriza o real.
Além disso, o efeito americano acelera a atividade global, o que afeta os índices da economia brasileira e, com isso, o consumidor no dia a dia.
Mas qual é o impacto dos recordes seguidos da bolsa de valor no bolso do consumidor brasileiro? O economista Hugo Garbe, professor da Universidade Mackenzie, explica que os recordes seguidos do Ibovespa não têm um impacto a curto prazo para quem não é investidor da bolsa. Mas, a longo prazo, a melhora dos índices da economia pode ser sentida pelos brasileiros.
Se a pessoa não está investindo na bolsa, no curto prazo, não tem nenhum impacto. No longo prazo, com uma bolsa de valores mais forte, as empresas podem captar dinheiro, fazer mais investimentos e gerar mais postos de trabalho. Daí tem um impacto direto mesmo se a pessoa não é investidora.
Segundo Claudia Moreno, economista do C6 Bank, o efeito da alta da bolsa é positivo, mas não tem um impacto direto na economia brasileira como tem nos Estados Unidos.
“Primeiro, é importante dizer sobre o efeito riqueza que acontece nos Estados Unidos, quando tem uma alta dos índices de bolsa. Como muita gente investe em bolsa lá, o portfólio é valorizado e as pessoas se sentem mais ricas. E isso tem um impacto maior na economia”, avalia a economista.
Como no Brasil o investimento em bolsa é menor, esse efeito não existe aqui. “De qualquer forma, quando você tem uma alta nos índices da bolsa, isso também é um sinal que as coisas estão indo bem, que as empresas estão valorizadas. É uma sinalização de que os empresários podem investir mais, fazer uma expansão na economia e, eventualmente, a economia cresce mais. Consequentemente, isso tem um efeito positivo no mercado de trabalho e é bom para as pessoas”, acrescenta Moreno.
Cenário otimista
Dados da economia brasileira trouxeram otimismo ao mercado. A projeção de crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) para este ano passou de 2,20% para 2,23% no último relatório Focus, do Banco Central, divulgado na segunda-feira. A taxa de desemprego do trimestre encerrado em junho, de 6,9%, é a menor para esse período desde 2014, quando também ficou em 6,9%.
Para quem ficou animado e pretende começar a investir na bolsa, é preciso cuidado. Miguel José Ribeiro de Oliveira, diretor-executivo de estudos e pesquisas da Anefac (entidade que reúne executivos de finanças e economia), afirma que essa sequência de recordes beneficiou quem aplicou nas ações que valorizaram na bolsa.
“Mas é na média das ações. Naturalmente, a pessoa pode ter comprado uma ação que passou a valer menos. Muita gente ganhou dinheiro, muita gente perdeu também, mesmo com essa alta, e muita gente que acabou saindo porque a bolsa vinha dando prejuízo não recuperou esse investimento”, afirma Oliveira. “Aqueles que eventualmente aplicaram nas ações que valorizaram ganharam um patrimônio maior, dependendo do volume que eles tinham.”
Para ele, isso não é sinônimo que esse cenário de valorização vá permanecer. “Como temos muitas incertezas pela frente, no Brasil, com inflação e o Banco Central que pode ou não subir juros, o que pode afetar as empresas, além das questões globais, como as eleições nos Estados Unidos, a guerra no Oriente Médio, Irã e Israel, Rússia e Ucrânia, tudo isso pode impactar no preço das ações”, avalia.
A orientação é, antes de entrar na bolsa, avaliar se a pessoa aceita a correr risco. “Já que a aplicação em bolsa é de risco, porque você pode aplicar R$ 1.000 e amanhã valer R$ 500, R$ 200 ou R$ 100. Você não tem garantia, diferentemente de um fundo de renda fixa atrelado a juros, como Selic, por exemplo, em que o rendimento é sempre para cima, nunca tem perda”, diz Oliveira.
Ele explica que, no caso da bolsa, a pessoa tem que estar propensa a assumir o risco. “Normalmente é para o grande investidor que já sabe lidar com isso, já aceita os riscos, perde em um dia e ganha no outro. Agora, o pequeno investidor, muitas vezes se aventura com essa notícia que a bolsa bateu recorde. Tira o dinheiro que está numa poupança rendendo e vai para bolsa. De repente, a bolsa cai e ele perde o dinheiro”, alerta o diretor-executivo de estudos e pesquisas da Anefac.
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