EUA X China: consumidor brasileiro pode pagar a conta
Disputa comercial entre as duas maiores economias do mundo pode prejudicar a economia brasileira e a longo prazo piorar o desemprego
Economia em cinco minutos|Karla Dunder, do R7
Existe uma verdadeira guerra comercial entre Estados Unidos e China? Qual o impacto dessa disputa para o Brasil? Essa briga pode refletir no seu bolso? O Economia em 5 Minutos ouviu especialistas para responder a essas perguntas.
Primeiro é preciso entender o que está em jogo.
A disputa entre EUA e China:
As duas maiores economias do mundo travam uma disputa que pode vir a se torna a maior guerra comercial das duas últimas décadas.
Com o lema “America first” (América primeiro), Donald Trump assumiu a presidência dos Estados Unidos com um discurso de proteção à indústria americana.
Com base nessa política protecionista, o governo americano acusa a China de se apropriar de propriedade intelectual e tecnologia. O que seria feito da seguinte maneira: empresas chinesas, controladas pelo governo chinês, compram parte de empresas americanas para ter acesso às informações e modo de produção para, então, reproduzir.
Em março, Trump declarou que aumentaria as taxas para a importação de aço e alumínio argumentando que assim favoreceria a produção local. Também seria uma medida de segurança, evitando que o país se tornasse dependente da importação da matéria-prima.
No início de junho, o governo norte-americano anunciou impor tarifas de 25% sobre um montante de US$ 50 bilhões de produtos chineses. A partir do dia 6 de julho as medidas protecionistas de Trump vão afetar inicialmente mais de 800 produtos. Um segundo lote de quase 300 produtos virá em seguida, e os EUA prometeram aumentar essa lista caso a China venha a retaliar essa medida.
A China, por sua vez, diz que não tem interesse em uma guerra comercial, mas “não vê escolha”. Impôs tarifas de 25% sobre 128 produtos dos EUA, como soja, carros, aviões, carne e produtos químicos.
É uma guerra comercial?
Para o professor especialista em países asiáticos da FEA-USP Gilmar Masiero é um exagero falar em guerra comercial neste momento. “O que temos, ainda, são ameaças, mas creio que Trump não fará algo tão radical porque prejudicará as empresas americanas que estão na China e ele não tem tanta força contra os empresários”.
Mesmo que no campo da ameaça, os investidores não gostaram nada e o reflexo veio na queda das bolsas de valores de todo o mundo.
“Até o jornal Finantial Times publicou um artigo sobre isso. Não é uma resposta simples, sem dúvida, mas é preciso observar que uma disputa entre essas as maiores economias mundiais com certeza afetará outros países em um efeito dominó negativo”, avalia Thomaz Zanotto, diretor titular do Departamento de Relações Internacionais e Comércio Exterior (Derex) da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo).
Para Zanotto, a União Européia é o primeiro mercado a aumentar as taxas. “Com a redução de mercado nos Estados Unidos, o bloco precisa também fechar suas portas para que não haja uma inundação de produtos estrangeiros, o que prejudicaria sua economia”.
As sobretaxas no aço e no alumínio acertaram em cheio setores estratégicos da economia do Japão, Europa e dos países do Nafta — bloco formado por Canadá, México e Estados Unidos. A tensão aumentou após decisão dos Estados Unidos de suspender a isenção da UE e do Nafta à cobrança das tarifas desses produtos. Em resposta, a Europa impôs tarifas a artigos americanos e anunciou impostos de 25% a uma lista que foi submetida à OMC (Organização Mundial do Comércio).
“É claro que todos os blocos vão elevar as tarifas, os produtos ficarão mais caros para o consumidor”, explica o professor da Fundação Getúlio Vargas, Hsia Hua Sheng. “Com a pressão inflacionária, os governos tendem a elevar a taxa de juros, o que na prática aumenta, entre outros, o custo de empréstimos para a indústria e consumidor, por exemplo”.
Qual o impacto para o Brasil?
O Instituto Internacional de Finanças (IFF) alertou que essa tensão entre Estados Unidos e China pode afetar diretamente os países emergentes, como o Brasil. Segundo o IFF, os países terão maior dificuldade para exportar e também aponta uma possível desvalorização das moedas locais frente ao dólar.
“Os investidores tendem a tirar dinheiro aplicado dos países emergentes e investir nos Estados Unidos, onde a taxa é maior, o que eleva o preço do dólar no Brasil, pode aumentar a pressão inflacionária e o preço dos produtos importados”, explica o professor Sheng. “Essa briga prejudica e muito a economia brasileira”.
Com relação a venda de aço, o Brasil deve diminuir entre 7% e 10% o volume a ser exportado. “As restrições atingiram praticamente todos os países, não somente a China”, observa Zanotto. “Tivemos uma pequena melhora da economia brasileira e um pequeno aumento de aço no mercado interno principalmente para a indústria automobilística e para linha branca”.
Para Zanotto no curto prazo o Brasil tem se beneficiado com a venda de soja para a China. “Mas é um produto específico, a longo prazo o desemprego pode aumentar. Essa guerra comercial não interessa a ninguém, todos saem perdendo”.
Os textos aqui publicados não refletem necessariamente a opinião do Grupo Record.